Por todos os cantos, do monopólio de imprensa aos falsos democratas e intelectuais covardes, bravejam que a luta justa do povo palestino contra a força opressiva dos sionistas é uma luta de terroristas contra a “única democracia no Oriente Médio”. Ou que a solução para resolver este conflito necessita de boa vontade de ambas as partes, como se o direito sagrado da autodeterminação dos povos fosse algo negociável em reuniões infindáveis na ONU (no caso palestino, em Washington como foram os vergonhosos e capitulacionistas “Acordos de Oslo”) sob risco de serem taxados de terroristas caso recusem a via “pacífica”.
Ora, quem não foi taxado de terrorista lutando contra a política de extermínio da polícia militar nas favelas e periferias do Brasil em 2013, no Chile, e em tantos movimentos de libertação nacional como na Argélia e no Iraque?
Esta é uma das tarefas do imperialismo: apontar aos que lutam a acusação de serem o que eles são de fato. É tarefa de todos os democratas e intelectuais honestos defenderem veementemente a resistência armada do povo palestino e saudar o exemplo dado aos povos oprimidos do mundo.
Não poderíamos defender meia Argélia, meia Indochina, meio Iraque e não é possível defender meia Palestina, pois são deles todas aquelas terras. E não cabe ao imperialismo ianque nem a corja nazista sionista decidir os limites da luta justa de um povo por sua libertação.
A criação do Movimento Sionista
É parte da narrativa da grande imprensa ligada aos interesses de Israel a ideia de que qualquer que sejam as críticas ligadas à política de extermínio e apartheid do estado sionista é antissemitismo. Isto cumpre um papel que historicamente o movimento sionista e a Organização Sionista Mundial (OSM) vêm desempenhado desde a década de 1930 que se aprofunda após 1945.
O movimento sionista surge no fim do século XIX na Rússia. Neste país, onde durante anos os judeus foram perseguidos e assassinados, em 1882 um ativista da causa judaica escreve o que seria o primeiro apelo “nacionalista” aos judeus em seu panfleto “Autoemancipação: um apelo de um judeu russo ao seu povo”, divulgado após um “pogrom” em sua cidade. Ele propôs que a elite judaica do mundo todo comandasse um diretório para estabelecer um lar seguro aos judeus.
Cerca de uma década mais tarde, em 1896, é publicado o livro “Judenstaat” (O Estado judeu) pelo jornalista Theodor Herzl, fundador do sionismo político. No livro é posto as aspirações de criar um “lar nacional para os judeus”. Curiosamente nenhum lugar citado pelo autor pertencia à países da Europa, onde a maioria dos judeus viviam no mundo, mas lugares distantes, onde fosse possível conseguir apoio da grande burguesia judaica dos países da Europa.
Um ano após a publicação do livro, é organizado o primeiro congresso sionista na Basiléia (Suíça), onde Herzl foi eleito o primeiro presidente da Organização Sionista Mundial e foi nesse congresso onde se decidiu por construir um “lar” (leia-se Estado) judeu na Palestina.
A partir daí se repetiu como um mantra a ideia de que a Palestina era “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Vale destacar que o processo de criação e consolidação do movimento sionista que objetivava colonizar a Palestina, foi desenvolvido na Europa que acabara de entrar em um processo de colonização de países africanos, política fruto da crise imperialista que teria seu desfecho na primeira guerra interimperialista.
Em 1901 foi criado o Fundo Nacional Judaico tendo como presidente Theodor Herzl. O objetivo da organização era centralizar as doações destinadas às compras de terras palestinas para início do processo de colonização. Pouco tempo depois foi oferecido a Península do Sinai (Egito) e uma parte da Uganda para satisfazer os interesses sionistas, ambos foram recusados e em 1905 no sétimo congresso sionista ficou definido que o objetivo central dos sionistas era a Palestina, que ganhou seu alvará com a “Declaração de Balfour” em 1917¹1.
O papel do sionismo enquanto política de colonização do território palestino teve como tarefas:
- 1- a criação da uma identidade nacional judaica mesmo que de forma artificial, que desse conta de unir franceses, alemães, russos, ingleses, etc. praticantes do judaísmo, em “judeus”, não como uma comunidade religiosa, mas atribuir a essa comunidade um caráter étnico;
- 2- iniciar o processo de colonização da Palestina, que só foi possível de forma massiva a partir dos anos 30 com a perseguição do governo nazista aos judeu;
- 3- associar, de forma onímoda, o movimento sionista e todos os judeus do mundo, de forma a ligar cada judeu à política de colonização da Palestina. Assim é tratado pelo monopólio da mídia até os dias atuais para que se associe à crítica ao sionismo, ao antissemitismo.
Os acordos interimperialistas entre França e Inglaterra
A Palestina até 1918 era dominada pelo Império Otomano, que dominou a região que hoje se estende da atual Tunísia até partes do leste da Europa. O império se esfacelou após a derrota na primeira guerra mundial. A Grã Bretanha, com apoio dos árabes que desejavam uma pátria árabe sem domínio dos otomanos, derrotou o Império Otomano.
Porém, ao mesmo tempo em que prometia uma Grande Arábia aos povos que lutaram contra os Otomanos, o imperialismo inglês traía o povo árabe no tratado Sykes-Picot (1916), assinado pelas duas potências imperialistas França e Grã Bretanha, que tinham como objetivo a partilha colonial do Oriente Médio como conhecemos hoje (com fronteiras artificiais, e a invenção do Iraque, Síria e posteriormente o Líbano). Na divisão entre os dois países imperialistas (França e Grã Bretanha), a Palestina passou a ser colônia da Inglaterra. O Império Russo fez parte do acordo, e após a Grande Revolução Socialista de Outubro (GRSO) de 1917, Lênin retirou a Rússia soviética dos acordos.
A Palestina passou por um longo processo de migração de judeus vindos de diversos países, principalmente Rússia devido à perseguição sistemática sofrida com os “pogroms”, mas também de outros países como Polônia e os Estados Unidos. Logo após a colonização britânica, de 1920 a 1929, cerca de 100.000 imigrantes judeus vindos de países principalmente da Europa foram para a Palestina. Em 1919 contavam-se com 65 mil judeus, palestinos ou não, em um total de 648 mil habitantes da Palestina e em 1939 (no ano que começou a Segunda Guerra Mundial) os judeus eram 445 mil num total de 1.500.000 de habitantes, número que só foi crescendo ao decorrer da guerra até chegar aos 608 mil judeus de 1.850.000 de habitantes aproximadamente em 1946 após o Holocausto.
A Organização Sionista Mundial (OSM) precisava de território, governo e população para concretizarem seu plano de fundar um Estado judeu, e o mandato britânico tornou possível um governo sionista em terras palestinas. Durante o controle do imperialismo inglês, entre 1922 e 1948, os poderes executivos e legislativos foram controlados pelo Alto Comissário. E aos palestinos foi negado qualquer direito à administração das próprias terras, porém os judeus participavam de todo processo de organização e administração, o mandato acabou em 1948, e em seguida foi fundado na Palestina, Israel.
As contradições entre o sionismo e a Palestina
Durante o período de ocupação do imperialismo inglês e da massiva imigração de judeus à Palestina, na medida em que milícias sionistas e o exército britânico reprimia os palestinos, estes responderam a altura durante os anos 20 e 30 em pelo menos três principais momentos.
Primeiro, os motins durante o festival muçulmano conhecido como Nebi Musa entre 4 e 7 de abril de 1920 na cidade antiga de Jerusalém. Ali foi onde centenas de Palestinos se manifestaram contra a ocupação britânica e contra os judeus que imigraram em massa a partir do fim da primeira guerra.
Em 1929 se inicia o processo conhecido como os “tumultos palestinos de 1929”, que resultou no massacre de Hebron e agudizou a contradição entre palestinos árabes e judeus europeus que aos poucos iam para a Palestina, neste mesmo ano se fundou a Agência Judaica que cumpriria função de governo sionista na Palestina.
Em 1936 começa uma nova onda de insurreições na Palestina que só terminaria em 1939. O que começou com uma enorme greve geral de 6 meses, se tornou no final do mesmo ano uma luta armada contra a colonização britânica e contra os sionistas, exigindo o fim da ocupação e o fim da venda das terras árabes aos colonos sionistas. Em resposta, estes últimos promoveram massacres e atos de terrorismo contra a população civil palestina, principalmente contra camponeses.
A resistência palestina que no início de 1936 era liderada por uma parte da média e setores da pequena burguesia palestina, que logo exigiu o fim da greve e da luta armada, foi ao longo dos meses sendo dirigida por lideranças camponesas que começaram processo de guerrilha. A heróica resistência dos palestinos durante esses quatro anos forçou os colonos ingleses a mandar metade dos efetivos do exército britânico para acabar com a luta armada palestina.
Para acabar com a insurreição a Inglaterra mandou tanques de guerra, navios, e todo tipo de artilharia para ocupar todo território palestino até o fim de 1949. Os colonos protagonizaram massacres e uma brutal repressão que matou aproximadamente 20 mil palestinos.
O ‘’livro branco’’ e a tentativa de barrar a resistência palestina
Em 1939 temendo a novos levantes palestinos, a Inglaterra, através de uma Comissão Real, recomendou a partilha da Palestina como solução para a crise instaurada desde a Declaração de Balfour.
O “Livro Branco”, como ficou conhecido, tentava não apenas pôr fim à resistência dos Palestinos em relação aos britânicos, mas de ganhar apoio da comunidade árabe de todo Oriente Médio tendo em vista a iminência da Segunda Guerra Mundial. No novo documento, a Grã Bretanha passou a adotar a política de “levar em conta o desejo da maioria árabe” e pautou sua nova política na Palestina se comprometendo a criar um Estado palestino em um prazo de 10 anos, ou seja, em 1949. Além disso, constava uma medida de limitação da imigração judaica até que chegassem à 1/3 da população geral e que constava que não seria permitido a imigração de judeus sem o consentimento dos árabes palestinos e a responsabilidade da representação política palestina de regulamentar e proibir compra de terras árabes pelos sionistas. Promessas essas nunca cumpridas pelos imperialistas.
Nazismo e Sionismo, duas faces da mesma moeda… literalmente
Não são infundadas as acusações de que Israel atua com sua política segregacionista e genocida contra os árabes palestinos da mesma forma como Hitler e os nazistas fizeram com a comunidade judaica. E essa semelhança vem sem dúvidas do fato de que este Estado sionista criado em terras palestinas tem sangue nas mãos não só dos palestinos, mas de judeus pobres que viviam na Alemanha.
É amplamente documentado (e não foi segredo) que durante a década de 1930 procedeu-se uma profunda relação do movimento sionista, em particular da Organização Sionista Mundial (OSM) e da Agência Judaica na Palestina, com o partido Nazista na Alemanha. Hannah Arendt aponta que “naquele tempo era um fato da vida corrente que só os sionistas tinham possibilidade de negociar com as autoridades alemãs, pela simples razão de que a sua principal rival, a Associação Central dos Cidadãos Alemães de Confissão Judaica (Central-Verein deutscher Staatsbürger jüdischen Glaubens), à qual pertenciam então noventa e cinco por cento dos membros de organizações judaicas na Alemanha, especificava nos estatutos que o seu primeiro objetivo era a ‘luta contra o anti-semitismo’”, e logo no início do governo nazista a organização foi criminalizada.
A organização sionista alemã via com bons olhos o antissemitismo nazista e a OSM contribuiu para o segregacionismo judeu na Alemanha, inclusive pregando que os judeus deveriam eles próprios se desvincular de sua nacionalidade alemã.
Victor Klemperer, professor universitário famoso por seu diário escrito durante os anos de perseguição do governo nazista declarou em seu diário: “Existe uma única solução para a questão judaica na Alemanha e na Europa ocidental: a derrota daqueles que a inventaram. […] A causa sionista, tanto a pura como a religiosa, interessa apenas a fanáticos e não diz respeito à maioria’’. E mais tarde por volta do ano de 1941: “Hitler é o mais importante promotor do sionismo”.
Antes do início sistemático do extermínio da comunidade judaica, a direção nazista manteve duas políticas paralelas: a primeira consistia na retirada progressiva dos direito dos judeus, do roubo de seus bens materiais e do envio para os campos de concentração; a segunda era estimular a migração de judeus para o território palestino em colaboração com os sionistas.
A Agência Judaica na Palestina destacou dirigentes para manter visitas regulares aos campos de concentração, com permissão da SS (Schutzstaffel, a polícia política dos nazistas), para selecionar os judeus com interesse a ir para a Palestina, priorizando os homens mais jovens e os mais ricos. De acordo com Hannah Arendt “a maioria dos judeus, que não havia sido selecionada, ficou inevitavelmente confrontada com dois inimigos: as autoridades nazis e as autoridades judaicas”.
Em 1933, ainda no início do governo nazista, Von Mildenstein, responsável da SS pelo setor que cuidava da “questão judaica” foi até a Palestina a convite da OSM visitar territórios colonizados e tratar da questão da migração judaica para a Palestina. Em comemoração ao ocorrido foi produzido uma medalha com a suástica de um lado e a estrela de Davi do outro onde se lê “uma viagem nazista à Palestina”.
Quatro anos depois uma nova visita foi organizada dessa vez no Egito entre a autoridade sionista e Adolf Eichmann, novo encarregado dos assuntos judaicos da SS. Em agradecimento ao apoio nazista à causa sionista, foi fornecido informações a respeito da atuação dos comunistas na Alemanha.
Ainda durante a guerra a relação entre os sionistas e os nazistas não se alterou de forma drástica, embora o objetivo das hordas nazistas fosse exterminar todo judeu da Europa. Houveram aqueles entre os judeus que assumiram a tarefa da capitulação da luta contra a ocupação nazista principalmente na Polônia, e também dentro da própria Alemanha, e coube aos sionistas esse papel infame.
Logo no início do governo nazista os sionistas se encarregaram de corporativizar toda organização independente das comunidades judaicas e torna-las uma só. Em 1939, a Gestapo assume o controle da organização e passa a ter todo aparato burocrático, mais tarde muito útil para realizar o genocídio contra os judeus. No mesmo ano, o governo nazista ordenou que fossem organizados conselhos judaicos, cuja direção passou a cada vez mais deter o controle sobre a vida dos judeus aprisionados. Estes conselhos passaram a se responsabilizar pelo trabalho de distribuir as estrelas obrigatórias que marcaram os judeus, de selecionar os que iam para o trabalho forçado, os que iam para os trens em direção aos campos de concentração e também de organizar os bens que seriam roubados pelos nazistas. Este conselho mantinha o controle de uma polícia judaica responsável pelo papel de repressão aos judeus. Mais tarde, no Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, os primeiros alvos foram os colaboracionistas e a polícia judaica organizadas em última instância pelos sionistas.
O acordo Haavara
Houve de 1933 à 1939 um acordo econômico entre os sionistas e o partido nazista para deportar judeus para a Palestina. Isto é dito pelos sionistas até hoje como uma forma de retirar parte dos judeus da Alemanha, mas a verdade é que este acordo conhecido como Acordo Haavara (transferência), que tinha como pano de fundo o financiamento da colonização da Palestina com a compra de terras e o armamento das milícias sionistas que atuavam na Palestina. Por outro lado, serviu como forma de movimentar parte expressiva da economia alemã que a época sofria com boicote massivo de organizações e comunidades judaicas do mundo todo.
Resumidamente, um judeu poderia comprar matérias primas e ganhar o direito a ir para a Palestina sob organização da Agencia Judaica. Esses produtos eram vendidos por um preço altíssimo dentro da Alemanha, a Agência Judaica comprava esses produtos exportados para a Palestina e, chegando na Palestina, o colono recebia em libras (moeda inglesa). Dessa forma, o movimento sionista impedia o estrangulamento da economiza nazista que sofria com boicote, e ao mesmo tempo financiava o movimento sionista dentro da Palestina, aplicando este capital no setor têxtil, metalúrgico, em indústrias quimicas e de instrumentos agrícolas.
Este acordo possibilitou o processo do início da infraestrutura do que viria a ser poucos anos depois parte do Estado fascista de Israel.
A Nakba
Em 15 de maio de 1948, com o fim do mandato britânico na região, é anunciada a independência do Estado fascista de Israel em terras palestinas, e logo nos primeiros minutos do anúncio de sua colonização, os ianques (Estados Unidos) declararam seu apoio e reconhecimento. O anúncio foi recebido pelos recém criados países árabes vizinhos à Palestina com ataques do Egito, Jordânia, Iraque e Síria no que ficou conhecido como primeira guerra árabe-israelense.
Neste processo, os sionistas ocuparam o máximo de territórios palestinos, além de cometerem diversos massacres como já haviam feito no massacre de Deir Yassin no mês anterior. Centenas de palestinos, incluindo crianças e idosos, foram mortos por milícias fascistas como o Haganah, inspirada e orientada diretamente por Mussolini, que operou durante anos no território ocupado da Palestina até se conformar como parte das forças armadas israelenses.
Ainda neste processo, cerca de 800 mil palestinos tiveram que se refugiar nos países vizinhos e ao redor do mundo sem direito a retorno. O Estado de Israel destruiu casas e vilarejos inteiros ocupando todo território palestino restando apenas a Cisjorânia e a Faixa de Gaza.
Al Nakba, que se traduz como “catástrofe”, foi e segue sendo também um marco de luta das massas palestinas que todo dia 15 de maio desde 1948 se levantam em fúria com molotovs, paus, pedras e fundas na mão contra o inimigo sionista que tem pés de barro e demonstra sua fraqueza cada vez mais em cada dia nos últimos 75 anos em que não conseguem derrotar a justa resistência do povo palestino.
Bibliografia:
Hannah Arendt – Eichmann em Jerusalém.
João Bernardo – De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo.
João Quartim de Moraes – As conexões do sionismo com o colonialismo, o fascismo e o racismo.
Shlomo Sand – A invenção da terra de Israel
A invenção do povo judeu
Aura Rejane Gomes – A questão Palestina e a fundação de Israel
Norman G. Finkelstein – A indústria do Holocausto
Ilan Pappe – Mitos e propaganda Israelenses (youtube)
Al Mayadeen Espanõl – Conflictos: Haavara, el pacto secreto entre nazis y sionistas (Youtube)
Fonte: Jornal A Nova Democracia.