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sexta-feira, 24 de novembro de 2023

 

Ghassan Kanafani e a literatura da resistência palestina* 



Reproduzimos a seguir artigo publicado no Jornal A Nova Democracia



autor: 

Nota da Redação: Reproduzimos abaixo um artigo publicado pelo escritor Igor Mendes no blog de literatura Homo Literatus, sobre o literato e jornalista palestino Ghassan Kanafani.

    Ali onde há muita luta costuma haver também muita criatividade. Não só artística: em situações de grandes privações, ou desafios, que costumam acompanhar dramáticas viragens históricas, a própria sobrevivência (seja natural, seja política) implica a necessidade de encontrar soluções inéditas para os excepcionais problemas colocados na ordem do dia. Daí, que as revoluções sejam marcadas pela criação de novas instituições jamais vistas; pela circulação de ideias até então restritas a círculos diminutos; pela invenção de novas técnicas; por uma efervescência estética —que costuma aparecer primeiro na poesia, já que aos combatentes de todas as épocas ocorre a tendência ao testemunho na forma de versos — em larga escala. Nem tudo o que surge nesses instantes sobrevive às fases vindouras, cheias de reveses e vicissitudes, nas quais costumam-se depurar das obras que são meros panfletos (que mantêm, todavia, valor como documento histórico) as que atingiram um alcance digno de ser considerado universal. Mas as fontes persistem as mesmas, apenas interpostas por novas camadas de mediação: elas são o pulsar incessante da história, o “espírito do tempo”, para usar a velha (e profunda) expressão hegeliana.

Como o tempo é feito por pessoas de carne e osso, e, afinal, não há pensamento cuja sede não esteja em um corpo, aquele espírito costuma se identificar com autores e obras singulares, que ao mesmo tempo refletem o que há de espontâneo nos acontecimentos e lhes dão um sentido coeso. O que Tchernichevski representou para a jovem geração de intelectuais que revolucionariam a Rússia até os seus alicerces, ou, antes, Diderot para as revoluções francesa, americana e haitiana, ou, depois, Fanon para a luta anticolonial argelina (poder-se-ia dizer: para a luta anticolonial em geral), Ghassan Kanafani representou —e representa — para o drama palestino. Este teve, no último dia 7 de outubro, um novo capítulo, que não será de maneira alguma o derradeiro, apesar de todo o genocídio que busca infligir a esse povo desterrado (mas de modo algum desenraizado) um castigo coletivo pela ousadia de levantar-se e, mais que isso, uma reedição da solução final nazista, perante os olhos estarrecidos, quando não cúmplices, do “civilizado” mundo ocidental. Muito civilizado, claro…

Kanafani foi ao mesmo tempo autor e personagem da Nakba (termo árabe que significa “catástrofe”, como os palestinos costumam designar a expropriação brutal das suas terras, para a criação do atual Estado de Israel, a partir de 1948) que descreveu. Nascido em Acre, norte da Palestina, em 1936, ele cresceu em meio à luta contra a ocupação britânica e a Segunda Guerra Mundial. Em 1948, foi expulso de suas terras e se exilou com a família no Líbano e, depois, na Síria. O tema do exílio, crucial na vida de todos os palestinos, encontra em sua obra vívidas e pungentes reflexões, como no conto “O gato”, em que narra um animal ferido que se arrasta por um longo caminho só para morrer à beira do chafariz que lhe é familiar. Noutro conto, “A proteção”, em que relata a relação de uma mãe com o seu filho à caminho da guerrilha, narra: “Percebi que ela havia dito ‘ele vai voltar’ e não ‘ele vai partir’. Mas ela não havia aprendido que o exílio criava seu próprio vocabulário e acabava por enfiar-se na vida cotidiana como o arado entra na terra”. De fato, neste contexto, “partir” para atrás das perigosas linhas inimigas, isto é, o território ocupado, é ao mesmo tempo “voltar” para o próprio lar. A sina dos desterrados é mesmo esta: o caminhar contínuo, como vemos neste trecho de “Homens ao sol”, seu romance mais aclamado, em que três palestinos buscam atravessar o deserto iraquiano, escaldante, inóspito, potencialmente mortal, para chegar ao Kuwait, onde pretendem juntar dinheiro para ter com que alimentar suas famílias:

“Quer saber? Eu comparo estes cento e cinquenta quilômetros à senda prometida por Deus às criaturas, que a percorreriam antes de serem direcionadas ao paraíso ou ao inferno. Se alguém cair, vai para o inferno, e, se atravessar com segurança, chega ao paraíso. Quanto aos anjos… aqui seriam os guardas da fronteira”11

Paraíso e inferno não são distantes, mas uma fina linha tênue, traçada ao longo de uma estrada. Mas, no caso dos exilados, não importa o quanto andem: a terra natal sempre estará dentro deles. De algum modo, eles são a própria terra, que preserva neles a consciência de si mesma. É o que se lê logo no primeiro parágrafo, notável, do mesmo romance: 

“Abu Qais repousou o peito no solo orvalhado e a terra começou a pulsar debaixo dele, com batimentos de um coração cansado que faziam tremer cada grão de areia e penetravam as células de seu corpo. Desde a primeira vez, sempre que ele se atirava de peito na terra sentia aquela pulsação, como se o coração da terra forçasse sua difícil passagem até a luz desde as profundezas do inferno. Certa ocasião, ele disse isso ao vizinho com quem compartilhava a colheita na terra que deixara havia dez anos, e o homem respondeu zombando: ‘É o som do seu coração. Você o escuta quando encosta o peito no chão’. Que tolice perversa! E o cheiro? Aquele que, toda vez que ele sente, ondula na fronte antes de jorrar delirante nas suas veias. Sempre que ele inalava o cheiro da terra, deitado no chão, imaginava o cheiro do cabelo de sua mulher ao sair do banho, depois de lavar a cabeça com água fria. O mesmo cheiro… uma mulher que acabou de se banhar com água fria e lhe cobre o rosto com o cabelo ainda molhado. A mesma palpitação… como se carregasse ternamente um pequeno pássaro entre as mãos.”2

Kanafani dizia que política e literatura são coisas inseparáveis. E vemos pela sua pena a confirmação disso: se uma obra assumidamente engajada é débil, não é por excesso de posicionamento, mas por carência de cultivo estético. Pode-se ser mais político e mais artístico, afinal, o que não é político neste mundo em que até as plantas e os bichos se humanizam? No fim das contas, falar em uma categoria separada intitulada “Literatura Política” é um pleonasmo ou uma mistificação: basta falar, e fazer, “Literatura”.

De toda sorte, Ghassan Kanafani não se contentou em narrar a história que transcorria diante dos seus olhos. Após lecionar como professor num campo de refugiados palestinos no Kuwait, aderiu ao marxismo-leninismo e tomou parte na fundação da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Tornou-se editor de sua revista semanal, al-Hadaf ( “O alvo”), e também porta-voz da organização. Foi, portanto, um militante revolucionário, secular, da causa palestina, que não é nem principal e nem inerentemente religiosa, como querem os imperialistas e sua doutrina de “choque de civilizações”. Em 8 de julho 1972, ao girar a chave no carro em que estava com sua sobrinha, em Beirute, capital do Líbano, foi assassinado aos trinta e seis anos por uma explosão: o Mossad, serviço secreto israelense, reivindicou o atentado. Com razão, disse-se de Kanafani que escreveu a história palestina, depois foi escrito por ela. Desaparecido o autor, persiste todavia a sua obra, bem como as suas legítimas, prementes, genuínas motivações, infensas a infames algozes.


*Este texto é dedicado à memória da jovem e talentosa escritora palestina Heba Abu Nada, morta aos 32 anos, no último dia 20 de outubro, durante os criminosos bombardeios das Forças de Defesa de Israel, com apoio dos Estados Unidos, à Faixa de Gaza. Na sua última publicação, escreveu, sobre os acontecimentos que a vitimariam: “A noite na cidade é sombria, exceto pelo brilho dos mísseis; silenciosa, exceto pelo som do bombardeio; aterrorizante, exceto pela promessa tranquilizadora da oração; escura, exceto pela luz dos mártires. Boa noite”. 

Notas:

  1. Ghassan Kanafani, “Homens ao sol”, editora Tabla, p.63. A editora Tabla tem feito um belo trabalho de tradução e publicação de literatura árabe em geral e palestina em particular.  ↩︎
  2. Idem, p. 9 ↩︎

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023


Movimento Feminino Popular exorta apoio à causa Palestina; leia nota


Fonte: Jornal A Nova Democracia.

Em seu blog, o Movimento Feminino Popular (MFP), organização de mulheres revolucionária do País, fez um pronunciamento em nota no qual tomou posição em solidariedade e apoio irrestrito à causa do povo palestino.


A nação e povo palestinos demonstram ao mundo o verdadeiro significado da palavra heroísmo!





O Movimento Feminino Popular saúda efusivamente a Resistência Nacional Palestina, o povo palestino, pelo exemplo de resistência, luta e heroísmo contra os covardes ataques, bombardeios e holocausto promovidos pelo Estado Fascista Sionista de Israel por décadas e intensificados como nunca nas últimas semanas. O exército invasor sionista, com seus bombardeios em toda a faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, já matou mais de dez mil palestinos, dentre esses 65% mulheres e mais de 3500 crianças. Os números crescem a cada dia. São mais de 20 mil feridos, 34% dos hospitais e 65% dos centros de cuidados primários de saúde sem funcionamento, 4600 mulheres grávidas precisando de atendimento urgente. Falta energia, sinais de comunicação, combustível para funcionamento de hospitais. Caminhões de abastecimento são impedidos de entrar com alimentação, água, insumos hospitalares, medicamentos, etc. O cerco é total a uma população de mais de dois milhões de pessoas num território de 360 quilômetros quadrados, crimes de guerra cometidos com o objetivo de exterminar o povo palestino. A maioria dos mortos e feridos são de mulheres, mulheres grávidas e crianças, além de idosos, o que prova que o objetivo do invasor é realizar uma verdadeira carnificina como limpeza étnica e tomar para sempre o território e nação Palestina.
A destruição promovida por Israel na Faixa de Gaza já é equivalente à destruição da bomba nuclear de Hiroshima no final da segunda Guerra Mundial, no entanto, a campanha midiática do imperialismo martela a repulsiva máxima de que os palestinos são “terroristas”. Grande maioria dos povos já perceberam que os planos do nazista e cão pestilento Netanyahu não é eliminar o Hamas como estão alegando e sim varrer com os palestinos de seu território e concluir a ocupação de todas as suas terras. Tanto que não demonstram interesse algum em negociar e trocar os reféns e soldados prisioneiros, muitos são mortos pelos próprios bombardeios sionistas. Israel não engana mais ninguém com suas mentiras que o povo palestino é terrorista. Quanto mais ele ataca Gaza em massa, mais ele desmascara suas verdadeiras intenções e quem é o verdadeiro terrorista.

O odioso ataque diuturno dos monopólios de imprensa ao povo palestino e às organizações e vanguarda de sua Resistência Nacional, caracterizando-os como “terroristas” e “sanguinários”, repetindo o cacarejo do Estado fascista, colonialista e racista de Israel e do imperialismo norte-americano, não pode impedir aos povos do mundo de enxergar a verdade crua da monstruosidade inerente ao sistema imperialista e seu colonialismo. Deliram ao acreditar que debilitarão a resistência nacional palestina e o apoio crescente e massivo à sua causa por todo o mundo ao aplicarem o mesmo princípio da propaganda nazista de Goebbels “uma mentira dita mil vezes se torna verdade”. Rompendo com toda a contrapropaganda reacionária e enfrentando a reação de todas as formas, milhões de massas tem se levantado em defesa da Palestina, atacam as representações do genocida Estado de Israel e do imperialismo ianque. A bandeira palestina, marca de heroísmo inesgotável, tremula nos quatro cantos do planeta nas mãos de milhões de massas que reconhecem cada vez mais a verdade dita pelo grande presidente Mao Tsetung e provada tantas vezes pela história de que “A rebelião se justifica!” pois “Onde há opressão, há resistência”!



A ofensiva tática empreendida pelo Hamas no último dia 7 de outubro e a resistência que persiste e persistirá é resposta contundente a décadas de invasão, massacres e opressão. Esse fato militar revela para o mundo inteiro as entranhas genocidas do Estado colonizador, fascista, sionista de Israel, escancara o holocausto contra o povo palestino, é um grito de resistência que ecoa em todo o mundo. Também demonstra de forma inapelável o heroísmo da Resistência Nacional Palestina, homens, mulheres, crianças, jovens e anciãos, combatentes, que não se rendem. Fortalece profundamente a luta de libertação nacional contra o imperialismo, une mais forças democráticas em torno da causa da Nação Palestina internamente e internacionalmente. Demonstra a superioridade moral da resistência palestina e a justeza de sua luta. Basem Naim, chefe do departamento político e de relações internacionais do Hamas, afirmou em entrevista recente ao monopólio Aljazeera: “Temos duas opções: derrotar esta ocupação ou morrer nas nossas casas … Estávamos morrendo em silêncio. Tentamos sair desta prisão ao ar livre, tentávamos levantar a nossa voz ao nível da comunidade internacional… o que estamos fazendo é um ato de defesa. Estamos defendendo a nossa existência.”

Repudiamos todas as falácias da imprensa corporativa dominada pelos monopólios de comunicação ianques que tentam separar o povo palestino de suas forças patrióticas que tem encabeçado a resistência nacional como o Hamas, que tem demonstrado sustentar de forma contundente a causa da libertação da Palestina. Caso assim fosse, porque na Cisjordânia ocupada, o povo tem sido atacado sistematicamente pelo exército de Israel, restringido em seu direito de ir e vir, pogroms o são realizados por colonos sionistas ladrões de terra contra aldeias palestinas. Recentemente centenas de palestinos foram presos e mortos na Cisjordânia, ataques e bombardeios também no sul do Líbano são constantes. Nas prisões israelenses estão milhares de palestinos, sendo que mais de 400 são crianças. Todos os presos palestinos são torturados e muitos durante essas últimas semanas estão desaparecidos. Há presos que estão encarcerados há mais de 40 anos, 500 palestinos passaram mais de 27 anos presos segundo denunciam as forças da resistência.

O terrorismo sistemático contra o povo palestino tem suas raízes históricas em 1917 quando da usurpação de sua nação pelo imperialismo britânico. Após a segunda Guerra Mundial, com a criação do Estado de Israel em 1948, o território palestino foi tomado pelos imperialistas ianques e seus lacaios sionistas, usados para manter o Estado sionista como base militar ianque no Oriente Médio, como forma de disputar dominação e influência geopolítica dos ianques para a exploração das riquezas dos povos do Oriente Médi. É quando ocorreu a Nakba, “a catástrofe”, como os palestinos chamam o roubo de suas terras. São 75 anos da usurpação do território palestino e 56 anos de ocupação para usurpação de suas terras originárias, 32 anos do famigerado Acordo de Oslo, quando da traição da Autoridade Palestina à Resistência Nacional, cúmplice dos invasores sionistas quando tentam criar uma paz dos cemitérios; anos de várias resoluções do Conselho de Segurança também das Nações Unidas, particularmente a 242 (1967) e a 338 (1973), que significam, ao fim e ao cabo, mais e mais opressão. 


Os pró-sionistas que tentam justificar a ocupação do território palestino por Israel por razões religiosas estão mentindo descaradamente. Historicamente na Palestina conviviam harmoniosamente diversas religiões, inclusive judeus e muçulmanos árabes que conformavam o povo palestino. Desterrar com extrema violência um povo inteiro de seus territórios, impondo também enormes perdas humanas, econômicas, além da perda de direitos básicos elementares, se converteu em uma questão de vida ou morte para a nação palestina e todo povo palestino contra o imperialismo e a reação lacaia. É por isso que é uma falácia falar de “conflito religioso” como motivo dessa guerra. Trata-se de uma guerra justa, de Libertação Nacional do povo palestino, contra a guerra injusta, de ocupação colonial sionista.

Acusam a resistência nacional palestina de atacar civis israelenses e por isso a chamam de terrorista. Em entrevista do jornalista brasileiro Breno Altman com representante do Hamas Osama Hamdan, ao ser questionado se o Hamas tinha como alvo civis, mulheres e crianças, afirmou que os alvos eram militares e ainda “Nós só nos concentramos em soldados e nos colonizadores. Se alguém quiser falar de civis, vamos falar dos que foram mortos de 1948 até hoje. Quem cometeu o massacre de Deir Yassin? Quem cometeu o massacre de Tantura? Quem cometeu o massacre de Kafr Qasim? Quem destruiu, em 1948, quinhentas vilas e cidades na Palestina? Quem cometeu o massacre de Sabra e Chatila, em 1982? Sempre Israel. A resistência à ocupação é clara e garantida pela lei internacional. Se alguém quiser parar com esta carnificina contra os palestinos, que se ponha fim à ocupação.”

Um tribunal popular há que ser organizado contra os criminosos de guerra sionistas e quem o montará serão as massas em processo revolucionário no mundo inteiro. A luta de resistência palestina, pelo seu caráter estratégico, é, decisivamente, uma das mobilizações mais importantes e mais simbólicas do mundo neste momento de crise acelerada de decomposição do imperialismo. Palestina é fato contundente desse novo período de revoluções no mundo e da afirmação do Presidente Mao que “num período de 50 a 100 anos o imperialismo será varrido da face da Terra”. A guerra de Libertação Nacional da Palestina, assim como tantas outras que já existem ou ainda explodirão é parte decisiva e base da Revolução Proletária Mundial.

 
A Resistência Nacional Palestina estremece o imperialismo ianque e seu títere sionista que estão diante de uma situação insustentável e sem saída. Não podem seguir bombardeando Gaza impunemente. Particularmente no Oriente médio, mas não só, se levantarão milhões de massas em crescente ira, sobretudo os que contam com movimentos armados anti-imperialistas. Também Israel não poderá vencer a resistência feroz decidida a lutar até o último homem e mulher. O risco da guerra anti-imperialista se generalizar por toda a região é iminente e não faltam combatentes em toda região decididos pela causa.


É tarefa urgente de todo movimento democrático e revolucionário do mundo atuar decididamente ao lado da Nação e povo palestinos. Unimo-nos a todas as organizações democráticas e revolucionárias na mais irrestrita solidariedade a Resistência Nacional Palestina e afirmamos que desde o Brasil também se escutará o grito da libertação da Nação Palestina.



Viva a Heroica Resistência Palestina!

Palestina Resiste, Palestina Triunfará!





sábado, 11 de novembro de 2023

 

Como o sionismo invadiu e colonizou a Palestina com apoio dos países imperialistas? Breve análise do processo de invasão da Palestina antes de 1948.






Por todos os cantos, do monopólio de imprensa aos falsos democratas e intelectuais covardes, bravejam que a luta justa do povo palestino contra a força opressiva dos sionistas é uma luta de terroristas contra a “única democracia no Oriente Médio”. Ou que a solução para resolver este conflito necessita de boa vontade de ambas as partes, como se o direito sagrado da autodeterminação dos povos fosse algo negociável em reuniões infindáveis na ONU (no caso palestino, em Washington como foram os vergonhosos e capitulacionistas “Acordos de Oslo”) sob risco de serem taxados de terroristas caso recusem a via “pacífica”.

Ora, quem não foi taxado de terrorista lutando contra a política de extermínio da polícia militar nas favelas e periferias do Brasil em 2013, no Chile, e em tantos movimentos de libertação nacional como na Argélia e no Iraque?

Esta é uma das tarefas do imperialismo: apontar aos que lutam a acusação de serem o que eles são de fato. É tarefa de todos os democratas e intelectuais honestos defenderem veementemente a resistência armada do povo palestino e saudar o exemplo dado aos povos oprimidos do mundo.

Não poderíamos defender meia Argélia, meia Indochina, meio Iraque e não é possível defender meia Palestina, pois são deles todas aquelas terras. E não cabe ao imperialismo ianque nem a corja nazista sionista decidir os limites da luta justa de um povo por sua libertação.

A criação do Movimento Sionista

É parte da narrativa da grande imprensa ligada aos interesses de Israel a ideia de que qualquer que sejam as críticas ligadas à política de extermínio e apartheid do estado sionista é antissemitismo. Isto cumpre um papel que historicamente o movimento sionista e a Organização Sionista Mundial (OSM) vêm desempenhado desde a década de 1930 que se aprofunda após 1945.

O movimento sionista surge no fim do século XIX na Rússia. Neste país, onde durante anos os judeus foram perseguidos e assassinados, em 1882 um ativista da causa judaica escreve o que seria o primeiro apelo “nacionalista” aos judeus em seu panfleto “Autoemancipação: um apelo de um judeu russo ao seu povo”, divulgado após um “pogrom” em sua cidade. Ele propôs que a elite judaica do mundo todo comandasse um diretório para estabelecer um lar seguro aos judeus. 

Cerca de uma década mais tarde, em 1896, é publicado o livro “Judenstaat” (O Estado judeu) pelo jornalista Theodor Herzl, fundador do sionismo político. No livro é posto as aspirações de criar um “lar nacional para os judeus”. Curiosamente nenhum lugar citado pelo autor pertencia à países da Europa, onde a maioria dos judeus viviam no mundo, mas lugares distantes, onde fosse possível conseguir apoio da grande burguesia judaica dos países da Europa.

Um ano após a publicação do livro, é organizado o primeiro congresso sionista na Basiléia (Suíça), onde Herzl foi eleito o primeiro presidente da Organização Sionista Mundial e foi nesse congresso onde se decidiu por construir um “lar” (leia-se Estado) judeu na Palestina.

A partir daí se repetiu como um mantra a ideia de que a Palestina era “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Vale destacar que o processo de criação e consolidação do movimento sionista que objetivava colonizar a Palestina, foi desenvolvido na Europa que acabara de entrar em um processo de colonização de países africanos, política fruto da crise imperialista que teria seu desfecho na primeira guerra interimperialista.

Em 1901 foi criado o Fundo Nacional Judaico tendo como presidente Theodor Herzl. O objetivo da organização era centralizar as doações destinadas às compras de terras palestinas para início do processo de colonização. Pouco tempo depois foi oferecido a Península do Sinai (Egito) e uma parte da Uganda para satisfazer os interesses sionistas, ambos foram recusados e em 1905 no sétimo congresso sionista ficou definido que o objetivo central dos sionistas era a Palestina, que ganhou seu alvará com a “Declaração de Balfour” em 1917¹1.

O papel do sionismo enquanto política de colonização do território palestino teve como tarefas:

  • 1- a criação da uma identidade nacional judaica mesmo que de forma artificial, que desse conta de unir franceses, alemães, russos, ingleses, etc. praticantes do judaísmo, em “judeus”, não como uma comunidade religiosa, mas atribuir a essa comunidade um caráter étnico;
  • 2- iniciar o processo de colonização da Palestina, que só foi possível de forma massiva a partir dos anos 30 com a perseguição do governo nazista aos judeu;
  • 3- associar, de forma onímoda, o movimento sionista e todos os judeus do mundo, de forma a ligar cada judeu à política de colonização da Palestina. Assim é tratado pelo monopólio da mídia até os dias atuais para que se associe à crítica ao sionismo, ao antissemitismo.

Os acordos interimperialistas entre França e Inglaterra

A Palestina até 1918 era dominada pelo Império Otomano, que dominou a região que hoje se estende da atual Tunísia até partes do leste da Europa. O império se esfacelou após a derrota na primeira guerra mundial. A Grã Bretanha, com apoio dos árabes que desejavam uma pátria árabe sem domínio dos otomanos, derrotou o Império Otomano.

Porém, ao mesmo tempo em que prometia uma Grande Arábia aos povos que lutaram contra os Otomanos, o imperialismo inglês traía o povo árabe no tratado Sykes-Picot (1916), assinado pelas duas potências imperialistas França e Grã Bretanha, que tinham como objetivo a partilha colonial do Oriente Médio como conhecemos hoje (com fronteiras artificiais, e a invenção do Iraque, Síria e posteriormente o Líbano). Na divisão entre os dois países imperialistas (França e Grã Bretanha), a Palestina passou a ser colônia da Inglaterra. O Império Russo fez parte do acordo, e após a Grande Revolução Socialista de Outubro (GRSO) de 1917, Lênin retirou a Rússia soviética dos acordos.

A Palestina passou por um longo processo de migração de judeus vindos de diversos países, principalmente Rússia devido à perseguição sistemática sofrida com os “pogroms”, mas também de outros países como Polônia e os Estados Unidos. Logo após a colonização britânica, de 1920 a 1929, cerca de 100.000 imigrantes judeus vindos de países principalmente da Europa foram para a Palestina. Em 1919 contavam-se com 65 mil judeus, palestinos ou não, em um total de 648 mil habitantes da Palestina e em 1939 (no ano que começou a Segunda Guerra Mundial) os judeus eram 445 mil num total de 1.500.000 de habitantes, número que só foi crescendo ao decorrer da guerra até chegar aos 608 mil judeus de 1.850.000 de habitantes aproximadamente em 1946 após o Holocausto.

A Organização Sionista Mundial (OSM) precisava de território, governo e população para concretizarem seu plano de fundar um Estado judeu, e o mandato britânico tornou possível um governo sionista em terras palestinas. Durante o controle do imperialismo inglês, entre 1922 e 1948, os poderes executivos e legislativos foram controlados pelo Alto Comissário. E aos palestinos foi negado qualquer direito à administração das próprias terras, porém os judeus participavam de todo processo de organização e administração, o mandato acabou em 1948, e em seguida foi fundado na Palestina, Israel. 

As contradições entre o sionismo e a Palestina

Durante o período de ocupação do imperialismo inglês e da massiva imigração de judeus à Palestina, na medida em que milícias sionistas e o exército britânico reprimia os palestinos, estes responderam a altura durante os anos 20 e 30 em pelo menos três principais momentos.

Primeiro, os motins durante o festival muçulmano conhecido como Nebi Musa entre 4 e 7 de abril de 1920 na cidade antiga de Jerusalém. Ali foi onde centenas de Palestinos se manifestaram contra a ocupação britânica e contra os judeus que imigraram em massa a partir do fim da primeira guerra.

Em 1929 se inicia o processo conhecido como os “tumultos palestinos de 1929”, que resultou no massacre de Hebron e agudizou a contradição entre palestinos árabes e judeus europeus que aos poucos iam para a Palestina, neste mesmo ano se fundou a Agência Judaica que cumpriria função de governo sionista na Palestina.

Em 1936 começa uma nova onda de insurreições na Palestina que só terminaria em 1939. O que começou com uma enorme greve geral de 6 meses, se tornou no final do mesmo ano uma luta armada contra a colonização britânica e contra os sionistas, exigindo o fim da ocupação e o fim da venda das terras árabes aos colonos sionistas. Em resposta, estes últimos promoveram massacres e atos de terrorismo contra a população civil palestina, principalmente contra camponeses.

A resistência palestina que no início de 1936 era liderada por uma parte da média e setores da pequena burguesia palestina, que logo exigiu o fim da greve e da luta armada, foi ao longo dos meses sendo dirigida por lideranças camponesas que começaram processo de guerrilha. A heróica resistência dos palestinos durante esses quatro anos forçou os colonos ingleses a mandar metade dos efetivos do exército britânico para acabar com a luta armada palestina.

Para acabar com a insurreição a Inglaterra mandou tanques de guerra, navios, e todo tipo de artilharia para ocupar todo território palestino até o fim de 1949. Os colonos protagonizaram massacres e uma brutal repressão que matou aproximadamente 20 mil palestinos.

O ‘’livro branco’’ e a tentativa de barrar a resistência palestina

Em 1939 temendo a novos levantes palestinos, a Inglaterra, através de uma Comissão Real, recomendou a partilha da Palestina como solução para a crise instaurada desde a Declaração de Balfour.

O “Livro Branco”, como ficou conhecido, tentava não apenas pôr fim à resistência dos Palestinos em relação aos britânicos, mas de ganhar apoio da comunidade árabe de todo Oriente Médio tendo em vista a iminência da Segunda Guerra Mundial. No novo documento, a Grã Bretanha passou a adotar a política de “levar em conta o desejo da maioria árabe” e pautou sua nova política na Palestina se comprometendo a criar um Estado palestino em um prazo de 10 anos, ou seja, em 1949. Além disso, constava uma medida de limitação da imigração judaica até que chegassem à 1/3 da população geral e que constava que não seria permitido a imigração de judeus sem o consentimento dos árabes palestinos e a responsabilidade da representação política palestina de regulamentar e proibir compra de terras árabes pelos sionistas. Promessas essas nunca cumpridas pelos imperialistas.

Nazismo e Sionismo, duas faces da mesma moeda… literalmente

Não são infundadas as acusações de que Israel atua com sua política segregacionista e genocida contra os árabes palestinos da mesma forma como Hitler e os nazistas fizeram com a comunidade judaica. E essa semelhança vem sem dúvidas do fato de que este Estado sionista criado em terras palestinas tem sangue nas mãos não só dos palestinos, mas de judeus pobres que viviam na Alemanha.

É amplamente documentado (e não foi segredo) que durante a década de 1930 procedeu-se uma profunda relação do movimento sionista, em particular da Organização Sionista Mundial (OSM) e da Agência Judaica na Palestina, com o partido Nazista na Alemanha. Hannah Arendt aponta que “naquele tempo era um fato da vida corrente que só os sionistas tinham possibilidade de negociar com as autoridades alemãs, pela simples razão de que a sua principal rival, a Associação Central dos Cidadãos Alemães de Confissão Judaica (Central-Verein deutscher Staatsbürger jüdischen Glaubens), à qual pertenciam então noventa e cinco por cento dos membros de organizações judaicas na Alemanha, especificava nos estatutos que o seu primeiro objetivo era a ‘luta contra o anti-semitismo’”, e logo no início do governo nazista a organização foi criminalizada.

A organização sionista alemã via com bons olhos o antissemitismo nazista e a OSM contribuiu para o segregacionismo judeu na Alemanha, inclusive pregando que os judeus deveriam eles próprios se desvincular de sua nacionalidade alemã.

Victor Klemperer, professor universitário famoso por seu diário escrito durante os anos de perseguição do governo nazista declarou em seu diário: “Existe uma única solução para a questão judaica na Alemanha e na Europa ocidental: a derrota daqueles que a inventaram. […] A causa sionista, tanto a pura como a religiosa, interessa apenas a fanáticos e não diz respeito à maioria’’. E mais tarde por volta do ano de 1941: “Hitler é o mais importante promotor do sionismo”.

Antes do início sistemático do extermínio da comunidade judaica, a direção nazista manteve duas políticas paralelas: a primeira consistia na retirada progressiva dos direito dos judeus, do roubo de seus bens materiais e do envio para os campos de concentração; a segunda era estimular a migração de judeus para o território palestino em colaboração com os sionistas.

A Agência Judaica na Palestina destacou dirigentes para manter visitas regulares aos campos de concentração, com permissão da SS (Schutzstaffel, a polícia política dos nazistas), para selecionar os judeus com interesse a ir para a Palestina, priorizando os homens mais jovens e os mais ricos. De acordo com Hannah Arendt “a maioria dos judeus, que não havia sido selecionada, ficou inevitavelmente confrontada com dois inimigos: as autoridades nazis e as autoridades judaicas”.

Em 1933, ainda no início do governo nazista, Von Mildenstein, responsável da SS pelo setor que cuidava da “questão judaica” foi até a Palestina a convite da OSM visitar territórios colonizados e tratar da questão da migração judaica para a Palestina. Em comemoração ao ocorrido foi produzido uma medalha com a suástica de um lado e a estrela de Davi do outro onde se lê “uma viagem nazista à Palestina”.

Quatro anos depois uma nova visita foi organizada dessa vez no Egito entre a autoridade sionista e Adolf Eichmann, novo encarregado dos assuntos judaicos da SS. Em agradecimento ao apoio nazista à causa sionista, foi fornecido informações a respeito da atuação dos comunistas na Alemanha.

Ainda durante a guerra a relação entre os sionistas e os nazistas não se alterou de forma drástica, embora o objetivo das hordas nazistas fosse exterminar todo judeu da Europa. Houveram aqueles entre os judeus que assumiram a tarefa da capitulação da luta contra a ocupação nazista principalmente na Polônia, e também dentro da própria Alemanha, e coube aos sionistas esse papel infame.

Logo no início do governo nazista os sionistas se encarregaram de corporativizar toda organização independente das comunidades judaicas e torna-las uma só. Em 1939, a Gestapo assume o controle da organização e passa a ter todo aparato burocrático, mais tarde muito útil para realizar o genocídio contra os judeus. No mesmo ano, o governo nazista ordenou que fossem organizados conselhos judaicos, cuja direção passou a cada vez mais deter o controle sobre a vida dos judeus aprisionados. Estes conselhos passaram a se responsabilizar pelo trabalho de distribuir as estrelas obrigatórias que marcaram os judeus, de selecionar os que iam para o trabalho forçado, os que iam para os trens em direção aos campos de concentração e também de organizar os bens que seriam roubados pelos nazistas. Este conselho mantinha o controle de uma polícia judaica responsável pelo papel de repressão aos judeus. Mais tarde, no Levante do Gueto de Varsóvia, em 1943, os primeiros alvos foram os colaboracionistas e a polícia judaica organizadas em última instância pelos sionistas.

O acordo Haavara

Houve de 1933 à 1939 um acordo econômico entre os sionistas e o partido nazista para deportar judeus para a Palestina. Isto é dito pelos sionistas até hoje como uma forma de retirar parte dos judeus da Alemanha, mas a verdade é que este acordo conhecido como Acordo Haavara (transferência), que tinha como pano de fundo o financiamento da colonização da Palestina com a compra de terras e o armamento das milícias sionistas que atuavam na Palestina. Por outro lado, serviu como forma de movimentar parte expressiva da economia alemã que a época sofria com boicote massivo de organizações e comunidades judaicas do mundo todo.

Resumidamente, um judeu poderia comprar matérias primas e ganhar o direito a ir para a Palestina sob organização da Agencia Judaica. Esses produtos eram vendidos por um preço altíssimo dentro da Alemanha, a Agência Judaica comprava esses produtos exportados para a Palestina e, chegando na Palestina, o colono recebia em libras (moeda inglesa). Dessa forma, o movimento sionista impedia o estrangulamento da economiza nazista que sofria com boicote, e ao mesmo tempo financiava o movimento sionista dentro da Palestina, aplicando este capital no setor têxtil, metalúrgico, em indústrias quimicas e de instrumentos agrícolas.

Este acordo possibilitou o processo do início da infraestrutura do que viria a ser poucos anos depois parte do Estado fascista de Israel.

A Nakba

Em 15 de maio de 1948, com o fim do mandato britânico na região, é anunciada a independência do Estado fascista de Israel em terras palestinas, e logo nos primeiros minutos do anúncio de sua colonização, os ianques (Estados Unidos) declararam seu apoio e reconhecimento. O anúncio foi recebido pelos recém criados países árabes vizinhos à Palestina com ataques do Egito, Jordânia, Iraque e Síria no que ficou conhecido como primeira guerra árabe-israelense.

Neste processo, os sionistas ocuparam o máximo de territórios palestinos, além de cometerem diversos massacres como já haviam feito no massacre de Deir Yassin no mês anterior. Centenas de palestinos, incluindo crianças e idosos, foram mortos por milícias fascistas como o Haganah, inspirada e orientada diretamente por Mussolini, que operou durante anos no território ocupado da Palestina até se conformar como parte das forças armadas israelenses.

Ainda neste processo, cerca de 800 mil palestinos tiveram que se refugiar nos países vizinhos e ao redor do mundo sem direito a retorno. O Estado de Israel destruiu casas e vilarejos inteiros ocupando todo território palestino restando apenas a Cisjorânia e a Faixa de Gaza.

Al Nakba, que se traduz como “catástrofe”, foi e segue sendo também um marco de luta das massas palestinas que todo dia 15 de maio desde 1948 se levantam em fúria com molotovs, paus, pedras e fundas na mão contra o inimigo sionista que tem pés de barro e demonstra sua fraqueza cada vez mais em cada dia nos últimos 75 anos em que não conseguem derrotar a justa resistência do povo palestino.

Bibliografia: 

Hannah Arendt – Eichmann em Jerusalém. 

João Bernardo – De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo. 

João Quartim de Moraes – As conexões do sionismo com o colonialismo, o fascismo e o racismo.

Shlomo Sand – A invenção da terra de Israel

A invenção do povo judeu

Aura Rejane Gomes – A questão Palestina e a fundação de Israel

Norman G. Finkelstein – A indústria do Holocausto

Ilan Pappe – Mitos e propaganda Israelenses (youtube)

Al Mayadeen Espanõl – Conflictos: Haavara, el pacto secreto entre nazis y sionistas (Youtube)

  1. Carta do secretário britânico dos assuntos estrangeiros Sir Arthur James Balfour destinada ao banqueiro sionista e líder da comunidade judaica no Reino Unido Lionel Rothschild, que expressou o apoio da Inglaterra em construir um “Lar nacional judeu” na Palestina. O representante dos interesses do imperialismo inglês declara que a coroa britânica não só demonstra simpatia quanto as “aspirações sionistas” como “empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo”. A carta termina com Balfour agradecendo ao 2º Barão da família Rothschild por encaminhar a carta à federação sionista. ↩︎.
Fonte: Jornal A Nova Democracia. 

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

 

Abaixo a CPI dos latifundiários ladrões de terra da União!


Fonte: Reproduzimos abaixo nota recebida da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres; Resistência Camponesa.


Abaixo a CPI dos latifundiários ladrões de terra da União! Conquistar a terra! Morte ao latifúndio!

Quase chegando ao seu final a Comissão Parlamentar de Inquérito que foi criada para defender o latifúndio, os ladrões de terras da União parasitas sanguessugas da Nação, e também atacar o movimento camponês e a luta pela terra. Todo o latifúndio secular, incluído o chamado “agronegócio” embelezado e publicitado pelos monopólios de imprensa e todos governos de turno como a ‘salvação da lavoura’ e da economia do País, só é a forma evoluída e renovada da condenação secular do Brasil a mero fornecedor de produtos primários a preço de banana às potências estrangeiras. É desde sempre a base apodrecida e agora tecnologicamente embrulhada em papel brilhante, da dominação semicolonial do País e do sistema de opressão e exploração do nosso povo. Sistema de interminável crise política, econômica, social, moral e agora militar, que se arrasta há 7 anos, infernizando a vida da imensa maioria dos brasileiros e brasileiras.

Batizada por esta súcia de bandidos da extrema-direita de “CPI do MST”, tal comissão pode terminar sem um relatório aprovado. O motivo é o mesmo de sempre nesta velhaca república de grandes burgueses e latifundiários e sua democracia corrupta até a medula, lacaios do imperialismo, principalmente norte-americano: acordo costurado entre o governo de turno, o STF e o Congresso, em que a moeda de troca é a exploração gigantesca dos camponeses, operários e demais trabalhadores da cidade e do campo e o saqueio das riquezas produzidas e naturais do País.
Não nos interessa aprofundar nestes motivos, nosso objetivo é outro, mas para consubstanciar nossa afirmação destacamos que, no finalzinho de julho e início de agosto, quando se ameaçava prorrogar o prazo, por mais sessenta dias, deste circo de demonização da secular luta pela terra, o STF anulou as provas de uma investigação que apontava mais um dos escândalos da roubalheira descarada do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira; ministérios, emendas bilionárias e cargos foram oferecidos aos partidos “da oposição”, e as testemunhas do “lado do governo” foram orientadas a baixar o tom. Novidade zero. Mas nem por isso é menos revelador ou tem menor importância terem sido expostas, de forma crua, as vísceras deste sistema latifundista podre (como também a posição conciliadora da falsa esquerda) escancarando, uma vez mais, a necessidade imediata e definitiva da derrocada, pendente e tão atrasada, deste sistema esfomeador de nosso povo e vendilhão da Pátria.

Terra e poder

Em primeiro lugar cabe uma consideração. É revelador que as duas “CPI`s” que mais movimentam e assanham estes ladrões do orçamento público, representantes da grande burguesia e do latifúndio e serviçais do imperialismo, sejam uma a que trata dos acontecimentos de 08 de janeiro de 2023 (luta pelo poder mal e porcamente tratada como luta entre “golpismo” e “democracia”) e a outra a que diz respeito a luta pela terra. Esta encenação tão desmoralizada que são as CPI’s, revela não só a relação entre a questão do poder e a questão agrário-camponesa, a centralidade desta questão, a importância da luta pela terra em curso como Revolução Agrária e os golpes que assestou no governo militar genocida de Bolsonaro e generais, governo das classes dominantes exploradoras, principalmente dos latifundiários e da casta privilegiada e parasitária, o alto oficialato das Forças Armadas, como também que, sem resolver a segunda, tagarelar sobre a primeira é um crime continuado contra o povo e a nação, demagogia pusilânime e historicamente fracassada.

“Modus operandi”

Pelo latifúndio assistimos a uma matilha de cães raivosos da extrema-direita, coronéis e tenentes-coronéis do exército (verdadeiras viúvas saudosas do golpe militar de 1964), delegados, policiais militares que praticam e defendem o genocídio do povo principalmente pobres e pretos, o processado pela justiça por tráfico internacional de madeiras e sabe-se lá mais o que Ricardo Sales (relator, o mesmo que foi “promovido” nos últimos dias de investigado a réu por um de seus crimes), o reacionário e doutorando em calhordice e boca-porca Kim Kataguiri do MBL (buscando ser alguém após a desmoralização de Moro e Bolsonaro), todos escalados para o serviço sujo da CPI, toda essa escumalha sequiosa por alguns momentos de fama e pelo polpudo financiamento do “agro” para suas campanhas eleitoreiras corruptas. Cabe ressaltar que não são da linha de frente do latifúndio, o que de nenhuma forma os livrará da justa ira das massas no acerto de contas vindouro.

Para dar a linha foi escolhido a dedo o “insuspeito” neto, filho e ele próprio ladrão de terras e assassino de camponeses, o fundador e líder da capangagem do latifúndio UDR, que hoje opera dirigindo o eufemismo conhecido por “bancada ruralista” no congresso nacional, Ronaldo Caiado, governador de Goiás. Este elemento alertou a seus pares menos escolados para que concentrassem no MST, na questão do CNPJ, no financiamento do MST. Foi taxativo em afirmar que, por não terem CNPJ, “camponeses pobres de Rondônia” (referindo-se a LCP) e FNL eram “braços” do MST. O sacripanta alertava seus pares para que não se deixassem levar por seus interesses imediatos (os representantes do latifúndio de Rondônia estavam ávidos por atacar a nossa gloriosa Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental enquanto os latifundiários paulistas e seu governadorzinho Tarcísio queriam “a cabeça” de José Rainha e da FNL para legalizar o roubo das terras públicas, reconhecidamente devolutas do Pontal do Paranapanema, invadidas e griladas pelo latifúndio e que estão sendo entregues para os latifundiários locais com o módico desconto de 90% do valor das terras). Caiado sabe as diferenças entre os movimentos, e sabe mais ainda que, em tempos de crise, em tempos de guerra, uma vírgula, um empurrãozinho só é a gota que transborda o caldo.
Pelo lado do “governo” foram escalados alguns deputados que no passado romperam com o PT e hoje estão alinhados com seus ex-correligionários (para passar a falsa impressão de acalorada disputa), como também inúmeros bombeiros, para que não se ultrapassassem os limites da “governabilidade”.

E durante os últimos 4 meses, legitimados pela presença da esquerda oportunista e eleitoreira, a canalha latifundiária expeliu todo o seu ódio contra as massas camponesas brasileiras em luta pela terra. Criminosos, bandidos, invasores de propriedade privada, era o mínimo. Os parlamentares da CPI várias vezes foram escorraçados pelas massas de camponeses quando suas incursões nas áreas vazavam (muitas vezes ocorriam no máximo sigilo, pegando as famílias de surpresa). Quando encontravam um camponês morando em lugar humilde, o mesmo era logo taxado de “vagabundo” (como se as péssimas condições de moradia não fosse regra para a grande maioria das famílias brasileiras), ou então culpavam os movimentos de luta pela terra por tais condições de miséria; mas se o camponês encontrado tinha algum bem, um carro que fosse, então seria ladrão, aproveitador das benesses do governo. Bando de canalhas, uma casta de privilegiados a zombar e desqualificar as massas pobres, a julgá-las e medi-las (como se tivessem este poder) pela própria régua. Não soa estranho que os que tudo têm e tudo podem ataquem como se estivem a beira do precipício os que nada têm e nada podem? Mas afinal, quem são os bandidos?

Criminosos e ladrões de terras são os latifundiários parasitas da Nação

Dados da OXFAM de 2019 apontam que 1,9% dos latifundiários com mais de 500 hectares possuem mais de 56,16% de todas as terras agricultáveis do país, enquanto que os camponeses com até 20 hectares ou que não possuem terra, 66;93% dos homens e mulheres do campo no Brasil ocupam, pasmem, 5,3% de nosso vasto território. E são estes camponeses pobres que alimentam 85% do nosso povo (destes, a grande maioria detém somente a posse da terra, contrato de compra e venda, sem título, o que os faz reféns das humilhações dos gerentes de bancos).
Dos 800 milhões de hectares de área do País, mais de 300 milhões são de terras públicas, ILEGALMENTE ROUBADAS OU GRILADAS PELOS LATIFUNDIÁRIOS. E essa justiça podre, com constituinte e outras conversas fiadas, NUNCA FEZ NADA!

Os latifundiários não pagam impostos para exportar e não recolhem INSS, aumentando o custo da produção de alimentos e causando essa inflação que arrasa a economia dos trabalhadores.
Latifundiário invade terra, mata, rouba terra dos povos indígenas e territórios quilombolas, e é “POP”! Camponês se organiza para tomar as terras e é bandido, invasor de propriedade privada, ladrão, “têm que morrer!” e “tem que ir para a PQP”.

Latifundiário amealha cada vez mais bilhões com os “Planos” safra, de todos os governos, sem exceção; não paga dívida de banco; ganha trator do orçamento secreto.

Neste Brasil do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo, principalmente norte-americano, o camponês pobre não poderá nunca ser proprietário de terra, no máximo posseiro. É o que diz a Lei de Terras de 1850 até hoje em vigor. Se na terra tiver minério, este é de quem tem o direito de lavra (Lei do uso do solo e subsolo). E todas estas concessões, benesses, favores, as licenças para explorar o minério estão guardadas com chave de ouro no DNPM desde o século retrasado, invariavelmente na mão do imperialismo ou de laranjas “espertalhões”.

E ainda vem o boquirroto líder do MST se “achando”, diante de uma chusma de energúmenos e puxa-sacos, saudar o Estatuto da Terra do golpe de 1964, que aprofundava a Lei de Terras e a Lei do Uso do Solo e Subsolo, decretando que o beneficiário desta “reforma agrária” (fracassada como o Mobral, a reserva de mercado na área de informática, as estatais, etc.) teria direito de “concessão e uso”, mas que as terras seriam do Estado. Ora bolas, por que os ricos ganham ou roubam milhões de hectares de terras públicas, direitos de lavras, enchem a boca para se autoproclamarem proprietários, se dizerem “donos”, enquanto os pobres têm que ficar eternamente no cativeiro dizendo “amém”? Que capitalismo é esse? Só faltou mesmo deixar escapar que este é o caminho para seu socialismo de mercado para completar o show de absurdos.

A “máxima” de que o agronegócio vai bem e o Brasil vai mal é uma mentira deslavada! O Brasil vai mal para que essa minoria gatuna, preguiçosa, preconceituosa, falsa moralista e depravada e ao mesmo tempo mentirosa e assassina se dê bem. Se não é assim, porque então estando no poder, intocáveis e beneficiados por todos os governos desde a Constituinte de 1988 (Luiz Inácio os afagou “heróis”, Bolsonaro, menos calejado, abriu o jogo e declarou que seu governo era do latifúndio), o Brasil só afunda? A culpa é de quem domina ou de quem é dominado? Nos poupem, ilustríssimos e doutos imbecis!

A luta pela terra é Revolução Agrária

O que assombra e aterroriza o latifúndio é que ele sabe que todo esse privilégio e força que ostenta é no fundo a sua maior fraqueza, pois que um império cuja base é um monstruoso, covarde e secular derramamento de sangue continuado da nossa gente, ontem e hoje, de milhões de massas pobres. Somos 200 milhões de brasileiros e brasileiras “comendo o pão que o diabo amassou” para que o latifúndio sobreviva. Em última instância, o superavit da balança comercial (à custa da exportação de produtos primários), a alta tecnologia, maquinaria de ponta e venenos e fertilizantes utilizados, e mais blá, blá, blá, é só perfumaria. O latifúndio é improdutivo, lucra porque não paga a terra, não paga imposto, têm subsídio do governo e tem mão de obra barata ou escrava. Não adianta passar perfume sem tomar banho. O latifúndio é sujo, podre, o câncer no Brasil que precisa ser total e definitivamente extirpado, pois suas metástases se espalham por todo o país, nas pequenas e grandes cidades.
Ainda que tenham arrancado da boca da liderança do MST que a luta pela terra é pacífica; que os camponeses não invadem, simplesmente ocupam propriedades improdutivas para fazer valer o Estatuto da Terra do golpe militar de 1964; que no Brasil tem lugar para a pequena propriedade e para o latifúndio; que as massas camponesas que ocuparam a Embrapa recentemente estavam erradas; que não existe mais a luta pela terra, e sim a luta pela agroecologia; que os camponeses não querem títulos da terra, mas os malfadados Contratos de Concessão e Uso (CCU’s) do Incra. Nada disso senhores ladrões de terras da União pode salvá-los da secular e sangrenta luta pela terra. Talvez apenas lhes dê mais um pouco tempo e em algum nível lhes permitam chamar de “bela viola” este “pão bolorento” que lhes garante riqueza, poder e ostentação vergonhosa perante um povo tão empobrecido.

Não se iludam, senhores. O mesmo que lhes presenteou com o que queriam ouvir, e que deixou dúvidas se representava o movimento que sim, tem história, ou se estava naquele antro como advogado de Luiz Inácio, reconheceu que costuma ser atropelado pelas massas que generosamente empunharam suas bandeiras, outrora vermelhas.

É a mais pura verdade! As massas camponesas não querem ocupar, querem tomar o que é seu! As massas camponesas não querem ficar na beira da estrada mofando à espera da “reforma agrária do governo”, querem cortar a terra para trabalhar na sua parcela! Os camponeses querem é comer, e nas atuais condições não vão perguntar se é orgânico ou não o alimento. Não querem saber destas CCU’s fajutas que não servem para nada! As massas camponesas não querem mais contar os corpos de seus dirigentes e ativistas, das lideranças indígenas e quilombolas, todos assassinados pela pistolagem do latifúndio e pelas polícias desse velho Estado genocida! Aliás, como é mesmo o que foi dito na CPI, que depois do surgimento do MST tais crimes, sempre impunes, diminuíram? Só no mês de agosto, Sr. Stédile, foram assassinados no dia 03, após torturas, o casal de camponeses Cleide da Silva e “Fumaça”, na comunidade rural de Ipixuna, em Humaitá, sul do Amazonas, apontados pelo latifúndio local como membros da LCP de Rondônia que iriam apoiar e organizar tomadas de terras; no dia 17 de agosto, na Bahia, mesmo estando sob proteção da Polícia Federal e Polícia Civil por estar jurada de morte pelo latifúndio, foi assassinada a líder quilombola Mãe Bernadete. E entre os dias 14 e 18 de agosto, uma invasão de pistoleiros no território (tekoha) Avae’te, em Dourados, Mato Grosso do Sul, deixou dez casas queimadas e cultivos completamente destruídos. Quer dizer então que os dados levantados anualmente pela CPT são mentirosos? Desde os anos de 1980, com novo auge do movimento camponês, o ódio dos latifundiários e sua reação sanguinária, dentro e fora do Estado, só fez aumentar com dezenas de massacres e chacinas, além das prisões, torturas e assassinato de dirigentes das organizações camponesas, indígenas e quilombolas. Quem diz defender a reforma agrária dar uma de bem-intencionado e bonzinho com latifundiários e demais reacionários é conversa pra boi dormir!

Desde a gloriosa e heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, em 1995, com sangue, os camponeses brasileiros descobriram a aliança operária e camponesa e a Revolução Agrária, e é isso que o latifúndio, como gigante de pés de barro e tigre de papel, está a temer!

Quanto à direção do MST ela teve várias chances de seguir este caminho. Vamos lembrar uma foto de 1996, estampada no Estadão e no antigo Jornal do Brasil, foto maravilhosa, milhares de massas camponesas armadas em Eldorado dos Carajás! Mas …

Morte ao latifúndio!

Da histeria das palavras aos fatos, o latifúndio e a extrema-direita reacionária, armados até os dentes pelo genocida Bolsonaro e seus generais, sempre em conluio com os policiais militares e civis assassinos, com farda ou atuando como seguranças privados e pistoleiros, atacaram em diversas partes do país camponeses em luta pela terra, já neste início do governo da coalizão reacionária Lula/Alckmim/Maggi. Exatamente como fizeram no dia 08 de janeiro em Brasília. Assim ocorreu também com indígenas e quilombolas. Silêncio geral!
A história não perdoa. Conciliar com a reação sempre levou a banhos de sangue das massas!

O risco que corre o pau corre o machado, quem mostra as armas que têm se arrisca a perdê-las, quem manda matar também pode morrer, quanto mais que a causa que defendem chegou a tal ponto de desmoralização que só com as armas conseguem defendê-las.
Nossa luta é justa, nossa causa sagrada!

Nós conclamamos e exortamos os camponeses a armarem as organizações de autodefesa da luta pela terra na mesma proporção e calibre!

Conclamamos as lideranças camponesas que não dobraram os joelhos, e são milhares por esse Brasil afora, as lideranças de posseiros, os povos indígenas, as organizações quilombolas, as populações atingidas por barragens, por mineração e por cultivos de eucalipto, as massas proletárias e demais trabalhadores da cidade, que cada vez mais lutam em defesa de seus direitos pisoteados, a cerrar fileiras com nosso bravo campesinato, com o caminho da Revolução Agrária.

O latifúndio histérico, senhor de tudo, grita. O grunhido do porco é faro de sua morte. Morte ao latifúndio!

Conquistar a terra! Destruir o latifúndio!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Morte ao latifúndio!
Viva a Revolução Agrária!

 

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
Goiânia, setembro de 2023

Em Rondônia novas operações de guerra para despejar várias áreas camponesas.


Fonte: Resistência Camponesa.

O velho Estado iniciou nova onda de reintegrações de posse, começando pelas áreas Élcio Machado, Canaã e Tiago Campim dos Santos, onde milhares de camponeses vivem e trabalham há muitos anos (em alguns casos há mais de décadas).

Uma comissão chamada “comissão de conflitos fundiários” do TJRO, foi montada com a participação do judiciário, membros do Ministério Público, Conselho de Direitos Humanos, OAB, Conselho Tutelar, Incra, e outros órgãos. Encabeçada pelas juízas Úrsula Gonçalves Theodoro de Faria Souza e outra chamada Fabíola, esta tal comissão está indo diretamente em várias áreas acompanhadas de policiais, na tentativa de identificar as pessoas (para processar posteriormente), fazendo falsas promessas, de que vão garantir terra a quem esteja qualificado no que chamam de perfil de reforma agrária, e outras embromações mais. Tudo no objetivo de criar divisões no meio das famílias e assim enfraquecer a sua resistência ante as operações de despejo a ser aplicadas pelas polícias assassinas de pobres.

Toda essa gente já é velha conhecida dos camponeses, já acompanharam muitos casos de ataques e operações de despejo contra áreas camponesas, tomaram conhecimento dos inúmeros crimes cometidos contras os camponeses, incluindo os assassinatos covardes de pessoas honradas (tratadas como bandidos) cometidas pelos bandos armados do latifúndio e pelos comandos especiais assassinos da PM, e nada fizeram. Mesmo tendo conhecimento dos inúmeros crimes contra os camponeses pobres, o judiciário nada faz a favor camponeses, ao contrário mantêm a impunidade de policiais assassinos, de latifundiários ladrões de terra e seus bandos armados, enquanto buscam de todas as formas reprimir e criminalizar a luta camponesa.

A verdade é que o judiciário tem um lado, defende os interesses dos ricos e poderosos, enquanto persegue e condenam os pobres. Toda essa conversa de que “todos são iguais perante a lei”, não passa de embromação, conversa fiada. E não será agora, do dia pra noite que o velho Estado e seu judiciário mudará sua essência de instrumento para garantir os interesses das classes dominantes, que no caso de Rondônia são principalmente os latifundiários ladrões de terra.

É de conhecimento geral que em Rondônia o judiciário sempre atua com dois pesos, duas medidas, complacentes contra os crimes do latifúndio ladrão de terra púbica, e o velho Estado, e por outro lado “rigoroso” contra os pobres em luta pela terra. A própria “ficha corrida” das juízas que encabeçam tal comissão não deixa dúvida de que sempre atuaram contra os interesses dos camponeses pobres. Vejamos apenas alguns exemplos.

Quando da resistência das famílias da área Tiago dos Santos contra gigantesca operação policial em 2021, foi essa mesma juíza, Úrsula Theodoro, que fez de tudo para atrasar a obrigação de acatar a suspensão da reintegração de posse determinada pelo STF e fez vista grossa pra polícia que manteve a operação ilegal, até que assassinaram os companheiros Gedeon e Rafael. Segundo camponeses da região, essa mesma juíza é grileira de dois lotes de 800 alqueires da fazenda Vilhena, de onde centenas de camponeses foram despejados há poucos anos. Em 2002, Úrsula deu ordem de prisão para camponeses pobres da área Lamarca (em Theobroma), em audiência defendeu abertamente os interesses de Jorge Chaparini, latifundiário que se diz dono das terras e negou aos camponeses o direito de se manifestarem, mesmo através do advogado.

Em novembro de 2019, a juíza Fabíola Sarkis ordenou que a PM despejasse as famílias da área Canaã. Ela também foi responsável pela prisão do companheiro Ruço por vários anos, acusado injustamente da morte de um pistoleiro do bandido latifundiário Antônio Martins, o “Galo Velho”. Também a mesma juíza condenou dois camponeses e um advogado popular em 2006 por falar a verdade contra o então comandante da PM de Jaru, Ênedy Dias, cão de guarda do latifúndio, chefe de bando paramilitar que assassinou vários camponeses e lideranças, além de jovens pobres nas periferias de Ariquemes e Jaru.

Essa forma de atuar do velho Estado, agora tendo Luiz Inácio como gerente da vez, não é novidade. Em seus gerenciamentos anteriores aplicavam a mesma política de criar comissões, “Comissão Paz no Campo”, “Ouvidoria Agrária”, etc., para confundir e enganar, dar falsas esperanças, distribuir esmolas, enquanto mantêm a situação agrária inalterada e a invariável repressão aos camponeses pobres em luta. Na época que operou a tal ouvidoria agrária, que tinha o “ouvidor dos latifundiários” o senhor Gercino a frente, era essa mesma novela, faziam audiências públicas onde os agentes do velho Estado fingiam nos ouvir, mas já estavam com as decisões tomadas. Não entregavam terra, não regularizavam as posses, não impediam despejos, e aos camponeses só davam papéis que nada valiam. E não por acaso muitas lideranças foram assassinadas depois de identificadas nessas reuniões, que frequentemente contavam com a presença de policiais, pistoleiros e latifundiários.

O que querem fazer agora, é a mesma politicagem oportunista de jogar povo contra povo, e assim facilitar a repressão. Querem fazer assim como fizeram na fazenda Santa Elina, onde em 2011/12 iludiram as famílias dizendo que tinham que sair da área para o Incra cortar (mas as terras já haviam sido cortadas e entregues pela LCP). As famílias acreditaram de boa fé, e o que ocorreu é que as famílias amargaram muitos prejuízos, mudaram todo o corte já realizado deixando muitos lotes secos, sem estradas, etc., e muitas famílias que já viviam e produziam ali foram expulsas sob alegação de que não tinham “perfil da reforma agrária” e em seu lugar colocaram muitos puxa-sacos e apadrinhados políticos do PT. Ademais que as famílias hoje “assentadas” nessa área não tem o título da terra, apenas a “concessão de uso”, ou seja, estão a mercê da burocracia do Incra e podem ser colocadas pra fora da terra em qualquer momento, com uma justificativa armada qualquer, coisa que já ocorreu com algumas famílias.

Ou como estão fazendo agora na área Gonzalo, uma área em que as famílias tomaram posse e produzem há quase duas décadas, e agora o governo voltou a distribuir cesta básica. Ora, ninguém precisa dessa esmola, querem é o título da terra e a regularização das suas posses, que se considerar só o usucapião já são das famílias por direito!

Ou como estão fazendo em algumas outras áreas, onde a “brilhante solução” dada pelo judiciário é obrigar as famílias a pagarem ao latifundiário pelas terras em que vivem e trabalham. Ou seja, pagar para os ladrões de terra por aquilo que já nos pertence!

Só a Revolução Agrária garante a terra aos pobres do campo!
Não sairemos de nossas terras!

Todos sabemos que a reforma agrária do governo está falida há tempos! Só quem luta garante a terra! Entra governo sai governo, seja Bolsonaro, Dilma ou Luiz Inácio, tudo o que o velho Estado tem nos oferecido todos esses anos são migalhas, falsas promessas, e repressão.

Não seremos enganados uma vez mais! Em todas as áreas onde passa essa comissão de enganação, chamada “comissão de conflitos fundiários”, a opinião geral das famílias tem sido uma só: não sairemos de nossas terras! Elas estão regadas com nosso suor e com o sangue de vários camponeses e lideranças assassinadas covardemente como os companheiros Gedeon, Rafael, Amarildo, Amaral, Kevin, Esticado, Mandruvá, Élcio, Gilson e tantos outros.

Se tentarem nos retirar de nossas terras, vamos resistir de todas as formas possíveis! O risco que corre o pau corre o machado!

Fora de nossas áreas, PM assassina, guaxeba de latifundiários!
Punição para os mandantes e executores das chacinas de camponeses!
Chega de embromação e esmola! Não sairemos de nossas terras!
Regularização e titulação das terras na posse dos camponeses já!
Morte ao latifúndio! Terra pra quem nela trabalha!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental