terça-feira, 7 de outubro de 2008

Nove camponeses assassinados por pistoleiros dos latifundiários no sul do Pará!


De janeiro a setembro deste ano, nove camponeses foram covardemente assassinados no sul do Pará, pelos pistoleiros a serviço dos latifundiários! Cícero, Raimundo, Rivaldo, Foguinho, Carlito, Assis, José Filho, Rodolfo e Edivaldo Sousa do Nascimento, este conhecido pelo apelido de "Bagaceira". Todos eles participavam, no sul do Pará, da luta pela terra, sendo que a maioria esteve diretamente envolvida na tomada da Fazenda Forkilha, em setembro de 2007.

"A situação no sul do Pará, quanto à questão agrária é absurda e há um completo descaso das autoridades, que na verdade apóiam os latifundiários, que torturam e assassinam camponeses que lutam por um pedaço de terra", denunciou a Liga dos Camponeses Pobres do Pará (LCP/PA). De fato, já se passaram mais de nove meses desde a chamada "Operação Paz no Campo", ordenada pela governadora Ana Júlia (PT), contra os camponeses da Forkilha, e a situação para eles só piorou.

"A situação hoje em Redenção e região, após a operação terror no campo mergulhou num estado de sítio, onde centenas de camponeses, de diversas áreas e movimentos, estão sendo despejados de posses que ocupavam há vários anos, perseguidos e assassinados de forma brutal", continuou denunciando a Liga. Foi o que aconteceu, recentemente, no município de Conceição do Araguaia, onde camponeses acampados na Fazenda Cinzeiro foram violentamente despejados por pistoleiros. Depois disso, juntamente com o latifundiário, eles foram atacados na casa onde estavam dormindo, foram agredidos e seus familiares humilhados. Seis deles, inclusive o Sr. Raimundo, de 75 anos de idade, foram arbitrariamente presos e mantidos na prisão durante dois meses.

Nesta ação, que ficou conhecida como "operação terror no campo", a polícia militar cometeu todo tipo de atrocidade e torturas bárbaras, como asfixia com saco plástico, ingestação forçada de pimenta, introdução de cassetete no ânus de um camponês, espancamento generalizado, manutenção de crianças e mulheres grávidas sob a mira de armas, durante horas. E como se não bastasse tudo isso, vinte e dois camponeses ficaram presos, arbitrariamente, por 46 dias, sendo submetidos a todo tipo de tortura.

Uma comissão de camponeses da LCP foi a Belém, depois do ataque, cobrar das autoridades a punição dos responsáveis por estes crimes brutais. Eram todos trabalhadores e não bandidos como taxaram a governadora Ana Júlia, o deputado federal Geovane Queiroz, o ministro Tarso Genro e a imprensa reacionária, a serviço dos latifundiários. São todos trabalhadores denunciando a violência do Estado contra eles. Mas até hoje, nada foi feito contra os verdadeiros bandidos e criminosos.

"Essa é a justiça do Pará, para os camponeses que lutam pelo justo direito à terra é só perseguição, prisão, tortura e morte. Para os latifundiários, o império. O sul do Pará é o lugar onde menos se respeita os direitos do povo, pois até agora há um silêncio sepulcral do governo do Estado, que inebriado pela inaudita e imoral aliança com o latifúndio reacionário, violento, escravagista, explorador e assassino, do sul do Pará, faz 'ouvido de mercador' às denúncias de combativos defensores públicos e ativistas de direitos humanos e preferem acreditar nas declarações dos responsáveis pelo terror no campo", afirmou a LCP.

Agora, os assassinatos de camponeses por pistoleiros a serviço dos latifundiários seguem acontecendo, sob o silêncio cúmplice de autoridades estaduais, órgãos federais, representantes do ministério público estadual, membros do judiciário e partidos políticos ditos 'de esquerda'. Depois da operação "terror no campo", nove camponeses foram assassinados e outros estão sendo ameaçados! Mas nenhuma destas instituições fala nada; ninguém faz nada para impedir a continuidade da matança!

Pistoleiros chegaram ao absurdo de exibir listas com nomes das próximas vítimas nas quais constava o valor, em dinheiro, de suas 'cabeças'. Eles seguem camponeses, rondam suas casas, exibem armas, sem qualquer constrangimento ou preocupação de ser presos. A LCP tem denunciado que vários camponeses estão sendo ameaçados pelos latifundiários, principalmente os coordenadores da LCP. E alguns, possivelmente, estão com mandatos de prisão que poderão ser cumpridos depois do período eleitoral. O coordenador, Sr. Luiz Lopes, continua sendo perseguido, ameaçado de morte, e pode ser preso a qualquer momento.

E diante de todas estas atrocidades cometidas contra os camponeses, o Incra nada diz sobre a desapropriação da Forkilha. Até hoje é só conversa fiada e promessas que não se cumprem. Nada de concreto foi resolvido para garantir aos camponeses o seu direito legítimo à terra! O Incra é totalmente inoperante e os camponeses não obtiveram resposta sobre a área da Forkilha. Duas audiências públicas foram realizadas pela Comissão de Direitos Humanos da Alepa, em Redenção, e o Incra, mesmo convidado formalmente, não compareceu.

Os camponeses exigem seus direitos e o fim da repressão contra eles. Exigem a imediata desapropriação da Forkilha e a indenização às vítimas de torturas, assim como a indenização pelos pertences que lhe foram roubados e destruídos pela polícia no ataque à Forkilha.

O Estado, sim, é que é criminoso e que comete a maior violência contra o povo; ataca e massacra os camponeses em luta pelo seu direito. As forças repressivas do Estado, ao lado dos mercenários contratados pelos latifundiários, é que atiram, matam, prendem arbitrariamente e torturam covardemente os camponeses. Eles, por sua vez, estão apenas se organizando e lutando por um direito que lhes é, sucessiva e descaradamente negado.

No caso do Pará, o governo estadual e demais órgãos federais não só lhes estão negando o direito à terra e à vida, como estão permitindo que os assassinos continuem a praticar seus crimes, acobertados pelo seu silêncio cúmplice. O sangue dos nove camponeses mortos do sul do Pará está a cobrar uma resposta imediata! Os camponeses assassinados não podem vir a ser apenas outros números nos indicadores da violência no estado, hoje mascarados por uma suposta (e fantasiosa, irreal) redução dos índices de violência no campo!

Pelo fim da criminalização da luta camponesa, da perseguição política à LCP e dos assassinatos de camponeses pobres em luta pela terra, no sul do Pará!

Cebraspo

06.out.2008