“Ele tem que assinar!” Essa é a última exigência do Estado francês, lançada rapidamente pelo Presidente da França, em 6 de agosto de 2020 em Beirute, em resposta aos gritos de todos aqueles que em sua passagem entoaram, mais uma vez, a legítima exigência da libertação de Georges Abdallah. “Ele tem que assinar!”, expressado através de um gesto com a mão e depois nada: um giro de cabeça e um passo que acelera para retomar a sua máscara do dia: a do homem providencial que vem para tranquilizar e garantir a reconstrução de um Líbano destruído. Desta vez, o caso foi mais bem trabalhado: não há mais a perplexidade de fachada mostrada em Túnis, quando, durante uma caminhada, Emmanuel Macron pareceu descobrir o nome de Georges Abdallah; agora a resposta está pronta e habilmente preparada: "ele deve assinar!"
Habilmente preparada porque é dirigida aos militantes plena e sinceramente engajados nesta luta, aguardando uma resposta do Estado francês há mais de 21 anos; habilmente formulado também pelo uso do pronome pessoal “ele” que carrega em si toda a indefinição do sujeito em questão: cabe a todos ficarem tranquilos simplesmente perguntando-se qual deles será o primeiro a assinar: Darmanin, Dupond-Moretti ou o próprio Presidente; quando na verdade a afirmação injustamente sugere que toda a solução para essa questão estaria apenas na assinatura de Georges Abdallah, único senhor de seu destino, de sua libertação e único responsável por sua detenção por sua recusa culposa de assinar.
“Ele tem que assinar!": assim como o povo libanês é levado a assinar um cheque em branco ao imperialismo francês para que esse último – ainda que totalmente responsável e culpado de sua ruína – assuma sozinho o controle do país, consolide ainda mais seu domínio na região e ali faça seus interesses prosperarem cada vez mais, Georges Abdallah deve assinar! Também ele assinar um cheque em branco para o estado francês? Seu compromisso durante toda sua vida contra o imperialismo, o capitalismo, o sionismo, os estados árabes reacionários e o fascismo; seu compromisso junto aos povos em luta, pelas lutas de libertação nacional e em particular pela Palestina, pela emancipação e pelo advento de um mundo melhor demonstram a cada dia o absurdo dessa expectativa. Georges Abdallah é um lutador comunista árabe que, desde seus primeiros engajamentos junto das Frações armadas revolucionárias libanesas em sua luta de resistência pela Palestina e durante seus 36 anos de detenção, nunca renegou seus compromissos: assim são os textos que assina, bem como cada uma das suas declarações políticas nas quais desmascara e luta incansavelmente contra todas as forças imperialistas e os planos de saque, dominação e todas as formas de opressão que o sistema capitalista engendra.
Georges Abdallah persiste e assina o seu compromisso, a sua luta e é isso que torna a continuidade da sua detenção uma questão altamente política que ainda hoje leva o Estado francês a não assinar o seu ato de libertação, apesar do mandado judicial.
De que devemos nos lembrar? Se há uma assinatura obrigatória nesse caso, é a do Ministro do Interior. Apesar de duas libertações concedidas em 2003 e 2013 pelo tribunal do júri e da afirmação por escrito de uma recepção favorável no Líbano, a libertação de Georges Abdallah continua condicionada à assinatura de uma ordem de expulsão do território francês: em janeiro de 2013, Emmanuel Valls, Ministro do Interior, recusou-se a assiná-la; em 5 de novembro de 2014, um novo pedido de libertação foi declarado "inadmissível" por não ter sido anteriormente objeto de ordem de deportação. Então, sim, se hoje há uma exigência a ser cumprida, é a do Presidente da República ordenando ao seu Ministro do Interior que rubrique esse documento para que a justiça seja finalmente feita e que Georges Abdallah seja libertado: "ele deve assinar!"
Muitos são os que já assinaram! Já perdemos as contas das cartas dirigidas aos diferentes Ministros da Justiça, aos Ministros do Interior, a parlamentares da França e do Líbano, aos Presidentes da República que se sucederam, a fim de fazer valer o imperativo da separação dos poderes, da aplicação do direito e o fim imediato desta verdadeira cadeia perpétua imposta a Georges Abdallah.
Todos - pessoas físicas, coletivos e organizações de apoio, deputados e senadores, personalidades, jornalistas - em nível nacional e internacional já assinaram - além de cartas – recursos, petições, cartas abertas para, em última instância, obter o fim da inadmissibilidade expressa por esse poder político e judiciário plenamente responsáveis e culpados ou pelo menos receber prescrições ilusórias, grotescas, cínicas e injustas como a mais recente, do Presidente Macron.
Agora é a hora de o estado francês assinar! Não só a demanda pela libertação de Georges Abdallah continuará a ser levada a todos os lugares e por todos, no seio de todas as lutas, em todas as manifestações e reuniões, em todos os muros, todos os nossos bairros, nossas universidades, em bandeiras, cartazes, folhetos, por meio de cartas, e-mails, transmissões, mas agora também lançamos um apelo, em paralelo com as medidas tomadas pelo advogado de Georges Abdallah, para que os representantes do Estado francês, e em particular do atual Ministro do Interior, sejam lembrados a cada momento e em cada viagem de que "ele deve assinar!"
Façamos ouvir o mais amplamente possível, todos os dias e em toda parte, como recentemente nossos camaradas no Líbano, esse grito de liberdade de Georges Abdallah e assim obtermos, pela contínua pressão exercida, na diversidade de nossas expressões, que se traduza em ato, nessa assinatura, a libertação de nosso camarada.
“Ele tem que assinar! “- Vamos dobrar o estado francês!
Que floresçam mil iniciativas!
Juntos e somente juntos vamos vencer!
Paris, 25 de agosto de 2020