Repudiamos,
veementemente, a recente condenação do Dr Marino D’Icarahy no
processo decorrente da representação feita contra ele pelo Juiz
Flávio Itabaiana, diante de sua firme e decisiva atuação no
processo contra os 23 ativistas. Cabe recurso contra mais esta
absurda condenação, mas antes disso é importante denunciar a vil
manobra na tentativa de intimidar este digno advogado do povo no
exercício de suas prerrogativas profissionais! Conclamamos todos os
democratas a repudiar tal injustiça!
A
perseguição e criminalização dos advogados democráticos que
assumem a defesa dos ativistas e lutadores têm acontecido,
historicamente, nos momentos em que cresce a luta do povo por seus
direitos. Nos últimos anos, com o povo brasileiro se levantando em
manifestações e revoltas por todo o país, cresceram também as
ameaças e a criminalização dos advogados do povo.
Este
problema tem aumentado bastante no campo com o assassinato recente e
brutal de várias lideranças camponesas. E os advogados do povo, que
defendem os direitos dos camponeses na luta pela terra, seguem sendo
perseguidos, ameaçados e, em muitos casos, também assassinados.
Neste
quadro, a atuação dos advogados do povo torna-se fundamental. Além
da defesa daqueles que estão sendo perseguidos, presos e acusados
por estarem lutando por direitos, a sua tarefa é também a de buscar
garantir, no exercício da defesa dos acusados, a liberdade de
expressão e manifestação para ambos. E nesse trabalho, eles têm
exposto abertamente o caráter de classe do Estado brasileiro,
denunciando ainda os instrumentos usados para reprimir o povo em
luta, como a escalada das leis de exceção e as ações punitivas do
Judiciário nessa perseguição.
Em
função das grandes mobilizações que ocorreram a partir de 2013, a
gerente de turno do velho Estado, Dilma e, particularmente, os
governos de Cabral e Pezão, aprofundaram a repressão às
manifestações e a criminalização de centenas de ativistas que
delas participaram. E fizeram isso com o uso das polícias, militar e
civil, e de forças especiais, Força Nacional, Polícia Federal e
Exército, numa grande ofensiva da repressão na tentativa de conter
a rebelião popular. Agressões violentas, lançamento de milhares
de bombas de gazes tóxicos, spray de pimenta e balas de borracha que
cegaram várias pessoas. Em todo o país, além da extrema violência,
foram feitas milhares de prisões, inclusive com a criação de
cadastro dos manifestantes para ser enviado aos serviços de
informação. E muito grave: o uso de munição real por parte das
forças repressivas causou a morte de dezenas de pessoas.
Foi
nesse ambiente que atuaram os advogados do povo. Diversos deles, além
de serem também vítimas da violência policial nas ruas, foram
investigados, acompanhados por meio de suas páginas pessoais nas
redes sociais ou vítimas de escutas telefônicas, que por sua
ilegalidade foram suspensas pelo STJ/Superior Tribunal de Justiça.
Em
Inquérito Policial iniciado naquele período os advogados são
acusados de serem “alinhados com ações extremas”, usando nessa
acusação, como meio de prova, apenas fotos das redes sociais nas
quais esses advogados aparecem em reuniões públicas.
No
caso do combativo advogado do povo Dr. Marino D’Icarahy, a
perseguição e os ataques foram explícitos e totalmente
condenáveis. Com uma
trajetória
de vida marcada pela defesa de diversas organizações populares, Dr
Marino teve papel destacado no processo contra os 23 ativistas,
presos na final da Copa de 2014, no qual atua como defensor de 11
deles. E por isso foi seguido acintosamente em seus trajetos
cotidianos e sofreu diversas ameaças à sua integridade física e
moral. E como se não bastasse tanto, ele está continua sendo
ameaçado no próprio exercício da profissão. Na ação penal
ajuizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro - conhecido por
encampar as medidas de criminalização, entre elas, por exemplo,
acrescentar, ilegalmente, novas acusações aos ativistas, já na
fase de alegações finais – Dr Marino foi ameaçado
com
base em atos realizados no pleno exercício da advocacia e em defesa
dos direitos dos acusados.
Dr
Marino D’Icaray denunciou, desde o princípio, a arbitrariedade das
prisões dos ativistas e a natureza política do processo instaurado
contra eles. Apontou com veemência as ilegalidades que marcaram os
procedimentos em torno desses processos, como o uso na instrução do
processo, de provas forjadas pela polícia. Inclusive, nesse sentido,
sua posição foi clara ao identificar a DRCI- Delegacia de Repressão
a Crimes de Informática, já em 12 de julho de 2014, como sendo o
DOPS da atualidade no Rio de Janeiro (que era a antiga delegacia
política atuante no período da ditadura militar fascista no
Brasil). A DRCI realizava escutas telefônicas, vigilâncias
digitais, entre outros expedientes, com o claro objetivo de montar
deliberadamente acusações contra manifestantes e ativistas, que
protestavam junto a outros milhões de pessoas nas ruas. Na ocasião,
Dr. Marino destacou esse tipo de ataque aos ativistas e às
organizações do movimento popular como sendo a forma de atacar e
impedir o direito legítimo de manifestação e expressão.
Já
na fase do processo, ele apontou as arbitrariedades cometidas pelo
Juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara, na condução dos depoimentos e
nas absurdas ordens de prisão. Como o caso da ordem de prisão para
Karlayne Moraes e Elisa Quadros, e contra o ativista Igor Mendes,
este mantido preso por sete meses no presídio de Bangu. Estas ordens
de prisão foram amplamente criticadas e, depois, suspensas pelo
ministro do STJ; ato confirmado pela 6ª Turma daquele tribunal, por
5 a O, demonstrando a ilegalidade desse expediente.
Em
consequência de sua firme conduta e defesa destemida, Dr. Marino
D'Icarahy está sendo agora vítima de três processos criminais. O
primeiro, pela atuação dele e de outro advogado, Dr. André de
Paula, na defesa de Jair Seixas Rodrigues (o Baiano), preso em
15/10/13. E os outros dois processos, por representação do juiz
Flávio Itabaiana, que não suportou as críticas do Dr Marino à
suas absurdas decisões. Dr Marino inclusive já foi condenado em um
deles, na 29ª
Vara.
Em
audiência realizada no dia 17/02 passado, defendido por advogado da
Comissão de Prerrogativas da OAB, assim como as testemunhas, tanto
de defesa como de acusação, acabaram por desqualificar a outra
denúncia do juiz Itabaiana, expondo a incoerência e fragilidade de
mais essa representação contra o Dr Marino.
Esta
perseguição é mais uma tentativa de intimidar e paralisar os
advogados do povo que, assim como Dr. Marino, tem enfrentado inúmeras
arbitrariedades sustentadas pelo apodrecido “Poder” Judiciário,
expressão deste velho Estado.
Defender
os advogados do povo é parte integrante da luta em defesa dos nossos
direitos! Todo o nosso repúdio à essa perseguição e toda a nossa
solidariedade ao Dr. Marino D’Icarahy!
APOIO E
SOLIDARIEDADE AO DR. MARINO D'ICARAHY!
PELA
IMEDIATA SUSPENÇÃO DOS PROCESSOS CONTRA O DR MARINO!
EM DEFESA
DOS ADVOGADOS DO POVO!
PELO
DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MANIFESTAÇÃO!
CEBRASPO
- Centro
Brasileiro de Solidariedade aos Povos - Fevereiro de 2016