De janeiro a setembro
deste ano, nove camponeses foram covardemente assassinados no sul do
Pará, pelos pistoleiros a serviço dos latifundiários! Cícero,
Raimundo, Rivaldo, Foguinho, Carlito, Assis, José Filho, Rodolfo e
Edivaldo Sousa do Nascimento, este conhecido pelo apelido de
"Bagaceira". Todos eles participavam, no sul do Pará, da
luta pela terra, sendo que a maioria esteve diretamente envolvida na
tomada da Fazenda Forkilha, em setembro de 2007.
"A situação no sul
do Pará, quanto à questão agrária é absurda e há um completo
descaso das autoridades, que na verdade apóiam os latifundiários,
que torturam e assassinam camponeses que lutam por um pedaço de
terra", denunciou a Liga dos Camponeses Pobres do Pará
(LCP/PA). De fato, já se passaram mais de nove meses desde a chamada
"Operação Paz no Campo", ordenada pela governadora Ana
Júlia (PT), contra os camponeses da Forkilha, e a situação para
eles só piorou.
"A situação hoje
em Redenção e região, após a operação terror no campo mergulhou
num estado de sítio, onde centenas de camponeses, de diversas áreas
e movimentos, estão sendo despejados de posses que ocupavam há
vários anos, perseguidos e assassinados de forma brutal",
continuou denunciando a Liga. Foi o que aconteceu, recentemente, no
município de Conceição do Araguaia, onde camponeses acampados na
Fazenda Cinzeiro foram violentamente despejados por pistoleiros.
Depois disso, juntamente com o latifundiário, eles foram atacados na
casa onde estavam dormindo, foram agredidos e seus familiares
humilhados. Seis deles, inclusive o Sr. Raimundo, de 75 anos de
idade, foram arbitrariamente presos e mantidos na prisão durante
dois meses.
Nesta ação, que ficou
conhecida como "operação terror no campo", a polícia
militar cometeu todo tipo de atrocidade e torturas bárbaras, como
asfixia com saco plástico, ingestação forçada de pimenta,
introdução de cassetete no ânus de um camponês, espancamento
generalizado, manutenção de crianças e mulheres grávidas sob a
mira de armas, durante horas. E como se não bastasse tudo isso,
vinte e dois camponeses ficaram presos, arbitrariamente, por 46 dias,
sendo submetidos a todo tipo de tortura.
Uma comissão de
camponeses da LCP foi a Belém, depois do ataque, cobrar das
autoridades a punição dos responsáveis por estes crimes brutais.
Eram todos trabalhadores e não bandidos como taxaram a governadora
Ana Júlia, o deputado federal Geovane Queiroz, o ministro Tarso
Genro e a imprensa reacionária, a serviço dos latifundiários. São
todos trabalhadores denunciando a violência do Estado contra eles.
Mas até hoje, nada foi feito contra os verdadeiros bandidos e
criminosos.
"Essa é a justiça
do Pará, para os camponeses que lutam pelo justo direito à terra é
só perseguição, prisão, tortura e morte. Para os latifundiários,
o império. O sul do Pará é o lugar onde menos se respeita os
direitos do povo, pois até agora há um silêncio sepulcral do
governo do Estado, que inebriado pela inaudita e imoral aliança com
o latifúndio reacionário, violento, escravagista, explorador e
assassino, do sul do Pará, faz 'ouvido de mercador' às denúncias
de combativos defensores públicos e ativistas de direitos humanos e
preferem acreditar nas declarações dos responsáveis pelo terror no
campo", afirmou a LCP.
Agora, os assassinatos de
camponeses por pistoleiros a serviço dos latifundiários seguem
acontecendo, sob o silêncio cúmplice de autoridades estaduais,
órgãos federais, representantes do ministério público estadual,
membros do judiciário e partidos políticos ditos 'de esquerda'.
Depois da operação "terror no campo", nove camponeses
foram assassinados e outros estão sendo ameaçados! Mas nenhuma
destas instituições fala nada; ninguém faz nada para impedir a
continuidade da matança!
Pistoleiros chegaram ao
absurdo de exibir listas com nomes das próximas vítimas nas quais
constava o valor, em dinheiro, de suas 'cabeças'. Eles seguem
camponeses, rondam suas casas, exibem armas, sem qualquer
constrangimento ou preocupação de ser presos. A LCP tem denunciado
que vários camponeses estão sendo ameaçados pelos latifundiários,
principalmente os coordenadores da LCP. E alguns, possivelmente,
estão com mandatos de prisão que poderão ser cumpridos depois do
período eleitoral. O coordenador, Sr. Luiz Lopes, continua sendo
perseguido, ameaçado de morte, e pode ser preso a qualquer momento.
E diante de todas estas
atrocidades cometidas contra os camponeses, o Incra nada diz sobre a
desapropriação da Forkilha. Até hoje é só conversa fiada e
promessas que não se cumprem. Nada de concreto foi resolvido para
garantir aos camponeses o seu direito legítimo à terra! O Incra é
totalmente inoperante e os camponeses não obtiveram resposta sobre a
área da Forkilha. Duas audiências públicas foram realizadas pela
Comissão de Direitos Humanos da Alepa, em Redenção, e o Incra,
mesmo convidado formalmente, não compareceu.
Os camponeses exigem seus
direitos e o fim da repressão contra eles. Exigem a imediata
desapropriação da Forkilha e a indenização às vítimas de
torturas, assim como a indenização pelos pertences que lhe foram
roubados e destruídos pela polícia no ataque à Forkilha.
O Estado, sim, é que é
criminoso e que comete a maior violência contra o povo; ataca e
massacra os camponeses em luta pelo seu direito. As forças
repressivas do Estado, ao lado dos mercenários contratados pelos
latifundiários, é que atiram, matam, prendem arbitrariamente e
torturam covardemente os camponeses. Eles, por sua vez, estão apenas
se organizando e lutando por um direito que lhes é, sucessiva e
descaradamente negado.
No caso do Pará, o
governo estadual e demais órgãos federais não só lhes estão
negando o direito à terra e à vida, como estão permitindo que os
assassinos continuem a praticar seus crimes, acobertados pelo seu
silêncio cúmplice. O sangue dos nove camponeses mortos do sul do
Pará está a cobrar uma resposta imediata! Os camponeses
assassinados não podem vir a ser apenas outros números nos
indicadores da violência no estado, hoje mascarados por uma suposta
(e fantasiosa, irreal) redução dos índices de violência no campo!
Pelo fim da
criminalização da luta camponesa, da perseguição política à LCP
e dos assassinatos de camponeses pobres em luta pela terra, no sul do
Pará!
Cebraspo
06.out.2008