POSICIONAMENTO DOS PRESOS POLÍTICOS MAPUCHE NA PRISÃO DE ANGOL
Fevereiro de 2020
Marri marri kom pu che, pu peñi, kom pu lamgen, kom pu pichikeche, dirigimo-nos ao nosso povo Mapuche em resistência, organizações sociais nacionais e internacionais; Por meio desta carta aberta, vimos manifestar nossa posição política.
Há muitos anos, vem-se falando sobre a constante luta mapuche. Mas a luta de qualquer povo que se levante contra o Estado que os oprime tem como conseqüências a prisão ou a morte. Por isso, não queremos perder esta oportunidade para prestar uma sincera homenagem a todos os Mapuche mortos pelo Estado do Chile e pelo poder econômico. Estes Mapuche têm nomes e sobrenomes, é por eles que estamos tremendamente orgulhosos desta luta travada por homens e mulheres valentes.
Por outro lado, tampouco esquecemos os Weichafe, que dia a dia percorrem o caminho da luta por libertação, bem como o caminho de Leftraru, Maguil, Pelantaru, Kilapan e todos os Mapuche que dedicaram suas vidas nos últimos tempos; os Weichafe conferem dignidade e valor ao povo da nação Mapuche.
Para nós, os presos políticos Mapuche da prisão de Angol, é muito importantes deixar claro que nossa luta é para recuperar nosso território, como objetivo principal, para consequentemente gerar autonomia em todos os sentidos. Portanto, nossa luta é contra o Estado e o grande empresariado que agride e corrompe as comunidades Mapuche. É por isso que, diante das novas idéias que resultaram das mobilizações sociais que pressionaram o Estado e os partidos políticos tradicionais, queremos deixar claro que não partilhamos de propostas como: assembléia constituinte, assentos reservados aos povos indígenas e nem Estado Plurinacional - todas essas idéias visam suprimir nosso povo Mapuche.
Hoje, o Estado, com todas as suas instituições, tenta isolar os que se levantam contra os opressores:
Ministério do Interior: manipula politicamente as instituições para perseguir o povo Mapuche e os movimentos sociais em geral.
Tribunais: aplicam sentenças abusivas quando se trata da luta Mapuche, sob ordens do governo e do poder econômico, pois, como povos Mapuche, sofremos condenações antecipadas antes do julgamento, em conluio com os meios de comunicação, encarregados de deslegitimar a justa demanda pela recuperação do território.
Ministério Público: juntamente com a polícia, com o PDI (polícia investigativa) e com os organismos de inteligência, assediam, perseguem, torturam, fabricam evidências e manipulam provas.
Organizações nacionais e regionais de Direitos Humanos: limitam-se a cumprir funções porque dependem do Estado, ao passo que são informantes, o que é totalmente contraditório à declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
Polícia de custódia/prisional (Gendarmería): diligências abusivas e tortura, negando acesso à nossa cultura espiritual Mapuche, violando suas próprias leis e tratados internacionais, que respaldam nosso povo (Convenção 169 da OIT)
Defensoria Penal Mapuche: a agência foi criada pelo Estado, para demonstrar que o Mapuche teria acesso à defesa e à justiça. No entanto, é uma agência à disposição do Estado para condenar e aprisionar o Mapuche.
Essas mesmas instituições são as que hoje matam, torturam, aprisionam e reprimem o movimento social.
Como combatentes Mapuche dignos, é contraditório, para dizer o mínimo. Não queremos integrar um Estado que há anos nos condena à pobreza e ao extermínio. Seria trair aqueles que deram a vida pela liberdade do nosso povo. Nós, as comunidades em resistência e os presos políticos Mapuche não estamos dispostos a negociar o sangue de nossos irmãos mortos pelo Estado do Chile.
Da prisão de Angol,
MARRICHIWEU!!!!
José Queipul Huaiquil
Freddy Marileo Marileo
Danilo Nahuelpi Millanao
Juan Calbucoy Montanares
Javier Lagos Morales
Cristian Curinao Catrileo
Juan Queipul Millanao
Sinecio Huenchullan Queipul
Sergio Levinao Levinao
Víctor Llanquileo Pilquiman