O
julgamento dos 4 policiais acusados pela Chacina do Morro do Estado,
que se iniciou na manhã de quinta feira, dia 24 de setembro,
terminou na madrugada do dia 25. O sargento Antonio Carlos Miranda, o
cabo José Francisco de Araújo Júnior, e os soldados Wanderson
Soares Nunes e José Roberto Primo Domingues foram condenados a 45
anos cada um somando mais de 200 anos de prisão.
O crime, que
ocorreu em dezembro de 2005, ficou conhecido como "Chacina do
Morro do Estado" e deixou na época um sentimento de dor e
impunidade na população niteroiense que se chocou pela idade das
vítimas: Wellington Santiago de Oliveira (11 anos), Luciano Rocha
Tavares (12), Edimilson dos Santos Conceição (15), José Maicom dos
Santos Fragoso (16) e Wedsom da Conceição (24). O único
sobrevivente da chacina, Carlos Roberto, hoje está com 17 anos e
conta com o serviço de proteção ao menor, residindo em outro
local. Ele prestou depoimento favorável as vítimas no
julgamento.
Foi fundamental a mobilização dos familiares das
vítimas (principalmente as mães dos meninos assassinados) e dos
moradores do Morro do Estado, que com sua determinação - e a ajuda
da Associação de Moradores e de entidades ligadas a defesa dos
direitos do povo, como o Cebraspo, conseguiram conscientizar o povo
niteroiense e pressionar a justiça para a condenação dos PMs
envolvidos. Não fosse isto, possivelmente o desfecho seria outro.
Destaque
também para a ação do promotor público, dr. Alan Joppert, que foi
bastante incisivo em sua defesa dos meninos assassinados, a toda hora
atacados pela defesa dos PMs, deixando evidente a culpa dos acusados,
proporcionando condição para que o juri entendesse a verdade dos
fatos.
Por volta de 2 horas da manhã o juiz Peterson Barroso
emitiu a sentença. Entretanto a vitória dos familiares não foi
totamente assegurada, pois os policiais poderão recorrer em regime
semi-aberto.
Por mais que o veredito tenha sido amplamente
favorável às vítimas da chacina, não podemos nos iludir! Os
verdadeiros responsáveis por esta e por outras chacinas no estado
continuam livres, e mais, ocupam os cargos mais altos do governo. Não
basta punir os PMs, que por mais cruéis e assassinos que sejam, não
estavam ali por conta própria. Vestiam uma farda da polícia militar
e eram armados e pagos pelo Estado. E isto não é uma mera
casualidade.
A
cada ano a polícia do estado do Rio mata mais e mais pessoas (sendo
considerada a que mais mata no mundo). Isto se deve a uma política
de Estado que pretende impor o terror ao povo pobre, criminalizando
suas principais estratégias de sobrevivência (perseguindo camelôs,
cercando favelas com muros e câmeras) e exterminando, como
“insetos”, nos dizeres de um comandante do BOPE, milhares e
milhares de jovens e crianças pobres no Rio, como forma de manter o
“controle social”, ou seja, garantir que o lucro dos banqueiros,
dos grandes negociantes, da especulação imobiliária e demais
setores da classe dominante carioca continue crescendo e se
multiplicando em cima da mais cruel e brutal exploração e repressão
sobre o povo.
Esse
é o papel da polícia e da atual “política de segurança pública”
do Sr. Sérgio Cabral e de seu secretário de segurança José
Mariano Beltrame, que já vitimou mais de 2 mil pessoas entre
2008/2009.
É
esta situação que precisa ser mudada. A mobilização popular que
proporcionou a condenação dos responsáveis pela chacina do Morro
do Estado é só uma mostra de como somente o povo pode derrotar seus
inimigos e fazer justiça, por mais ínfima que seja. Agora é hora
de todos os moradores de favelas e bairros pobres do Rio se
organizarem para exigir o fim desta política de criminalização e
extermínio de pobres promovida pelo governo do estado, exigindo
também reparação financeira pelos atos cometidos pelos seus
agentes.
É
hora de todos os democratas, progressitas e lutadores do povo
apoiarem e participarem de toda forma de resistência do povo pobre
contra este estado de coisas, repudiando o “choque de ordem”
fascista de Eduardo Paes, e exigindo o fim todas as operações
políciais nas favelas do Rio, que visam causar o terror para conter
a cada vez maior insatisfação popular contra a miséria, o
desemprego, e a falta de perspectivas promovidas por este Estado
brasileiro de grandes burgueses e latifundiários, sempre serviçais
do imperialismo.
CEBRASPO
28
de setembro de 2009