quarta-feira, 3 de abril de 2024

 




VITÓRIA DA LUTA POPULAR: absolvição dos 23 manifestantes de 2013 e 2014.


Após quase 10 anos de um processo calcado em nenhum ato material que configura a prática de crimes, o Judiciário finalmente reconheceu que os jovens que participaram das Jornadas de luta popular, de 2013 e 2014 no Rio de Janeiro, não praticaram nenhum crime absolvendo-os de todas as acusações forjadas. Era difícil admitir o contrário: todo o processo, com seus 48 volumes, era pura farsa montada em cima de depoimentos de policiais e agentes da Força Nacional infiltrados sem ordem judicial. Desde o início ficou evidenciada a tentativa de criminalizar o protesto popular.

Com a declaração de ilicitude das supostas provas por parte do STF e sua consequente retirada do processo, nada mais restou que pudesse ser enquadrado no Código Penal e caiu por terra toda a farsa montada - lembramos que a denúncia oferecida pelo Ministério Público foi aceita pela 27 Vara Criminal em apenas 2 horas. 

Desde o início deste longo processo no qual o CEBRASPO esteve a postos para contribuir com a campanha em defesa dos ativistas envolvidos e de todas as organizações que estavam sendo criminalizadas, falávamos que tinha um conteúdo eminentemente político: era uma tentativa de intimidação e interrupção da luta popular que eclodiu em 2013. Em que pese a espontaneidade da emergência das manifestações, ali estiveram presentes o repúdio à deterioração das condições de vida, ao desemprego estrutural, ao sucateamento dos serviços de saúde e educação, ao aumento da violência policial e à criminalização da juventude, principalmente negra e pobre. E soma-se a este quadro a corrupção a olhos vistos nas obras do PAC, da Copa da FIFA e das Olimpíadas.

O governo Dilma à época poderia ter visto nas milhões de pessoas mobilizadas por direitos uma janela de oportunidade para romper com amarras históricas para que o país saísse de sua situação de nação espoliada pelo imperialismo e refém dos interesses do latifúndio e da grande burguesia, ambos monopolizadores de benesses do Estado. Em vez de enfrentar a derrama da dívida externa, tributo imperial aos banqueiros, passou leis anti democráticas como a Lei anti terrorismo e das organizações criminosas, usadas contra manifestantes em diversas ocasiões. Em conluio com Sergio Cabral que estava sendo cobrado nas ruas pela corrupção e o sumiço do trabalhador Amarildo pela UPP da Rocinha, e com o apoio monopólio de imprensa que já julgava os manifestantes como bandidos e terroristas, infiltrou ilegalmente agentes para montar a fraude deste processo, e de outros que ocorreram por todo o país.

Ao longo desses anos de infame processo e inequívoca perseguição e criminalização da luta popular, os danos aos envolvidos foram diversos: durante a maior parte desse período os 23 foram cassados em seus direitos e garantias constitucionais fundamentais. Perderam a liberdade de manifestação, pois foram proibidos de participar de reuniões e manifestações públicas; foram privados de seu direito de ir e vir, proibidos de se deslocar para fora do município do Rio de Janeiro; manifestantes não conseguiram empregos, servidores foram ameaçados de exoneração; alguns tiveram que amargar de forma injusta as iniquidades das prisões, um ativista ficou 7 meses em presídio de segurança máxima; além disso, familiares, principalmente os idosos, tiveram graves impactos em sua saúde. 

Saudamos a firmeza dos manifestantes diante da criminalização não só por parte das instituições do Estado, mas também da imprensa monopolista. Saudamos também a solidariedade das mais diversas entidades e de todas as defensoras e defensores dos direitos do povo que mantiveram a campanha em defesa dos 23 por todo esse período através de atos, debates, panfletagens e da solidariedade ativa com os familiares. Queremos destacar especialmente o esforço de mães, companheiras/os e demais familiares, pessoas que adquiriram muitas vezes consciência dos determinantes políticos do processo durante as campanhas e que foram baluarte do trabalho de defesa do CEBRASPO. Saudamos os advogados populares que atuaram com firmeza no processo e todos aqueles que contribuíram no campo jurídico para demonstrar a fraude processual. 

Lembramos especialmente de dois lutadores incansáveis que não estão mais fisicamente conosco e que dedicaram a maior parte do final da sua militância nessa campanha: José Sales Pimenta e José Maria Galhasi, membros fundadores do CEBRASPO e destacados defensores dos diretos do povo no campo e na cidade

Companheiro Jose Pimenta, Presente na Luta!

Companheiro José Maria, Presente na Luta

A absolvição dos 23 é uma retumbante vitória política!  O que foi ganho nos tribunais é expressão da derrota daqueles que tentaram criminalizar e apagar o legado de junho de 2013 e a luta contra a Copa em 2014. E não temos dúvidas de que a luta popular alcançará novos patamares pois as causas presentes em 2013 persistem e são mais graves. Os golpistas que querem retirar os direitos democráticos para aprofundar essa ordem econômica e social em crise, em face da ameaça que 2013 representou de mudança real, estão aí presentes, não foram punidos. O governo de turno não garante os direitos do povo, aponta em nenhuma direção da manutenção a garantia dos direitos do povo. Vejamos em São Paulo onde jovens que iam a uma manifestação estão sendo processados na Justiça Federal por abolição violenta do Estado democrático de direito. Vejamos o campo, onde lutadores pela terra são criminalizados e perseguidos por agentes do Estado e capangas dos latifundiários

Convocamos as forças populares a se manterem ativas e vigilantes pois se 2013 virá novamente maior e mais forte, caberá aos verdadeiros democratas e defensores dos direitos do povo denunciar e lutar contra todas as formas de perseguição e criminalização do movimento popular.



LUTAR NÃO É CRIME!

VIVA AS MANIFESTAÇÕES POPULARES DE 2013 e 2014



 

Estado é condenado a pagar indenização por morte de jovem em 2008.

Jovem Andreu Carvalho foi torturado e morto  em unidade do Degase no ano de 2008.

A decisão da 7ª Câmara de Direito Público atendeu a um ação movida pela mãe de Andreu Luiz Carvalho, Deide Silva Carvalho. Ela também pedia a condenação de seis acusados de envolvimento no episódio e que atualmente aguardam definição sobre o julgamento. 

O jovem sequer foi julgado. Na véspera do Ano Novo ele foi preso por policiais militares ao sair da Praia do Arpoador, na zonal sul da cidade, acusado de ter roubado um celular, foi levado para o Centro de Triagem e Recepção do Degase, local em que foi torturado até a morte. 

Deise Carvalho avalia junto com os advogados que acompanham os processos se vai recorrer da decisão em tribunais superiores em Brasília, considerando que o valor da condenação, atualizado, desde 2008, pode passar de R$ 500 mil.