Segundo informe da Organização das Nações Unidas, o número de pessoas que tiveram que abandonar suas residências devido a guerras e perseguições superou a marca de 50 milhões, sendo o maior desde a Segunda Guerra Mundial. O número oficial de 51,2 milhões de refugiados, desabrigados, ou a procura de asilo, é 6 milhões a mais que os 45.2 milhões relatados em 2012. Outro recorde foi o de 25.300 pedidos de asilo de crianças que foram separadas ou estavam desacompanhadas dos pais
O alto-comissário da ONU para refugiados, António Guterres disse em entrevista que "Os conflitos estão se multiplicando, mais e mais" e que “"O mundo está se tornando mais violento, e mais pessoas estão sendo forçadas a fugir".
O que não consta porém no relatório da ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, divulgado no dia 20 de junho, Dia Mundia do Refugiado, é o caráter imperialista dos conflitos que têm expulsado famílias de seus lares e submetido povos a guerras civis e invasões de forças estrangeiras.
O Afeganistão ainda se mantém em primeiro lugar como o país de onde mais fugiram refugiados com mais 2,5 milhões de pessoas no fim de 2013. Desde 2001 o país sofre uma invasão militar, iniciada sem autorização da ONU, precedida do bombardeio das Forças Armadas dos EUA e Reino Unido ao território afegão. A invasão imperialista prosseguiu com aval da ONU, como forças de “estabilização” tendo EUA a cabeça e como principal força, mas também teve apoio de forças do Reino Unido, Alemanha, França, Itália, entre outros países. O enorme número de refugiados é apenas uma das consequências devastadoras da invasão militar que há mais de 12 anos, contando com amplo poderio bélico, enfrenta a resistência do povo afegão. O genocídio, as denúncias de prisões clandestinas mantidas pelo governo dos USA, as inúmeras violações de direitos humanos e do direito de autodeterminação do povo afegão também são resultado da sede dos monopolistas para aprofundar e disputar a dominação sobre outras nações.
O aumento de 6 milhões no número de refugiados entre 2012 e 2013 foi impulsionada pelo conflito na Síria com mais de 2.5 milhões, além de 6.5 milhões de deslocados internos, que abandonaram suas casas mas ainda vivem no país. A Síria aparece em segundo lugar dentre os países de origem de refugiados na lista da ACNUR de 2013, evidenciando mais uma vez a tendencia do imperialismo de elevar esses números como resultado da tentativa de superar sua a crise por meio da guerra. O conflito entre os “rebeldes” financiados pelo imperialismo ianque através da CIA contra o governo de Bashar al-Assad apoiado pela Rússia já deixou mais de 100 mil mortos segundo a ONU.
Outros impactos das guerras disseminadas pelo imperialismo pelo mundo são sentidos nos países que recebem esses refugiados. Os países denominados como “em desenvolvimento” acolhem 86% dos refugiados enquanto países ricos 14%. O Paquistão recebe 1,6 milhão dos refugiados afegãos.
O país de onde mais partiram refugiados para o Brasil é Bangladesh. Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), no ano passado, até novembro, 1.830 bengalis entraram no Brasil e solicitaram status de refugiados. Bangladesh possui a segunda maior indústrias têxtil do Mundo, fornecendo para monopólios transnacionais como a americana Walmart, a francesa Carrefour e a sueca H&M. Com péssimas condições de trabalho, as fábricas têxteis são chamadas de “atelies da miséria”, com salários que no ano passado estavam em cerca de 38 dólares por mês. A miséria causada pela superexploração dos monopólios é agravada pela disputa entre as classes dominantes expressa nos conflitos entre dois partidos, o atual governista Liga Awami e o Partido Nacional de Bangladesh. Em 2012, o número de pedidos de reconhecimento como refugiados de bengalis no Brasil era de 280, tendo um acréscimo de 1.550 em 2013.
Além disso o Brasil tem sido destino de imigrantes do Haiti, país invadido por missão militar da ONU (MINUSTAH). A missão comandada pelo Exército Brasileiro dá maior segurança aos ianques de que as coisas estarão sob controle no seu pretenso quintal, enquanto a maior máquina de extermínio do mundo pode ficar mais livres para atacar outras nações, como fez com Iraque e Afeganistão. Desde 2010, ano em que um terremoto devastou o Haiti, só o estado do Acre recebeu mais de 20 mil haitianos que recebem visto humanitário para morar no Brasil, mas vivem em péssimas condições. No ano passado mais de 2600 haitianos foram transferidos para São Paulo sem que houvesse estrutura adequada de abrigos para recebê-los.
No Líbano, em 2014, o número de refugiados sírios ultrapassou 1 milhão, sendo que o Líbano, de acordo com dados de 2012, tinha uma população de 4,4 milhões, o número de refugiados corresponde a quase um quarto dessa população, ou seja, um refugiado para cada quatro libaneses. Além disso o Líbano abriga 450 mil palestinos. Em três anos de guerra na Síria, o Líbano se tornou o país com maior população per capta de refugiados do mundo afetando o país econômica e politicamente.
Infelizmente tudo indica que o quadro de refugiados deve se agravar. A cada dia, funcionários do órgão da ONU registram 2,5 mil novos refugiados sírios no Líbano. A agudização dos conflitos no Iraque, diretamente ligada a invasão americana de 2003 e ao conflito no país vizinho, a Síria, impulsionarão ainda mais o número de refugiados no mundo para cima. Cerca de 300.000 iraquianos, pela contagem oficial, fugiram do conflito no norte do Iraque e buscaram abrigo na região autônoma do Curdistão iraquiano, no início de junho.O problema relatado pela agencia da ONU tem origem no próprio caráter do imperialismo e se intensifica com o aprofundamento da crise dos monopólios internacionais e das tensões entre estes. Assim como durante as grandes guerras do passado, hoje o desejo imperialista de superar sua crise com guerras causa um contingente gigantesco de refugiados.
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