quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Eles lutavam por todos nós - Gregório Duvivier

 É preciso conscientizar de novo a opinião pública para lembrar que os 23 ativistas processados no Rio por ação criminosa lutavam por nós 

Gregorio Duvivier
TENDÊNCIAS/DEBATE - Coluna do Jornal Folha de S. Paulo




Ninguém está falando sobre isso, mas 23 ativistas estão sendo processados por associação criminosa armada --embora não haja arma, nem crime, nem associação. Além da ausência de antecedentes criminais, os ativistas têm em comum apenas o fato de terem participado das manifestações de junho e, no ano seguinte, dos protestos contra a Copa. Só. A maioria se conheceu na cadeia.
Não se sabe qual o critério escolhido para prendê-los, já que milhões de pessoas protestaram entre junho de 2013 e junho de 2014 (dentre as quais eu), mas o critério parece ter sido o fato de serem, em sua maioria, professores.

Depois de meses de escuta telefônica em que até os advogados de defesa foram grampeados (isso, sim, é crime, senhor juiz) nada pode ser dito, de fato, contra os manifestantes.

Em um dos telefonemas, Camila Jourdan, professora da UERJ, pergunta se o amigo vai levar os "livros" e as "canetas". O código poderia ter passado desapercebido, mas a polícia fluminense, que anda vendo "Sherlock" demais na HBO, descobriu se tratar de uma mensagem cifrada. "Livros" seriam bombas e "canetas", armas.

Imediatamente após decriptar a intrincada linguagem anarquista, a polícia, sem mandado de busca e apreensão, invadiu e revistou a casa dos ativistas. Não encontrou nada.

Aliás, encontrou. Livros e canetas. Mas não só. As casas tinham uma quantidade suspeita de camisetas pretas. Em algumas, máscaras de gás e, em uma delas, encontraram uma garrafa de gasolina (aquele líquido usado para abastecer carros e geradores). Mesmo assim, sem flagrante, foram presos --para, algumas semanas depois, serem soltos.

A mesma sorte não teve o único preso que é analfabeto, Rafael Braga. Ele está preso até hoje por ter sido encontrado portando uma garrafa de desinfetante Pinho Sol. Mesmo soltos, os manifestantes tiveram seus direitos políticos cassados. Enquanto aguardam julgamento, não podem participar de nenhuma reunião pública nem abandonar sua comarca.

O julgamento ocorre nesta sexta (30) e, apesar de não terem cometido crime algum previsto no Código Penal, tudo indica que os manifestantes serão condenados pelo juiz Flávio Itabaiana. Notável reacionário que se orgulha de nunca ter absolvido alguém, Itabaiana tem em mãos um processo de 7.000 páginas.

O que é que o Itabaiana tem? Não tem torso de seda nem saia engomada --tampouco tem a lei a seu favor. A grande peça no tabuleiro de Itabaiana é a opinião pública. A mesma mídia que condenou as manifestações e que logo depois passou a festejá-las, voltou-se novamente contra elas quando da morte trágica do cinegrafista Santiago Andrade. (Não há qualquer ligação entre os 23 processados e a morte de Santiago.)

Graças ao investimento de parte da mídia que queria a reeleição de um governador, manifestar virou sinônimo de matar cinegrafistas e eis que o gigante adormeceu --a golpes de reportagens tendenciosas e manchetes repulsivas. Resultado: a polícia desceu o pau, a classe média aplaudiu e o Brasil voltou a ser aquele país sem revolta.

A muita gente interessa a calmaria: na calada da noite de Ano-Novo, aumentaram a passagem de ônibus em R$ 0,40. Se houve uma guerra, a máfia do ônibus saiu vitoriosa.

Vale tentar conscientizar de novo essa mesma opinião pública e lembrar que os 23 ativistas processados estavam lutando por nós. E querem continuar lutando --dando aulas, lendo livros, usando canetas. O aumento vertiginoso das passagens prova que a gente precisa deles, mais do que nunca.

GREGORIO DUVIVIER, 28, ator e escritor, é um dos fundadores do portal de humor Porta dos Fundos e colunista da Folha

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/205946-eles-lutavam-por-todos-nos.shtml 

domingo, 25 de janeiro de 2015

Gregório Duvivier, Eduardo Viveiros, José Maria de Oliveira apoiam campanha pelo fim dos processos contra manifestantes

No dia 12 de julho de 2014, véspera da final da Copa da FIFA, a Polícia Civil, com aval do juiz Flávio Itabaiana, fez uma operação para prender mais de 20 ativistas. Os presos foram encaminhados para o complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu. As prisões eram uma tentativa do Estado de intimidar a juventude que se levantou nas jornadas de junho e ainda mantinha a combatividade nas lutas contra a Copa da FIFA. A data das prisões visava evitar um protesto na Final da Copa. A repressão foi em vão, pois mesmo assim, no dia seguinte às prisões, a juventude saiu às ruas para protestar contra os gastos com os mega-eventos, e além disso, pela liberdade dos presos políticos e liberdade de manifestação. Nesse dia, mais uma vez, quem de fato cometeu crimes foi a polícia militar, que contou com um gigantesco efetivo para cercar o ato e agredir brutalmente os manifestantes. Igualmente criminoso foi o judiciário e a Polícia Civil ao participar desse conluio contra o direito de manifestação. Agora 23 ativistas respondem a um processo político que faz lembrar o regime militar fascista de 1964.




O inquérito policial da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), que provocou a ordem de prisão, chega a citar 70 organizações populares, como sindicatos, movimentos estudantis, páginas de internet, grupos culturais e de pesquisa acadêmica, coletivos de mídia, jornais, e organizações de luta popular em geral, ameaçando direitos democráticos fundamentais como a liberdade de organização, de expressão, de imprensa (que só é garantida aos grandes monopólios), e de manifestação. O papel assumido pela DRCI hoje se assemelha ao do antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Regime Militar, de polícia política, responsável pelo fichamento dos grupos políticos, de ativistas e democratas em geral.

Neste nefasto processo, Dilma e Pezão se unem utilizando suas forças de repressão (polícia militar e Força Nacional de Segurança) como "testemunhas" na tentativa de transformar os lutadores do povo em bandidos. Na verdade, bandidos são esses governos que roubam e desviam milhões às custas da miséria do povo, que assassinam todos os dias trabalhadores nas favelas e camponeses no interior do país.

Até o momento, o Estado mantém três jovens que respondem a esse processo encarcerados, Caio Silva e Fabio Raposo, que já estavam presos desde fevereiro de 2014, e o estudante de geografia da UERJ, Igor Mendes, por supostamente ter violado medida cautelar ao participar de uma celebração ao dia dos professores. Além deles, Rafael Braga está preso, condenado, mesmo depois de provado que o tal "coquetel molotov" que foi acusado de portar, não passava de uma garrafa de desinfetante. 

Igor, Caio e Fábio fazem parte dos 23 ativistas perseguidos políticos que respondem processo. Os outro 20 ativistas, mesmo estando fora das masmorras do sistema carcerário brasileiro, tiveram direitos suspensos por medidas cautelares. Elisa Quadros, a Sininho, e Karlayne Moraes, conhecida como Moa, foram obrigadas a passar para clandestinidade pela perseguição e criminalização do Estado, pois são consideradas até agora "foragidas" pelo judiciário. O crime de todos eles foi terem somado suas vozes ao grande grito de revolta dado em junho que até hoje ecoa pelo Brasil. O estopim da revolta veio com o aumento das passagens de ônibus para enriquecer ainda mais empresários de transporte, mas não foi apenas por 20 centavos. A revolta foi um dentre tantos levantes populares em séculos de exploração do povo, miséria e violência do Estado. Os 23 ativistas fazem parte dos milhões que se levantaram em 2013 e continuarão se levantando pelo país em defesa dos direitos do povo. Eles apenas representam o melhor da juventude, aqueles que lutam para transformar o país, por um futuro melhor, e que sonham com um mundo mais justo.

Com tamanha perseguição e criminalização desses militantes, suas mães e familiares que sofrem junto com esse processo formaram a Comissão de Pais e Familiares dos Presos e Perseguidos Políticos do Rio de Janeiro. Mesmo com apoio de advogados do povo que se voluntariaram na defesa dos ativistas, nossos filhos e filhas, existem inúmeros custos para enfrentar essas perseguições como viagens, cópias do processo que conta com mais de 7 mil páginas, cópias dos DVDs com escutas telefônicas, que já somam 11 mídias, digitalizações, e ainda panfletos, cartazes e faixas.

Para defender os direitos das nossas filhas, filhos e familiares, nós pedimos a ajuda e colaboração de todos.


Vakinha; http://www10.vakinha.com.br/VaquinhaE.aspx?e=337507

Tire uma foto de apoio e mande para nossa fanpage. Lá você também encontra as imagens da campanha:
https://www.facebook.com/CP4RJ


#LutarNãoéCrime
#EuApoioOs23
#LiberdadeDeManifestacao

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Mensagem do preso político Igor Mendes diretamente da prisão

"A todos meus queridos companheiros e companheiras,

Estava ansioso para enviar a todos vocês saudações militantes desde essa prisão que tem sido há 37 dias minha trincheira de combate. Não posso me alongar e também não é a oportunidade para relatar tudo que tenho visto e vivido aqui. Quero apenas ressaltar, desde já, que fui respeitado em minha condição de preso político por todos os presos com os quais convivi até hoje, eles se mostraram solidários com a nossa causa. A vida aqui é muito dura, não temos nada, a não ser uns aos outros.

Me sinto saudável, mas não tive ao longo de todos esses dias nenhum banho de sol e me tem sido sistematicamente negado o acesso a livros, papel e caneta. Recebi suas cartas e os informes da campanha pela nossa liberdade, que me encheu de ânimo e forças, pois tenho que corresponder à altura ao esforço que vocês fazem.

Fiquei muito feliz em saber que estão todos firmes e de cabeça erguida e na verdade não esperava outra coisa. É claro que não vejo a hora de recuperar minha liberdade para me dedicar ainda mais a nossa luta, mas, caso ocorra o pior não se abalem, pois a nossa convicção vale muito mais do que grades e algemas. Sairei daqui mais convencido de que o Brasil precisa de uma grande revolução, que derrube esse velho Estado burguês latifundiário que tanto oprime nosso povo.

Muito obrigado a todos.

Às companheiras Elisa e Karlaine um forte abraço, é uma vitória do movimento popular que essa prisão política e arbitrária não as tenha atingido, sigamos em frente, como diz a bela canção: 'Nada a temer senão o correr da luta'.

Lutar não é crime
Agora e sempre fascistas não passarão.
Resistir até o final.

Igor Mendes da Silva
09 – 01 – 2015"

Cena do Filme Zuzu Angel e a Farsa da Comissão da Verdade

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade foi o desfecho de mais uma encenação do velho Estado. O objetivo, apesar do que poderia parecer aos desacautelados, era continuar encobrindo os crimes dos militares e civis, mandantes e executores de torturas e assassinatos de lutadores do povo que ousaram enfrentar o regime. Enquanto finge se importar com o sofrimento dos familiares dos que foram torturados e mortos pelos militares, o governo Dilma/PT defende a manutenção da Lei de Anistia e a impunidade aos militares que cometeram e coordenavam os mais brutais crimes contra o povo e os direitos humanos.


A indignação de quem sofreu as torturas, de quem teve seus familiares assassinados e desaparecidos, e hoje lê o relatório da Comissão e assiste os apelos de Dilma pela conciliação com torturadores e assassinos faz lembrar a indignação de Zuzu Angel, retratada no filme de Sérgio Rezende, durante o julgamento de seu filho, Stuart Angel. O tribunal absolve seu filho, mas ele já estava morto depois de inúmeras torturas e seu corpo nunca foi encontrado. Os verdadeiros criminosos que ordenaram e praticaram a tortura, o assassinato e desaparecimento do corpo de Stuart e de muitos outros militantes permanecem impunes e no que depender de Dilma e PT, a impunidade prosseguirá.

"..e agora essa farsa em nome de um "Estado de Direito". Mas que direito é esse?"

Abaixo a Polícia Militar Fascista! Liberdade aos Manifestantes Presos!

A revelação das conversas telefônicas e mensagens do comando da PM carioca expõe claramente a natureza criminosa da política de repressão do Estado brasileiro, de seus gerentes e governantes. Expõe a inteira responsabilidade dessa orientação e dessa política pela reação da juventude ao se defender nas ruas. 


Todos sabem que as manifestações aumentaram e tomaram grande proporção em 2013 em função não só da sua legitimidade, mas particularmente da escalada de repressão sem precedentes. No Rio milhares de bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, taser, balas de borracha, balas reais. Enquanto mais de 3000 pessoas foram presas no país, só no Rio quase 1000 presos, chacina na Maré, caveirão nas ruas etc. Tudo isso seguido de ampla pancadaria, como comprovam muitos vídeos, em que a PM forja provas para incriminar manifestantes. Prática comum da PM, repetida milhares de vezes na repressão e nos assassinatos nas comunidades cariocas. 


Assim a campanha “Fora Cabral” tomou uma grande proporção. As atrocidades cometidas pelo comando da PM do Rio de Janeiro já eram bastante conhecidas pelo povo, que participou ativamente da campanha pelo esclarecimento do assassinato do pedreiro Amarildo, como repúdio as UPPs que reproduzem milhares de vezes essa prática “pacificadora”.



Coronel Fábio Souza junto ao secretário de segurança José Mariano Beltrame
Está agora ainda mais exposto porque a perseguição e as brutalidades contra os manifestantes não tiveram limites. A passeata de um milhão, em 20 de junho de 2013, foi seguida de uma caça de manifestantes nunca vista em todo o centro do Rio de Janeiro. As manifestações se seguiram sob a mais feroz repressão e a caçada e perseguição de manifestantes. Toda sorte de violência foi não só autorizada, mas estimulada diretamente pelo comando, exaltando a tropa com declarações de “Tonfa é o c...! 7,62(calibre de fuzil) mata eles tudo”, “porrada, paulada,tonfada, fuzilzada,mãozada”.

No Batalhão de Choque, ou no BOPE, se revezam os mesmos membros dessa quadrilha. A apologia ao nazismo é expressão comum aos Coronéis, Fabio Souza foi chamado para a segurança pessoal de José Mariano Beltrame, secretario de segurança, exatamente no momento que fazia apologia ao nazismo! Assim segue, no comando da PM, um criminoso é sempre substituído por outro do mesmo padrão!


Sergio Cabral parabeniza a repressão, já desde o começo, pelo comando nazista, chamando de “belo trabalho”. Após a violenta repressão para assegurar a farra bilionária da “Copa da Fifa”, Dilma Rousseff se vangloria e declara que a “segurança e controle policial” foram dirigidos e “organizados” diretamente pelo seu governo nos comandos unificados.

No Poder Judiciário, juízes como Flávio Itabaiana, a desembargadora Maria Angélica Guimarães e Sidnei Rosa da Silva insistem em dar prosseguimento a essa mesma política de criminalização e perseguição aos manifestantes. Reconhecem como “testemunhas idôneas” policiais e informantes da polícia, que dificultam a defesa e o trabalho dos advogados e que são os primeiros a rasgar as próprias leis que defendem!

Portanto convocamos todos os democratas, lutadores, defensores da justiça a se somarem a essa campanha e exigirem a imediata libertação dos presos políticos e a imediata extinção de todos os processos!