quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

RONDÔNIA - EXECUÇÃO E REPRESSÃO AO MOVIMENTO CAMPONÊS

Segue abaixo duas denúncias da Liga dos Camponeses Pobres que recebemos em nosso email, onde em pleno natal um grande apoiador da luta camponesa de Rondônia foi covardemente  executado.


Apoiador da luta camponesa foi brutalmente assassinado em Jaru


Por volta das 20 horas do dia 25 de dezembro, o companheiro Elias de Oliveira foi covardemente assassinado quando chegava em sua casa, no centro de Jaru, região central de Rondônia. Ele morava nos fundos de sua oficina mecânica Dom Pedro e tinha acabado de estacionar a caminhonete quando pelo menos um elemento chegou de moto e efetuou vários disparos de arma de fogo contra o companheiro. Ele foi socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos.

Elias era uma pessoa muito alegre, tinha muitos amigos e era um excelente pai. Sua família é muito trabalhadora.

Tio Elias, como era conhecido, possuiu um lote na área Lamarca, localizada há 50 Km do município de Theobroma, também na região central de Rondônia. No ano de 2000, mais de 100 famílias tomaram quase 1000 alqueires de terras públicas, que o latifundiário Catâneo dizia serem suas, e iniciaram o Acampamento Lamarca. Em 2004 os camponeses produziram 342 toneladas de arroz, milho e feijão, através do trabalho de ajuda mútua. As famílias fizeram o Corte Popular e dividiram os lotes entre si. Sempre lutaram pelos direitos à estrada, escola e energia, e resistiram bravamente à diversos despejos e ataques de policiais e pistoleiros. Hoje vivem e produzem com dignidade em suas terras conquistadas com muita luta.


Tio Elias decidiu sair de seu lote e abrir uma oficina mecânica em Jaru, mas nunca deixou de acompanhar e apoiar a luta camponesa em todo o estado. Ele sempre visitava a sede da LCP, comprava os jornais A Nova Democracia eResistência Camponesa, se indignava com os crimes do latifúndio e do velho Estado e vibrava com cada conquista dos camponeses. Ele era um entusiasta apoiador da LCP, transportava companheiros ou emprestava seus veículos, consertava carros muitas vezes fiado, socorria os que estavam com veículos estragados na estrada, sem se importar se era feriado ou tarde da noite. Tio Elias era um trabalhador dedicado, comerciante honesto, cobrava preços justos e tinha boa relação com seus funcionários.

Ainda não temos informações sobre o motivo e o autor ou autores desse assassinato covarde. Mas afirmamos que seguiremos lutando incansavelmente para que o sangue de nosso querido companheiro Elias e de tantos outros não tenha sido derramado em vão. Erguemos ainda mais alto a bandeira da Revolução Agrária, revoltados com o assassinato de mais um filho de nosso povo e animados pelo exemplo de trabalho, luta e solidariedade do companheiro Elias.

Companheiro Elias, presente na luta!
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental



Acampamento Monte das Oliveiras resiste a investidas da PM fascista de Confúcio e Ênedy

A polícia militar do gerente estadual Confúcio Moura / PMDB e o comandante geral Ênedy Dias seguem reprimindo os camponeses do Acampamento Monte das Oliveiras, localizado no lote 46, setor 14, no município de Espigão D'Oeste (no leste de Rondônia, na microrregião de Cacoal)No início de dezembro, policiais pararam um camponês vizinho do acampamento, mostraram a nota da LCP “Luta pela terra em Rondônia: mais repressão do velho Estado e mais resistência camponesa” (de 25 de novembro) e reclamaram da denúncia de que a polícia de Espigão é conivente com os crimes de pistolagem do latifúndio. Policiais, na mesma viatura 598 denunciada na nota, disseram: “É um absurdo nos acusarem, pois estamos aqui fazendo segurança para vocês.” E passaram então a fazer acusações absurdas contra nós, dizendo que os camponeses ainda não ganharam as terras por culpa da LCP que “segura” o acampamento para ganhar dois mil reais por mês por cada acampado.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

ÍNDIA - A ECONOMIA INDIANA NA PERSPECTIVA DE KOBAD GHANDY*

  *Kobad Ghandy é um preso político encarcerado na prisão central de Cherlapally, distrito de Rangareddy, Telangana

India – para debate – Um passo afrente, dois passos atrás: Kobad Ghandy sobre a desmonetização


"Seria a Índia um estado fraco que pune apenas os pequenos e fracos? O infrator rico e bem conectado sai praticamente impune ... Ninguém quer ir atrás do infrator rico e bem conectado, o que significa que eles escapam com ainda mais [riqueza e poder]. Se quisermos ter um crescimento forte e sustentável, essa cultura de impunidade deve parar. (Indian Express 2016) "

O que Raghuram Rajan, ex-governador do Banco de Reservas da Índia (RBI), disse em janeiro de 2016 é surpreendentemente relevante para o que vemos agora com o exercício de desmonetização.

O que vimos no mês passado foram milhões de pessoas pobres e de classe média sem dinheiro para comprar comida e remédios, enfrentando longas filas para acessar seu próprio dinheiro dos caixas eletrônicos e bancos, enquanto os poderosos do Partido Bharatiya Janata (BJP) estavam em uma cerimônia de casamento de cinco dias da filha de Janardhana Reddy, um ex-ministro do BJP (também famoso como o chefe da mafia mineira Bellary). Nem os Reddys nem seus convidados se preocuparam em converter suas notas, ainda que essa função tenha começado quase quatro dias após o anúncio da desmonetização.

Em um país como a Índia, onde a corrupção se infiltra em praticamente todas as fendas da sociedade, lutar contra o dinheiro sujo e sua geração contínua deve ser uma tarefa importante para qualquer governo. O mau cheiro da corrupção não só assedia o cidadão comum a cada passo, como também evita o desenvolvimento, haja visto que até mesmo o menor dos projetos se imviabilizam, com algumas vezes até 50% ou mais das alocações engolido por políticos, burocratas, intermediários e contratados. Projetos sociais e de bem-estar são subvertidos; há uma estimativa de que apenas 10 paises (moeda) em cada rupia alcançam as pessoas afetadas.
Não há dúvida de que se a Índia quer sair de seu atraso e dos níveis de atrozes de empobrecimento, é essencial combater o dinheiro sujo e a corrupção. Mas pode a desmonetização conseguir isso? Detectar o estoque existente de dinheiro sujo não pode ser uma ação única. Uma tarefa igualmente importante é a prevenção da sua regeneração no futuro. A desmonetização nem sequer toca na segunda. Pelo contrário, a impressão de notas de valores mais elevados que 2.000 só facilita mais transações na economia negra.

Estoque monetário: A ponta do Iceberg

De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Finanças Públicas e Política (NIPFP) apresentado ao ministro das Finanças em dezembro de 2013, a economia negra poderia constituir 75% do produto interno bruto (PIB) da Índia (Mehra, 2014). Este relatório foi ignorado pelo então ministro das Finanças P Chidambaram, assim como pelo atual governo. A mídia também o negligenciou, optando por citar as estimativas do Banco Mundial sobre a economia negra em apenas 20 a 30% do PIB. Se não estamos dispostos a entender a escala do problema, como vamos enfrentá-lo seriamente? Aqueles que realmente querem enfrentar o dinheiro sujo com seriedade devem primeiramente publicitar este relatório. A 75% do PIB,  120 lakh crore de dinheiro sujo está sendo gerado a cada ano.
Compare isso com  14.6 lakh crore existente em  500 /  1.000 notas, o principal componente do estoque de dinheiro sujo. Mesmo supondo-se que 50% dessas notas compreendem o dinheiro sujo, isso significaria meros 7-8 lakh crore, ou seja, apenas 7% do total de renda suja sendo gerado. De fato, de acordo com o economista Swaminathan S Anklesaria Aiyar (2016),

“Como um estoque, provavelmente nem mesmo 2% do histórico dinheiro sujo são mantidos em dinheiro - quase tudo foi convertido em ouro, imóveis, investimentos financeiros, alguns em casas e muito se encontra no exterior ... O enorme estoque de dinheiro sujo foi lavado em há anos”.

Na verdade, de acordo com a Integridade Financeira Global, 3.3 lakh crore saiu do país a cada ano entre 2004 e 2013. Isso significaria um estoque gigantesco de  40 lakh crore que foi enviado para o exterior ao longo desses 12 anos. Estimativas não oficiais colocam o estoque total de dinheiro ilegal no exterior em  75 lakh crore. E nem um paisa disto foi aproveitado pelo governo BJP que prometeu trazer essa enorme quantidade de volta para casa.
Nem uma única pessoa mencionada nos papéis de Panamá foi repreendida. Ao contrário, muitos estavam para fugir do país com sua riqueza mal adquirida.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

RONDÔNIA - CRIMINALIZAÇÃO DE CAMPONESES EM LUTA PELA TERRA

Reproduzindo a denúncia que recebemos da Liga dos Camponeses Pobres sobre a prisão de camponeses em Rondônia:


"Jaru, 14 de dezembro de 2016

Prisão arbitrária de camponeses do Acampamento Enilson Ribeiro

Na manhã de hoje recebemos a informação de que vários camponeses do Acampamento Enilson Ribeiro foram presos arbitrariamente. A advogada popular Lenir Correia ligou na delegacia de São Miguel do Guaporé e confirmou a prisão de vários trabalhadores, sob a acusação de serem lideranças do acampamento e de terem provocado danos à fazenda Bom Futuro. Mas até o momento, não conseguimos confirmação dos nomes nem da quantidade de camponeses presos.

Breve histórico do Acampamento Enilson Ribeiro

Em julho de 2016, mais de 100 famílias ocuparam as terras do latifúndio Bom Futuro, de 11.500 hectares, na linha 14, Km 13, no município de Seringueiras. Quem se diz o dono das terras é Augusto Nascimento Tulha, médico reformado do Exército, um dos maiores grileiros de terra pública da região – fato confessado por ele na frente de um procurador da república, durante reunião na câmara municipal de São Miguel do Guaporé, em julho passado. O Incra entrou na justiça para retomar estas terras para reforma agrária, mas o processo se arrasta há 6 anos. Porém, em menos de 48 horas o juiz agrário Jorge Leal assinou uma liminar criminosa e sanguinária contra o Acampamento Enilson Ribeiro, e em apenas 4 dias o gerente estadual Confúcio Moura (PMDB) e o comandante geral da PM Ênedy Dias mobilizaram aparato de guerra contra as famílias. Mais de 150 policiais militares e ambientais, fortemente armados, cercaram o acampamento, atacaram homens, mulheres e crianças com bombas de “efeito moral” e gás lacrimogêneo, com tiros de borracha e de munição mais letal. Em um helicóptero, policiais fizeram voos rasantes e dispararam aleatoriamente em direção ao acampamento, com armas de guerra. O aparato repressivo do velho Estado e para-militar dos latifundiários impuseram verdadeiro terror aos acampados e à população de Seringueiras. Cercaram o Acampamento por vários dias, impedindo a entrada até de alimentos e remédios para as famílias. Impuseram toque de recolher na cidade e espalharam calúnias, mentiras e desinformações contra os camponeses em luta pelo sagrado direito à terra. A advogada popular Lenir Correia sofreu graves ameaças de morte. 5 camponeses foram presos arbitrariamente, 3 dos quais seguem encarcerados até hoje.
É urgente que camponeses, operários, estudantes, professores, trabalhadores em geral, pequenos e médios comerciantes, ativistas de movimentos populares e democratas de Rondônia e todo o país se levantem em defesa dos camponeses presos e demais famílias do Acampamento Enilson Ribeiro.

Quem acusa a LCP de terrorista são os maiores criminosos

Esta é mais uma ação da odiosa campanha contra a LCP e contra o campesinato pobre: criminalização, calúnias, ameaças, despejos arbitrários, prisões, torturas, desaparecimentos e assassinatos. Como vimos denunciando, um verdadeiro terrorismo de Estado, que se incrementou com a posse do Coronel Ênedy para o comando geral da PM de Rondônia, há quase um ano. Um dos principais objetivos é acobertar o maior roubo de terras públicas no Brasil neste século, em curso no estado, através do Programa Terra Legal, invenção da gerência petista que segue sendo aplicado agora por Temer e sua quadrilha. Latifundiários armados até os dentes não se cansam de cobrar a aplicação deste programa e de mais repressão contra os trabalhadores, ameaçando promover banhos de sangue por conta própria, enquanto os monopólios da imprensa seguem destilando todo seu veneno contra a honrada LCP e os bravos camponeses em sua luta sagrada pela terra.
Sérgio Pires – papagaio-de-pirata de latifundiários e puxa-saco dos políticos mafiosos de Rondônia – no último dia 07, mais uma vez usou sua coluna para vomitar todo seu ódio, desinformação e reacionarismo: O TERROR NO CAMPO Na região de Seringueiras, a Liga dos Camponeses Pobres continua tocando o terror. O grupo, armado, pratica atos de terrorismo impunemente (…) sob os olhares cândidos das autoridades. Quem, desse grupo que faz o que quer, que desrespeita as leis e a polícia, que atira em helicópteros da PM; que mata o gado saudável, que atira contra fazendeiros, está na cadeia? Quem foi condenado e está cumprindo pena? Quantas armas desses terroristas da zona rural rondoniense já foram apreendidas? A LCP continua impondo o regime do terror em várias regiões do Estado e principalmente próximo a Seringueiras, sem ser molestada. Parece que está num outro país, sem lei e sem ordem. Até quando?”
As últimas prisões, uma semana depois é mais uma prova de que a função do monopólio da imprensa é criminalizar a justa luta do povo para justificar sua repressão mais sanguinária.

sábado, 10 de dezembro de 2016

ARSENAL DE GUERRA É ENCONTRADO NA POSSE DE LATIFUNDIÁRIOS

Reproduzimos denúncia feita pela Liga dos Camponeses pobres sobre a descoberta de armamento pesado em poder dos latifundiários.


E ENTÃO, SENHORES? MINISTÉRIO PÚBLICO DO MATO GROSSO APREENDE ARSENAL EM LATIFÚNDIO DE MINISTRO DE TEMER





A foto do arsenal é do MPE-MT. A reportagem abaixo do site “De olho nos ruralistas”:

Acompanhado pelas polícias Militar, Civil e Ambiental do estado, o MPE buscava 1.900 cabeças de gado quando se deparou com arsenal, nas propriedades Paredão, Jaturana e fazenda Shangrilá. A fazenda Paredão é de Marcos Antônio AssiTozzati, ex-assessor de Padilha. Como não possui sede própria, ela utiliza a estrutura da fazenda Jasmin Agropecuária, que pertence ao ministro – um dos principais do governo Temer. Nos alojamentos da Jasmin foram encontradas mais duas espingardas calibre 36.

As equipes também encontraram provas de desmatamento em área de preservação permanente e produtos tóxicos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. A apreensão do gado foi determinada para cessar os danos ao meio ambiente, conforme a Lei 9.605/98 (impedir ou dificultar a regeneração de vegetação). Caso Tozzati, apontado como dono do gado, não retire o rebanho em um prazo de 72 horas, terá de pagar uma diária de R$ 1 mil por cabeça.

As fazendas ficam no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, fronteira com a Bolívia, a 520 quilômetros de Cuiabá.

Trabalho escravo

Na Fazenda Paredão, os fiscais identificaram péssimas condições nas acomodações dos funcionários, com presença de galões de gasolina e vasilhames de agrotóxicos. O MPE encaminhou fotos dos alojamentos para o Ministério do Trabalho. Há suspeita de trabalho análogo à escravidão.

A operação já bloqueou R$ 108 milhões em bens, determinadas pela Justiça de Mato Grosso por degradação ambiental em 51 propriedades rurais. A esposa de Padilha, Maria Eliane, também teve  R$ 3 milhões bloqueados pela Justiça. Ela é sócia do ministro em uma das fazendas. As decisões são do juiz Leonardo de Araújo Costa Tumiati.

Ao Ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) estão subordinados o INCRA e a FUNAI, que seriam os órgãos responsáveis pela “Reforma Agrária” e pela “regularização dos territórios indígenas”.
Confúcio Moura Temer e ÊnedyConfúcio Moura Temer e ÊnedyE então senhores mafiosos e bocas porcas do monopólio da imprensa? Não vão falar nada agora? Porque se uma quantidade muito menor de armas fossem apreendidas com um número muito maior de famílias camponesas (que muitas vezes lutando pela terra precisam se defender de grupos de extermínio da pm de Rondônia e de pistoleiros), os berros de “terrorismo”, “quadrilha”, “morte à LCP”, já estariam estampados em manchetes garrafais.