segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Filme 'Libertem Angela Davis & Todos os Presos Políticos' tem nome modificado no Brasil

O documentário "Free Angela & All Political Prisoners" que conta a história de luta de Angela Davis teve a tradução do seu título modificada no Brasil. No Brasil o filme entrou em cartaz apenas como "Libertem Angela Davis". Acontece que segundo a explicação que aparece no documentário, foi exigência da própria Angela Davis que no título constasse não apenas o nome de Angela, mas fosse um pedido de liberdade para todos os presos políticos.








Angela Davis era professora de filosofia e participou da luta em defesa dos direitos do povo americano particularmente da população negra contra a discriminação racial e a violência policial, que ganhava força com o movimento Panteras Negras. Integrante do Partido Comunista, Angela foi perseguida chegando a ser demitida da Universidade da Califórnia onde lecionava, no estado então governado por Ronald Reagan.

Em 1970, Angela se empenhava junto com os Panteras Negras na campanha pela liberdade de três militantes presos George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette. Meses depois ela estava na lista dos 10 mais procurados pelo FBI, acusada de participar de uma ação armada pela liberdade dos réus. Quando foi presa em Nova Iorque, uma enorme campanha pela liberdade de Angela Davis tomou conta dos EUA e se espalhou por outras partes do mundo. Depois de 18 meses de julgamento ela foi inocentada e liberta.

No entanto, o mesmo estado que a prendeu, mantêm outros inúmeros presos políticos. Um deles é Mumia Abu-Jamal, jornalista e integrante do Partido Panteras Negras. Mumia Abu-Jamal foi condenado a morte por, supostamente, matar um policial que espancava seu irmão, no início dos anos 80. Em 27 de março de 2008, a Corte Federal de Apelações dos EUA anulou essa sentença, convertendo-a em prisão perpétua. Desde 1981 Jamal permanece preso, nega que tenha sido autor do assassinato e denuncia as arbitrariedades em todo seu julgamento e o claro caráter político da prisão.



Mumia Abu-Jamal, preso político nos EUA desde 1981


Além dessa e de outras prisões políticas no território dos USA, existem diversas prisões do governo ianque espalhadas pelo mundo, incluindo as black sites, prisões secretas da CIA. A existência de tais locais foi negada pelo governo norte-americano, até 6 de setembro de 2006 quando o então presidente George W. Bush reconheceu que existem prisões secretas mantidas pela CIA. Documentos e fotos que vazaram dos serviços de inteligência americanos mostram que nessas prisões é frequente a prática de torturas de todos os tipos e que até mesmo sua própria existência já fere direitos humanos internacionais.



Presos políticos e prisioneiros de guerra sendo torturados por soldados
 americanos em Abu Ghraib, Iraque

Nesse contexto fica claro porque Angela Davis, como histórica ativista pelos direitos do povo, exigiu que o título do documentário sobre sua vida  citasse a liberdade para "todos os presos políticos". A dúvida que fica é: por que no Brasil esse pedido foi desprezado? 


Aqui o tema das prisões políticas segue tendo bastante importância, principalmente depois das jornadas de junho de 2013. Três jovens permanecem presos em processos marcados pelo interesse de empresários de transporte, pelo julgamento dos monopólios de imprensa, pelo racismo, pelo caráter de classe das leis e do judiciário brasileiro. São eles Caio Silva, Fábio Raposo e Rafael Braga. Caio Silva e Fábio Raposo estão presos e sofrendo os terrores do sistema penitenciário desde fevereiro, acusados de homicídio doloso, mesmo nunca tendo qualquer intenção contra a suposta vítima, e sem representar qualquer "perigo", mas sendo na verdade eles próprios também vítimas da cruzada anti-protestos que teve o empenho de todas as esferas do executivo, do legislativo, judiciário e da grande imprensa. Rafael Braga como um caso a parte é claramente uma vítima de racismo e discriminação da polícia e do judiciário que o mantêm preso sob uma acusação comprovadamente falsa pela própria polícia civil.


Cartaz do CEBRASPO pela liberdade dos presos políticos do
 Rio de Janeiro, Fábio Raposo, Caio Silva e Rafael Braga

Além desses que seguem presos, muitos outros processos políticos estão abertos contra manifestantes detidos em protestos. Se destaca o processo de mais de 20 ativistas, presos em uma grande operação da policia civil do Rio de Janeiro na véspera da Copa da FIFA. Entre eles estão um profissional da saúde, estudantes, uma advogada, professores, incluindo a Dra. Camila Jourdan, professora universitária de filosofia assim como Angela Davis, que leciona na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. Camila Jourdan, junto com a ativista "Sininho" e outros indiciados no mesmo processo político, ficou presa por 13 dias no Complexo Penitenciário de Bangu e agora responde ao processo fora do sistema penitenciário. Não podemos dizer que responde em "liberdade" já que todos  indiciados desse caso estão proibidos de sair da cidade e de participar de reuniões públicas mesmo estando evidente o caráter arbitrário e político do processo. 

O que todos aqueles que defendem os direitos do povo esperam é que a memória do caso de Angela Davis e de sua luta desperte a consciência para a importância que a mesma luta tem hoje no mundo e no Brasil, em defesa da liberdade de presos políticos e contra a criminalização das lutas populares.


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