No dia 12 de abril, a injusta decisão judicial de reintegração de posse contra as famílias do acampamento Manoel Ribeiro foi suspensa por tempo indeterminado.

O acampamento Manoel Ribeiro é formado por famílias que desde agosto de 2020 retomaram a fazenda Nossa Senhora Aparecida (N.S.A.), no município de Chupinguaia, próximo ao município de Corumbiara. Esta fazenda é a última parte da antiga fazenda Santa Elina que em 1995 foi palco da heroica resistência camponesa, no que ficou conhecido como “massacre de Corumbiara”. É importante ressaltar, a fazenda N.S.A. não é “anexa” nem “vizinha”, ela é a própria Santa Elina, conforma as terras restantes de onde foi derramado tanto sangue camponês e indígena. O Hélio Pereira que se dizia proprietário da antiga Santa Elina, após os acontecimentos de 1995, a desmembrou em 3 latifúndios, Água Viva, Maranata e a atual N.S.A., que chegaram a ser colocadas como área de interesse da “reforma agrária” em governos passados. Mas por interesses politiqueiros, e pressão de latifundiários, a parte da N.S.A. ficou de fora do corte feito pelo Incra na época. Mas agora sua posse está sendo disputada pelos camponeses pobres que a retomaram, e o corte e entrega de suas terras aos camponeses pobres é parte de acerto histórico de dívida de sangue do latifúndio, do velho Estado e seus governos de turno com o povo.

Desde o final de março, atendendo as pressões dos latifundiários ladrões de terra da União, o governador de Rondônia, coronel pm Marcos Rocha, preparava um novo massacre de camponeses, assim como em 1995, nessas mesmas terras. Ordenou que as famílias do acampamento Manoel Ribeiro tinham que ser despejadas, e presas a qualquer custo, e designou para comandar essa empreitada criminosa nada menos que o carniceiro de Santa Elina, o seu secretário de segurança José Hélio Cysneiros Pachá, que já tem as mãos sujas de sangue desde 1995, quando teve função de comando na tortura e matança ocorrida em agosto daquele ano.

Desde então o governo de Rondônia gastou rios de dinheiro para mobilizar verdadeiro aparato de guerra contra as famílias camponesas e cometeu toda sorte de crimes e ilegalidades. Mesmo antes de haver qualquer ordem judicial, enviou tropas e aparatos da polícia para cercar e atacar as famílias do acampamento Manoel Ribeiro. Durante duas semanas inteiras, de forma ininterrupta mantiveram as famílias, cercadas por tropas e viaturas da polícia militar, com sobrevoos de helicópteros, e lançando ataques contra o acampamento diariamente e a toda hora, de manhã, tarde, noite e inclusive durante a madrugada. Fizeram várias tentativas de invadir o acampamento com tropa de choque, atirando com balas de borracha, com bombas, gás de pimenta, e inclusive com disparos de munição real. Mas em todas as vezes que entraram dentro da área, foram repelidos pela resistência dos camponeses.

Além de atacar o acampamento Manoel Ribeiro, ter prendido e espancado dois acampados, que seguem ilegalmente detidos até hoje, todas as áreas camponesas em volta foram afetadas pela ação criminosa da polícia a favor dos latifundiários e contra os moradores da região. As estradas foram sitiadas, bloquearam o direito de transitar livremente, os moradores que passavam eram abordados, submetidos a revistas humilhantes, a interrogatórios, intimidações e ameaças. Nessas abordagens exigiam ilegalmente as senhas dos telefones violando a privacidade das pessoas. De forma absurda, no pior momento da pandemia, além de fazer de tudo pra levar adiante um despejo, suspenderam os atendimentos do serviço público de saúde na região, incluindo a vacinação contra o corona vírus que também foi suspensa.

Em diversas ocasiões policiais invadiram propriedades dos camponeses vizinhos e próximos da área, chegando mesmo a cortar cercas e causar outros prejuízos. Também muitos são os relatos de espancamentos para que as pessoas pudessem dar nomes para serem acusados como lideranças do acampamento. E pelo menos dois camponeses foram arbitrariamente presos nessas circunstâncias.

E tudo isso pra quê? Para defender um punhado de ricaços (uma ínfima minoria da população), os latifundiários ladrões de terra da União. E latifundiários comprovadamente bandidos, como é o caso desses que se dizem donos da N.S.A. que além de herdarem a dívida de sangue do qual essas terras estão encharcadas, foram pegos em flagrante se servindo de bando armado de pistoleiros incluindo vários policiais de Chupinguaia, para atacar as famílias do acampamento Manoel Ribeiro. A situação era tão descarada, que em função de ação do Ministério Público, tiveram que prender esses policiais pistoleiros e outros guaxebas (como são conhecidos os pistoleiros em Rondônia) que foram contratados (por R$900 a diária) pelo latifundiário que se diz proprietário da N.S.A., o Toninho Miséria. O que o governo fez ao longo dessas últimas semanas foi substituir o bando armado composto de policiais e pistoleiros pela ação do próprio governo de forma oficial, porém ilegal, seguindo com os ataques às famílias.

Mas essa tem sido a função do velho Estado, seus governos de turno e sua polícia, cumprir com o seu lema de “servir e proteger”, mas não os interesses de todos, como querem fazer crer, mas servir e proteger os interesses dos ricos, dos grandes proprietários. Exemplos para comprovar isso não faltam, mas além da absurda atuação da polícia em torno do Manoel Ribeiro citamos apenas 2 exemplos recentes. Primeiro as operações em curso, da pm, para despejar as famílias que tomam posse da área conhecida como fazenda Vilhena, em favor do latifundiário ladrão de terra da União, o bandido conhecido como Nego Zen, que no passado já sequestrou, torturou e manteve em cárcere privado na sede da fazenda camponeses ativistas da LCP, e que somente após várias denúncias a polícia teve que os resgatar, e posteriormente o próprio Nego Zen foi preso com diversas armas junto de seus pistoleiros que compunham seu bando armado, mas logo tudo isso foi abafado. Outro exemplo é o recente protesto de produtores de leite da região do Vale do Anari, Theobroma e Machadinho D’Oeste, que faziam protesto pela queda no preço do leite, que de uma hora pra outra passou de 1,80 pra 1,20 o litro. Mais uma fez a polícia atuou contra o povo, e distribuiu cacetada, bala de borracha e spray de pimenta a vontade na cara dos manifestantes.

Para tentar justificar toda a injusta e covarde operação policial a favor dos latifundiários ladrões de terra da União e contra as famílias do acampamento Manoel Ribeiro, pintam os camponeses e a LCP como o pior dos demônios. Mentem, caluniam e atacam no objetivo de criminalizar a luta pela terra, de modo a isolar a luta e nossa organização, facilitar a perseguição, e repressão aos camponeses organizados. E nessa tarefa contam com a desinformação da imprensa lixo de Rondônia, que financiada pelo governo serve como porta-voz deste, e divulga aquilo que a polícia lhe sopra nos ouvidos.

E diante do fracasso dos planos do governo que pretendia em pouco tempo varrer com o acampamento Manoel Ribeiro, as mentiras e criminalização da luta camponesa em curso se elevaram enormemente. Em suas próprias declarações, deixam transparecer que não esperavam encontrar tanta resistência da parte dos camponeses. E buscam explicar que as famílias que se encontram no Manoel Ribeiro estão ali obrigadas pela LCP, que são elementos malfeitores, insanos, que não estão ali pela terra e sim por interesses partidários e outras mentiras.

Os lacaios dos latifundiários com todo seu aparato militar, seus rios de dinheiro, seus recursos e tecnologias para repressão, usam tudo isso para defender uma causa injusta, pra defender o velho, o atraso, a exploração, os privilégios, essa chaga da nossa Nação chamada latifúndio. Enquanto a resistência dos camponeses representam o novo, defendemos uma causa justa, lutamos pelos interesses da maioria, lutamos pelos direitos mais básicos e sagrados, para ter um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade, e além disso lutamos por justiça, por um poder de nova democracia e um Brasil novo sem exploração nem opressão, para nossos filhos e netos. Se nesses dias pudemos enfrentar e resistir de forma organizada e vitoriosa aos ataques covardes da polícia não é porque somos loucos, mas porque temos a convicção de que lutamos pelo que é justo. Essa é a fonte de nosso destemor e combatividade.

Mesmo diante da decisão judicial suspendendo a reintegração de posse, a polícia permanece na região. E com ódio redobrado, seguem mantendo as blitzes arbitrárias, abordando as pessoas a torto e a direito, humilhando, intimidando, ameaçando e cometendo as mais diversas ilegalidades. Seguem incomodando e prejudicando a população da região. Assim como o operativo militar contra o acampamento Manoel Ribeiro, a atual presença da polícia no entorno segue sendo justificada com a cinicamente denominada operação “paz no campo”.

Em vez de gastar os recursos, recolhidos com os impostos que nós pagamos, para arrumar as precárias estradas e pontes da região, imprescindíveis para o escoamento da produção (recentemente na região um caminhão de leite tombou por esse problema), para atendimento de saúde e educação nas áreas, assistência técnica, regularização da documentação das terras e outras reivindicações e interesses, não dos grandes, mas dos pequenos e médios proprietários, dos comerciantes e demais trabalhadores, o governo gasta o recurso público contra o povo e em benefício dos latifundiários ladrões de terra da União.

Além de manter ostensiva presença da polícia na região, já fazem ameaças de trazer a força nacional. Mas não nos intimidamos. Estamos ainda mais firmes, essas terras, da antiga fazenda Santa Elina, estão encharcadas com sangue de nossos irmãos camponeses e indígenas, não sairemos daqui. Essas terras pertencem ao povo e vamos brigar por elas até o fim. Como diz uma de nossas palavras de ordem “nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!”

Viva a resistência dos camponeses do acampamento Manoel Ribeiro!

Defender a posse das terras da área Manoel Ribeiro pelos camponeses!

As terras da antiga Santa Elina são do povo!

Abaixo a criminalização da luta pela terra!

Conquistar a terra, destruir o latifúndio!

Terra para quem nela trabalha!

Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!

 Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres

LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

15 de abril de 2021