A repressão que assassina os jovens pobres filhos do povo também atinge de forma violenta suas famílias. Na quinta feira, dia 07 de julho, depois de muitos meses lutando por justiça, morreu Jozelita de Souza de falência múltipla dos órgãos, hospitalizada há vários sem comer, decorrente de uma profunda depressão desde o assassinato de seu filho mais novo. Ela era a mãe de Roberto de Souza Penha, o Betinho de 16 anos, assassinado com mais de dez tiros na chacina de Costa Barros em novembro de 2015. Ao todo os PMs naquele dia dispararam 111 tiros somente no carro onde estava Betinho e outros quatro jovens.
Jozelita é vítima dessa política
de extermínio da população pobre. Ela sentia uma grande tristeza com a saudade
do filho e como disse uma das mães: “Só quem sente, sabe que mata!”. Mas, além
disso, existia a indignação, a revolta com toda a humilhação, com o descaso e o
desprezo, com o escárnio com que as instituições desse Estado tratam o povo.
Jozelita é vítima também dessa “justiça” de classe, que está sempre procurando
acobertar a ação criminosa dos policiais e que suspendeu a prisão preventiva
dos quatro PMs que cometeram esse crime hediondo. Em seguida essa mesma
“justiça” soltou os cinco policiais que foram filmados, por um morador da
Providência, assassinando e disparando novo tiro com a arma colocada na mão do
jovem Felipe depois de este ter sido morto por eles. Vídeos como esse, que
flagram policiais assassinando jovens desarmados e já rendidos, existem dezenas
na internet. Não são “casos isolados”.
É essa a realidade instalada no
Brasil, e particularmente no Rio de Janeiro. Agora nova onda de violência é
anunciada, porque assim como em 2013 e 2014, o Rio é entregue novamente para a
farra financeira de grandes grupos econômicos. Enquanto os que governam
decretam para todos os serviços públicos o estado de calamidade pública ao
mesmo tempo jogam bilhões nas olimpíadas. Um rebotalho de políticos que
representam a apodrecida natureza de classe desse velho Estado da grande
burguesia, do latifúndio e serviçal do imperialismo, que mergulhado em imensa
crise, cobra dos países dominados todos os recursos. E cobram consequentemente
também a suspenção das leis e a instauração do Estado de exceção. Promovem uma
deliberada “Guerra de Baixa Intensidade” contra as massas mais pobres a fim de
impedir que estas conheçam sua verdadeira força e lutem pelos seus direitos.
Mesmo assim o povo se revolta e
responde a tudo isso indignado, luta contra o fechamento dos hospitais, contra
a destruição da educação com estudantes ocupando e defendendo suas escolas,
professores lutando por seus salários e a dignidade da profissão. Mas para
esses governantes mafiosos, a vida dos que lutam, da juventude e do povo pobre
não tem nenhum valor. O surrado discurso de que os assassinatos de jovens
pobres nas nossas comunidades são casos isolados não engana ninguém. Não existe
polícia “despreparada”, existe a polícia preparada para fazer exatamente o que
faz. Os massacres como o de Costa Barros, do Chapadão, do Alemão, da Maré e
muitos outros se repetem continuadamente.
O povo do Rio conhece bem essa
prática de como os policiais agem nas favelas, perseguem, assassinam jovens
filhos do povo, alteram as cenas dos crimes, e ainda ameaçam familiares e mães,
como no caso do policial que matou o pequeno Eduardo de 10 anos no Complexo do
Alemão. Neste episódio, diante dos gritos da sua mãe a ameaçaram: “matei ele e
posso matar você também”.
Os batalhões da PM têm um extenso
histórico de crimes, assassinatos e genocídios. O hino do Bope deixa essa
prática bem clara. Os agentes das forças policiais matam ora fardados em
exercício da profissão, ora como milícias ou grupos de extermínio. Assassinam a
juventude nas regiões metropolitanas, assim como fazem no campo como
pistoleiros do latifúndio para assassinar índios e camponeses que lutam por
suas terras.
Parte ativa em tudo isso é o
trabalho do monopólio de imprensa, com a Rede Globo na cabeça, cumprindo o
criminoso papel de apresentar os assassinatos cometidos diariamente pela
polícia como fatalidade. Os filhos do povo nunca aparecem como vítimas, no
sentido de serem eles sempre o alvo das atrocidades praticadas pela
polícia. Esses meios repetem seguidamente que todos os jovens
assassinados “tem relação com o tráfico”. Todas as acusações forjadas pela
polícia, as armas plantadas, a deformação das cenas dos crimes são apresentadas
como verdade. Nos seus noticiários abordam a violência como se surgisse sempre
no meio das comunidades pobres, repetindo mil vezes que as matanças dos jovens
pobres fazem parte da “guerra às drogas”. Faz ampla cobertura
defendendo as ações de “pacificação” dos morros via UPPs, e quando morrem
policiais chamam de “assassinato”, mas quando se trata dos jovens pobres e
negros, a campanha é claramente de criminalização. Estes são imediatamente
acusados de marginais e traficantes e as mortes são sempre justificadas com a
culpa sendo colocada neles próprios. O alarmismo é feito para logo
em seguida pedirem “mais segurança”, mais repressão.
O povo não se esquece dessa
criminalização da pobreza feita pelo monopólio de comunicação, mesmo em
determinados momentos quando a realidade dos crimes contra a juventude comove e
choca a sociedade e esse monopólio se aproveita da comoção, colocando manchetes
como a “tristeza profunda de Jozelita” ou apresentando as mães no seu “Criança
esperança”, usando o profundo sentimento de dor dessas mães como se eles se
sensibilizassem com esse sofrimento. Todos sabem o papel que cumprem a Rede
Globo, Record, SBT, entre outros, para esconder seu verdadeiro e sinistro
objetivo de justificar e defender a repressão e o terror contra o povo pobre e
trabalhador.
Na segunda audiência sobre a
chacina de Costa Barros Jozelita estava na frente do Fórum exigindo justiça e
participando da luta. Muitas mães dizem que esse foi o 112º tiro dessa chacina.
Enquanto esse velho Estado segue destruindo as famílias pelas balas, pelo
desprezo, pela humilhação e pela absoluta falta de justiça, a luta das mães
segue crescendo. Neste caso a campanha de criminalização de seus filhos que
foram vítimas passa a ser combustível para a participação das mães nessa luta
que segue tomando força. Assim elas se unem cada vez mais para serem as vozes
de seus filhos e cobrarem justiça. E essa já é a decisão de uma grande parte
dessas mães.
Dessa forma convocamos a
população a se juntar às mães de vítimas da violência do Estado para exigir
punição para os assassinos de seus filhos e para denunciar as violências e
atrocidades que diariamente são cometidas nas comunidades e bairros pobres da
cidade.
Punição para todos os
mandantes e assassinos dos filhos do povo!
ABAIXO AO TERRORISMO DE
ESTADO!
Centro Brasileiro de
Solidariedade aos Povos - CEBRASPO
cebraspo@gmail.com
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