Na
data em que completa um ano da segunda maior chacina da história do Rio de
Janeiro, as mães e familiares de vítimas do Jacarezinho reúnem forças diante do
luto e realizam um ato de luta e homenagem aos seus 27 filhos e familiares,
brutalmente assassinados pelo Estado. Ao mesmo tempo, em uma ação de puro
escárnio diante do sofrimento dessas famílias, o Ministério Público (MP) decide
pelo arquivamento de dez das treze investigações que foram abertas pelo órgão
para apurar as mortes cometidas nessa operação. Cabe destacar que as
investigações não contemplavam a totalidade das execuções cometidas pelas
forças policiais, abrangendo apenas 24 das mortes que ocorreram no dia da
operação.
Como
resultado dessas “investigações”, o MP alega que os policiais agiram em
legítima defesa, mesmo afirmando que a perícia foi prejudicada pela remoção dos
corpos por parte de policiais, e também por não terem sido realizados exames
para constatar a presença de pólvoras nas mãos dos mortos. Afinal, foi essa
mesma imperícia que o órgão considerou para o arquivamento.
Perante
a ineficácia e alta letalidade de operações e incursões como essa, as forças
policiais e autoridades se limitam a dizer que os moradores mortos tinham
antecedentes criminais, como forma de justificar suas mortes. Assim como o
vice-presidente Hamilton Mourão, que declarou “Tudo bandido”, ao referir-se às
vítimas, o governador Cláudio Castro e a polícia civil qualificaram a dita
operação como “trabalho de inteligência”, desconsiderando completamente as
inúmeras evidências de execuções extrajudiciais.
Denúncias de
moradores, de entidades de Direitos Humanos e da Defensoria Pública do Rio de
Janeiro, relatam inúmeras violações de direitos, invasões de residências,
extrema violência armada e o desfazimento das cenas de crimes por parte dos
agentes policiais para impedir o trabalho da perícia. Muitos são os relatos de
testemunhas que presenciaram pessoas que morreram tentando se entregar para a
polícia, bem como, policiais invadindo residências para buscar e executar a
facadas, na presença de mulheres e crianças, pessoas feridas que buscavam
abrigo. Testemunhas falam sobre policiais impedindo qualquer prestação de
socorro e removendo corpos de pessoas mortas com evidente intuito de
impossibilitar a perícia. Além disso, os agentes também estavam encapuzados e
não usavam qualquer identificação.
Um
ano após essa barbárie, mães e familiares de vítimas de terrorismo de Estado do
Rio de Janeiro, enfrentando a dor mais profunda, reuniram-se nesse dia 06 de
maio no Centro Cultural do Jacarezinho, organizando-se com muito esforço para
acolher e abraçar umas às outras, aos familiares e crianças da comunidade e aos
apoiadores que estiveram presentes.
Nesse
ato foi possível testemunhar a enorme solidariedade e clareza que o povo tem
acerca do caráter genocida e fascista das ações do Estado policial militarizado,
que atua por meio de seus órgãos para legitimar a letalidade e a impunidade das
ações policiais, justificando as mortes do povo nas favelas e periferias. Como
disseram várias mães na ocasião: “A polícia aperta o gatilho, mas o Ministério
Público e o Judiciário continuam matando nossos filhos com a caneta.”
Nos
solidarizamos com os moradores da favela do Jacarezinho e de todas as favelas,
que mesmo sob o terror imposto pelas forças policiais continuam se organizando
e indo às ruas para protestar contra a covardia a que estão submetidos. Ao
transformar seu luto em luta, as mães e familiares lutam por todos os filhos,
de todas as favelas, denunciando o terrorismo desse Estado que trata o povo
como inimigo interno, legitimando suas mortes. Apoiamos todas as iniciativas
que surjam para denunciar os crimes contra a população das favelas do Rio de
Janeiro e defendemos o direito do povo se organizar e produzir com a sua luta
formas de garantir seus direitos, especialmente o mais elementar que é o
direito à vida.
Convocamos
todas as entidades democráticas e progressistas a se manifestarem contra esse
crime de estado e contra a impunidade, exigindo a reabertura das investigações
e a punição aos mandantes e executores desta barbárie cometida contra o povo
trabalhador.
Não
serão esquecidos os 27 moradores mortos:
Omar Pereira da Silva, 22 anos; Caio da Silva Figueiredo, 17 anos; Rômulo de Oliveira Lúcio, 30 anos; Matheus Gomes dos Santos, 21 anos; Francisco Fabio Dias Araújo Chaves, 25 anos; Cleyton da Silva Freitas de Lima, 26 anos; Diogo Barbosa Gomes, 28 anos; Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos; Evandro da Silva Santos, 49 anos; Bruno Brasil, 39 anos; Tony da Conceição, 30 anos; Isaac Pinheiro de Oliveira, 23 anos; Wagner Luis de Magalhães Fagundes, 38 anos; Natan Oliveira de Almeida, 21 anos; Rodrigo Paula de Barros, 31 anos; Maurício Ferreira da Silva, 28 anos; Marlon Santana de Araújo, 23 anos; Jonas do Carmo Santos, 32 anos; Márcio da Silva Bezerra, 43 anos; Jonathan Araújo da Silva, 18 anos; John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos; Carlos Ivan Avelino da Costa Junior, 32 anos; Raí Barreiros de Araújo, 19 anos; Guilherme de Aquino Simões; Pablo Araújo de Melo, 21 anos; Pedro Donato Santa’ana; Luiz Augusto Oliveira de Farias, 40 anos.
Abaixo o terrorismo de
Estado!
Pelo fim imediato das operações, ocupações e da farsa do
programa Cidade Integrada nas favelas do Rio de Janeiro!
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