quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

ÍNDIA: AMIT BHATTACHARYYA HOMENAGEIA JOSÉ PIMENTA

Compartilhamos a seguir uma homenagem que recebemos do Professor Amit Bhattacharyya, importante ativista indiano defensor dos direitos do povo, para o evento de homenagem ao companheiro José Pimenta.


Amit Bhattacharyya em visita ao Rio de Janeiro em 2011


"Uma mensagem em memória ao meu querido amigo, Pimenta


É realmente muito doloroso saber sobre a saída precoce do Pimenta desse mundo. Eu lembro distintamente da primeira vez que o conheci. Minha primeira viagem ao Brasil foi possível graças ao gentil convite que eu recebi da Universidade Federal Fluminense para falar na conferência ‘Índia: Uma Realidade História e Social’ em agosto de 2011. A viagem provou ser não apenas educativa, mas enriquecedora e empolgante, também, para mim. É necessário passar por isso para acreditar. O calor, a amizade e o amor do povo do Brasil que eu recebi viverão profundamente na minha memória.

O dia em que desembarquei no aeroporto do Galeão, de São Paulo para o Rio de Janeiro depois da meia noite em 3 de agosto de 2011, eu fiquei sabendo sobre uma greve em andamento iniciada por professores escolares. Meus amigos — Raquel, Pimenta e Fatima me aguardavam no aeroporto. Foi o Pimenta que dirigiu o carro que nos levou à casa de Nazira. No caminho, eu notei muros de ferro em ambos os lados da estrada, em ao perguntar, fui informado que esses muros foram erigidos para esconder as regiões de favela da vista do público. Esse foi o meu primeiro encontro com o Pimenta e o povo pobre do Brasil. Pimenta parecia, para mim, um homem na casa dos 40 anos, bonito, em forma e de temperamento bastante jovial.

Desde então, Pimenta foi meu companheiro em muitas ocasiões—em seminários, visitas à praia de Copacabana, dirigindo carros e bebendo Caipirinha de cachaça no restaurante. Uma vez ele me disse alegremente, ‘Amit, você tem um bom português’, quando meu conhecimento era limitado ao ‘bom dia’ e ‘obrigado’.

A última vez que eu visitei o Brasil, em 2016, fiquei em sua casa no Rio por alguns dias. Dividi muito momentos felizes com ele, seu filho, a Raquel e outros. Naquela vez, também, e pela última vez, ele me deu uma carona ao aeroporto para minha despedida.

O povo do Brasil, como eu vejo, tem passado por tempos difíceis e tem lutado para transformar o que é ruim em bom. Eles têm lutado contra injustiça, exploração, humilhação e repressão para criação de uma nova sociedade democrática, onde valores humanos triunfem sobre a ganância pelos lucros. É uma luta que vale a pena. Pimenta foi um corajoso participante dessa nobre luta pela causa do povo. Pode-se sentir a dor e o sofrimento que ele teve que passar durante seu período de doença.

Deixe-me prestar minha respeitosa homenagem à sua memória e transmitir minha condolências ao seu filho, seus camaradas e seus próximos e entes queridos. Que sua memória viva.

Amit Bhattacharyya

Calcutá, 25 de novembro, 2018."



A seguir, a homenagem original.

"
A Message in memory of my dear friend, Pimenta

It is really painful to know about the untimely departure of Pimenta from this world. I distinctly remember the first time I came to know him. My first trip to Brasil was made possible due to the kind invitation I received from the Universidade Federal Fluminense to talk at a conference on 'India: Historical and Social Reality' in August 2011. The trip proved to be not only educative, but enriching and exciting, too, for me. One has to go through it in order to believe it. The warmth, friendship and love of the people of Brasil that I received will live deep in my memory. 

The day I landed at Galeao airport, Rio de Janeiro from Sao Paulo past midnight on 3 August 2011, I came to know about an ongoing strike launched by the school teachers. My friends--Raquel, Pimenta and Fatema had been waiting to receive me at the airport. It was Pimenta who drove the car to Nazira'a place. On the way, I noticed steel walls on both sides of the road, and on enquiry I came to know that those walls were erected to hide slum areas from public gaze.That was my first acquaintance with Pimenta and the poor people of Brasil. Pimenta appeared to me as a man in his mid-'40s, handsome, well-built and very jovial in temperament.

Since then, Pimenta had been my companion on many occasions--in seminars, visits to the Copacabana beach, driving cars and drinking Caipirinha Cachhaca in the restaurant. Once he nicely told me, "Amit, you know good Portuguese", when my knowledge was limited to "Bom Dia" and "Obrigado".

The last time I visited Brasil in 2016 I stayed in his place at Rio for a few days. I shared many happy moments with him, his son, Raquel and others. That time too, and for the last time, he drove me to the airport to see me off. 

The people of Brasil, as I understand, have been going through difficult times and striving to turn bad into good. They have been fighting against injustice, exploitation, humiliation and repression for the creation of a new democratic society where human values would triumph over the greed for profits. It is a struggle worth fighting for. Pimenta was a brave participant in that noble struggle in the cause of the people. One can also feel the pain and suffering that he had to go through during his period of illness.

Let me pay my respectful homage to his memory and convey my condolence to his son, his comrades and near and dear ones. May his memory live on.

Amit Bhattacharyya
Kolkata, 25 November 2018."

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