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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

 

LCP denuncia ataque aos Pataxó na Bahia e demarca resistência no Acampamento Mãe Bernadete.




Reproduzimos abaixo uma importante declaração enviada pela Liga dos Camponeses à Redação de AND sobre o recente ataque do grupo “Invasão Zero” ao povo Pataxó Hã Hã Hãi, na TI Caramuru-Catarina. O documento também traz atualizações sobre o Acampamento Mãe Bernadete. A nota pode ser acessada na forma de panfleto aqui.


Liderança indígena é espancada e assassinada por latifundiários no sul da Bahia 

Contra os bandos armados do latifúndio: o direito de legítima defesa armada dos Povos Indígenas, Camponeses e Quilombolas!

Bandidos armados denominados “movimento invasão zero” formado por latifundiários, pistoleiros e policiais avançam na Bahia com cobertura da PM. No dia 21 de janeiro a indígena Maria de Fátima Muniz, conhecida  como Nega Pataxó, pajé do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe foi assassinada a tiros na Terra Indígena Caramuru Catarina Paraguassu e o cacique Nailton Muniz foi gravemente ferido a tiros, como também outros indígenas  durante ataque do famigerado grupo paramilitar. 

Além disso, o bando de mais de 200 latifundiários que se organizaram e prepararam o ataque, ateou fogo em 2 carros e outros pertences dos indígenas. Um jovem pataxó que resistiu ao covarde atentado, absurdamente foi levado preso pela polícia militar, a mesma que deu cobertura à aquela ação criminosa e covarde, como comprovam os vídeos. 

Os bandos armados do latifúndio atuam por dentro do velho Estado brasileiro 

A Bahia tem a segunda maior população indígena do Brasil, mais de 90% dela vive fora dos seus territórios, sendo o estado que tem uma das maiores concentrações da propriedade de terras do Brasil. No país, praticamente não há demarcação de terras indígenas e territórios quilombolas e igualmente nenhuma política de  Reforma Agrária, e o governo alega que não tem recursos para a mesma. Enquanto isso liberou 364 bilhões em 2023 para o plano safra do agronegócio. 

A extrema-direita latifundiária que se institucionalizou neste velho Estado, organizou, armou e se  fortaleceu durante o governo Bolsonaro segue atuando livremente e encorajada pelo acovardamento do governo, particularmente na Bahia. A aprovação do marco temporal representa um golpe para os povos  originários e fomenta ainda mais estes ataques. Em dezembro de 2023 o cacique pataxó, Lucas Kariri Sapuyá de 31 anos foi assassinado a tiros numa emboscada no mesmo território indígena. Em agosto do  ano passado a liderança quilombola Mãe Bernadete Pacífico foi assassinada com 14 tiros na cabeça. 

Por todo o país, são centenas de atentados contra os povos indígenas, camponeses e quilombolas e suas lideranças e como no recente caso, muitas vezes, a polícia atua para dar cobertura aos bandos armados do latifúndio, ameaçando, intimidando e desarmando as comunidades. Além disso, há várias denúncias da atuação de policiais diretamente nestes bandos paramilitares fortemente armados, junto com pistoleiros, através de empresas de segurança privada que armam, treinam, financiam e comandam os grupos de extermínios, como o que assassinou Mariele Franco. 

O governador da Bahia Jeronimo Rodrigues anunciou agora a criação de uma companhia da PM para “mediar”  os conflitos agrários no Estado. Veja bem, a polícia que mais mata pobre favelado e preto no Brasil; a polícia  que virou as costas, fingindo não ver o bando de latifundiários armados até os dentes anunciando que iria atacar  os Pataxós; agora terá a incumbência de “mediar” os conflitos agrários! Não. Definitivamente não é isso que os  camponeses, quilombolas e indígenas na Bahia precisam para viver e trabalhar em paz nas suas terras. 

Cacique Nega Pataxó: Presente na Luta! 
Viva as retomadas e autodemarcação das terras indígenas!

Acampamento Mãe Bernadete resiste 

O Acampamento Mãe Bernadete em Carinhanha,  formado por posseiros que vivem nas terras  abandonadas pela Calsete há mais de 20 anos vem  resistindo e denunciando a atuação destes bandos  de criminosos que envolvem pistoleiros, policiais,  madeireiros, fazendeiros, empresários e até o  advogado (este teria recebido como promessa de  pagamento uma parte das terras griladas, onde  vivem as famílias) que descaradamente usa sua  influência com o judiciário na cidade e relações  familiares para intimidar e ameaçar as famílias e  faz questão de se colocar ridiculamente à frente das operações de despejo, inclusive cortando arames. 

De janeiro do ano passado até esse ano o juiz da  Vara local já emitiu 3 ordens de reintegração de  posse contra as famílias e realizaram duas  operações policiais de despejo, conjunta com  pistoleiros. As famílias voltaram e reafirmaram a  convicção de que as terras da Lagoa dos  Portácios, que estão embargadas por crimes  ambientais da Calsete, são dos camponeses, que  se mil vezes forem retiradas, mil vezes voltarão  porque ali é onde nasceram, cresceram e sempre viveram! 

A Calsete, através do seu gerente Lineu  Fernandes, comanda diretamente uma base de  operações construída naBR 030 após a tomada  das terras, gasta rios de dinheiro tentando  recrutar gente na cidade e região, falsamente 

para serem guardas patrimoniais, mas que logo descobrem que na verdade estão sendo  agenciadas para pistolagem. Muitas pessoas  pobres do povo não aceitam servirem como  bucha de canhão e dispensam logo a covarde  empreitada, outras vão arriscando seus  pescoços por gente rica que se lixa para a vida  do povo. E há aqueles que se acham com as  costas quentes, estrumes que sempre  exploraram e pisaram no pescoço do povo para acumularem bens, servindo aos velhos coronéis. 

Repudiamos mais uma campanha em curso para tentar intimidar e criminalizar as famílias de posseiros. Vários camponeses estão sendo intimados a prestarem depoimento na delegacia da cidade, sob acusação de cometerem crimes,  sendo pressionados e ameaçados na tentativa de  

criminalizar e individualizar uma causa coletiva. Quando na verdade os crimes são cometidos pela Calsete e seus agentes. 

O Risco que corre o pau, corre o machado 

O que todos os verdadeiros democratas podem compreender tomando a história de nosso país e a luta do nosso povo contra a violência secular do latifúndio é que mais do que nunca, os indígenas, quilombolas e camponeses, na luta por seus direitos, na defesa de suas lideranças, seus familiares e parentes, de suas terras e territórios sagrados, e do seu direito de viver em paz devem aplicar o seu legítimo direito à autodefesa que só pode ser garantido pelo próprio povo em luta, organizado e unido. 

Não há outro caminho para o povo enfrentar a ofensiva reacionária que promove as chacinas nas favelas das cidades e que no campo aponta para maior violência contra os indígenas, quilombolas e camponeses, maior criminalização da luta pela terra, mais despejos, nenhuma reforma agrária, zero demarcações, maior cobertura e impunidade dos crimes do latifúndio. 

A resposta deve ser tomar todas as terras do latifúndio, maior organização e preparação para responder à altura os ataques e barrar os crimes do latifúndio. Este é o caminho da Revolução Agrária, que entregará terra para todos os pobres do campo! 

Viva a Revolução Agrária! 
Viva o Acampamento Mãe Bernadete! 

Palestina Resiste! Palestina Triunfará! 

Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia





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