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domingo, 22 de março de 2015

Monopólio de Imprensa e a Libertação de Caio e Fábio

Os monopólios de imprensa não eram os únicos com motivos e baixeza moral para celebrar como abutres a trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade. Agiam em nome dos gerentes de Estado, dos empresários de ônibus, e todos os tipos de reacionários que se viam incomodados com a rebelião da juventude. Enquanto encenavam lamentos cínicos sobre a tragédia, os telejornais e apresentadores de programas policiais,tentavam transformar o acidente em homicídio, e em assassinos cruéis os dois jovens, que como muitos outros lutavam contra o aumento das passagens e defendiam a si e aos demais dos ataques furiosos da Polícia de Sérgio Cabral. Em pouco tempo, antes de qualquer tribunal e sem qualquer direito de defesa, os monopólios de imprensa já haviam sentenciado os jovens Caio Silva e Fábio Raposo como culpados por “homicídio doloso, triplamente qualificado”. O que pretendiam condenar, na verdade, era o direito a manifestação, o direito da juventude e do povo lutar contra as injustiças do Estado.

Desde junho de 2013, no início do levante popular que se espalhou pelo país, a Globo e seus genéricos, impressos e televisivos, orquestraram uma campanha para criminalizar e estigmatizar manifestantes e estancar os protestos. Fracassados tiveram que refazer seus discursos quando viram que cada vez mais pessoas iam às ruas. Passaram então a adotar o discurso de "defensores" das manifestações, utilizando de todo seu aparato midiático para tentar dirigir os protestos e transformá-los em atos cívicos, vazios de pautas populares. Além disso criaram a figura dos "vândalos infiltrados" para justificar a violência policial. Fracassaram mais uma vez. No dia 20 de junho de 2013, mais de 1 milhão foram as ruas só no Rio de Janeiro e mais outros milhões pelo Brasil. Nesse dia, mais uma vez ficou claro para quem ainda duvidava, que quem comparecia aos protestos para atacar o povo era na verdade a Polícia Militar e os próprios monopólios de imprensa, uns com bombas, balas, caveirões e cassetetes e outros com manipulações e mentiras repetidas mil vezes em rede nacional.

A revolta popular seguiu altiva por meses, mesmo sob violentos ataques da polícia, prisões em massa, manifestantes mortos e mutilados pela polícia (inclusive jornalistas). Depois de fracassar por meses na tentativa de igualar a juventude combatente a terríveis criminosos, Globo, Dilma, Cabral, Pezão, Polícia Civil, Ministério Público e toda sua cruzada anti-povo, usaram a morte acidental de Santiago Andrade para reavivar sua campanha criminalizadora.

Outras Mortes e o Silêncio que Interessa ao Estado

Outras lamentáveis tragédias como a do cinegrafista não tiveram a mesma comoção televisiva. O ator Fernando Cândido, o Fernandão, internado com problemas respiratórios depois de inalar gás lacrimogênio no dia 20 de junho, acusou em vídeo a polícia de Sérgio Cabral pela sua complicação de saúde que o levou a falecer dias depois. Em apenas um dia de protesto na Maré em 2013, a Polícia Militar do Rio de Janeiro matou 9 pessoas, dentre elas o garçom Eraldo Santos da Silva, de 35 anos, alvejado com tiro de fuzil. O autor do disparo não foi identificado, segundo o delegado Rivaldo Barbosa, da Delegacia de Homicídio. O projétil que serviria como prova desapareceu. Para esses mortos os telejornais não fizeram o alvoroço nem o também merecido minuto de silêncio dado a Santiago Andrade, mas fizeram sim, um silêncio absoluto. 


 

Essas mortes não foram acidentais como a de Santiago. Um policial treinado que ao disparar uma arma de grosso calibre onde moram milhares de pessoas e leva alguém a morte, o faz deliberadamente, da sua parte e do seu comando. Isso sim é dolo, é assassinato! As declarações do então comandante do Batalhão de Choque Fábio Souza de Almeida, que comandava o batalhão de Choque, defendendo o nazismo quando se referia a repressão a manifestações, dizendo: “mata eles tudo”, “Porrada, paulada, tonfada, fuzilzada, mãozada”, não deixam dúvidas sobre as intenções criminosas vindas do alto comando da PM, parabenizado e promovido por Sérgio Cabral. Fernandão e os mortos da Maré foram algumas das suas vítimas. Desses assassinatos por policiais citadas, 6 foram consideradas como os famigerados "autos de resistência"!! As outras investigações não tiveram qualquer conclusão. Não houve, porém, o clamor midiático por punição ou mesmo para que se encontrassem os culpados. Não houve nada! E nada se ouviu, nem nos programas que só tratam de assuntos policiais do rádio e da TV. Afinal para eles a vida de pessoas pobres não tem valor nenhum, nada comparado a vidraças de bancos quebradas, ou ônibus queimados.

A Legitimação do Terrorismo de Estado e a Legítima Defesa

Foto falsamente atribuída a DG foi amplamente divulgada na TV e internet.

O que se ouviu na televisão sobre o assassinato do dançarino DG, do programa Esquenta, não citava uma única vez a palavra punição ou se falava de investigar os culpados.  Ao contrário, a busca realizada pelos "justiceiros" sensacionalistas em muitos programas de TV, era por qualquer coisa que pudesse ferir  a imagem do dançarino. Mesmo sendo ele uma figura publicamente conhecida pelo seu trabalho, tentaram pintá-lo como bandido, como se assim justificasse seu assassinato e limpasse a imagem assassina das UPPs, assim como foi feito no caso Amarildo.

Polícia reprime com violência manifestação contra morte de DG
Diferente das cenas repetidas exaustivamente de Caio Silva e Fábio Raposo durante o ato contra o aumento das passagens, apenas quase um ano depois apareceram as imagens de uma câmera de vigilância do dia em que moradores do Pavão-Pavãozinho protestavam contra o assassinato de DG. Na gravação, o policial Hebert Nobre Maia atira em direção ao protesto. Depois de vários disparos do policial , o corpo de Edilson da Silva Santos, 27, é carregado por vizinhos, alvejado com um tiro na cabeça.  O policial declarou em depoimento que tinha visão completa do local para onde atirava. Assim mesmo tendo visto Edilson sem representar perigo, acertou o rapaz na cabeça. O jovem tinha problemas mentais e segundo sua mãe sempre que via um policial levantava os braços, exatamente como relataram testemunhas. No dia 19 de março de 2015 o mesmo Tribunal de Justiça que manteve Caio e Fábio presos, por mais de um ano sem julgamento, arquivou o processo contra o policial considerando disparar contra um protesto e matar Edilson, como legítima defesa, ao contrário do que é claramente mostrado pelo vídeo.


Tasnan Accioly atropelado enquanto fugia das bombas da PM
E por falar em vídeos e câmeras, onde estão os vídeos gravados por Santiago Andrade no dia de sua morte? A única coisa que sabemos é que ele não filmava a "violência dos manifestantes", mas a tropa de choque da PM. Nesse mesmo dia a ação policial na manifestação, ocasionou outra morte. O vendedor ambulante Tasnan Accioly de 65 anos foi atropelado por um ônibus, enquanto corria das bombas jogadas pela PM para dispersar aglomerações durante o ato na Central do Brasil. Para Caio e Fábio que se defendiam dessa polícia muito bem armada e conhecida pela sua violência, o judiciário não considerou legítima defesa.



Condições de Trabalho e Repressão a Operários e Camponeses

Infelizmente Santiago não é o único morto no Brasil enquanto exercia sua profissão, sem os devidos equipamentos de proteção que deveriam ser dados pelos seus empregadores (nesse caso a Rede Bandeirantes). Nas obras da Copa pelo menos 8 operários foram mortos na corrida para deixar os estádios prontos para o evento da FIFA. Nas obras do PAC incontáveis trabalhadores perderam suas vidas. Só nas obras da usina e linhas de transmissão de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, 41 operários morreram entre 2010 e 2014. Esses não tiveram os pesares de Dilma Rousseff, mas seus colegas que reivindicavam melhores condições de trabalho receberam do governo federal a repressão vinda das tropas da Força Nacional de Segurança e passaram a trabalhar sob a mira de fuzis. Depois de Greve e protestos em 2012, em Jirau, 24 operários respondem a processos criminais, dos quais 10 estão desaparecidos.

Corpo de operário é retirado da obra do Itaquerão, em São Paulo

Na luta por terra, camponeses são seguidamente torturados e assassinados pelos pistoleiros do latifúndio. Sua luta é criminalizada enquanto a concentração de terras no Brasil vai se transformando na maior do mundo. O latifúndio matador vai para o ministério, tempos depois de serem considerados “heróis” por Luiz Inácio, como senha para a impunidade no assassinato de lideranças camponesas.

A herança do regime militar e a morte de Vladimir Herzog.

Quando o assunto é repressão não existem divergências entre o governo do PT e a Rede Globo. Em hipocrisia os dois também se igualam. Enquanto o "Partido dos Trabalhadores" coloca suas tropas contra a luta dos trabalhadores, a Rede Globo, maior oligarquia de imprensa do país, tenta se colocar como a defensora da livre imprensa, e a imprensa como maior símbolo da democracia. Mas o monopólio de imprensa é exatamente o inverso da imprensa livre e democrática. Todos sabem do papel da Rede Globo em apoio ao regime militar. Dentre os muitos crimes da Globo em colaboração com os militares, um se destaca por demonstrar como é falso o corporativismo do jornalismo global com trabalhadores do ramo, como no caso de Santiago. Em outubro desse ano se completarão 40 anos do assassinato do jornalista da TV Cultura Vladimir Herzog por torturadores militares. Por todos esses anos a Globo acoberta seus assassinos,como de muitos outros, tendo inclusive na ocasião, divulgado e defendido a descaradamente mentirosa versão de que Herzog teria se enforcado, quando uma foto deixava claro que o suicídio seria impossível. Nesse ano em que se completam 4 décadas de impunidade do caso, mais do que nunca Herzog deve ser homenageado e também cobrada a punição de seus assassinos e de todos os torturadores. Mas o que a Globo tem feito é exaltar movimentos que pedem o retorno do regime militar.

Ocupação militar do Complexo da Maré pelo Exército
E não é só os saudosistas do regime militar que ganham destaque. As intervenções militares que ocorrem hoje a mando do governo PT também recebem apoio televisivo e nas capas de jornais. Seja pela exaltação da militarização de favelas ou pela omissão de crimes, que vão desde casos como do massacre das forças da ONU comandadas pelo exército Brasileiro em Cite Soliel, no Haiti, até dos mortos pelo exército na Maré.



A Legalização do Fascismo e Sua Sanha Criminalizadora

É com esses mesmos interesses, de incentivar a escalada do fascismo, que os monopólios de imprensa se juntaram com Ministério Público, Polícia Civil, Cabral, Pezão e Dilma Rousseff para prender manifestantes e criminalizar movimentos sociais em luta. Comissões especiais de repressão foram criadas pelos governos federal e estadual. Cabral tentou emplacar a famigerada CEIV, que dava carta branca às polícias para prender sem mandado, invadir casas, suspender garantias constitucionais, etc. No Congresso se juntaram os “esforços” para aprovar a lei “Anti-terrorismo”. Usaram a prisão de Caio e Fábio como espetáculo midiático, para defender a “importância” dessas novas leis.

Bette Lucchese com polícia civil e advogado Jonas Tadeu interrogam Caio Silva
Com apoio inclusive do então advogado, arranjado às pressas para os dois rapazes, Jonas Tadeu, a polícia e Rede Globo vão prender Caio Silva em rede nacional. Esse advogado, que advoga para milicianos, convence Caio a dar entrevista para Bette Lucchese da Globo, já escorraçada nas ruas, forçando-o a assumir ter acendido o rojão. Depois, mesmo estando presos, Caio e Fábio foram, mais uma vez, envolvidos em outro processo contra movimentos sociais, junto a outros 21 ativistas que eles nem ao menos conheciam, mas segundo a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), o DOPS da atualidade, e o Ministério Público do Rio de Janeiro, faziam parte da mesma “quadrilha”. Esse processo contra 23 ativistas também tem os monopólios de imprensa como promotores de acusação! Acusam às manifestações populares e às organizações que lutavam em 2013 e durante a Copa da Fifa, como a Frente Independente Popular (FIP). Em algumas das audiências desse processo, por ordens do Juiz Flávio Itabaiana, familiares de processados e presos políticos ficaram de fora enquanto os monopólios de imprensa tiveram total acesso a todas as audiências, usando como queriam as imagens e informações, inclusive espalhando mentiras e difamando os acusados. 
 

A defesa dos ativistas derrota monopólios da imprensa mais uma vez.

Mesmo com todo peso jogado nessa orquestração incriminatória, a defesa dos acusados tem conseguido vitória atrás de vitória, mostrando o caráter político desses processos. Uma dessas vitórias foi a libertação de Caio Silva e Fábio Raposo. Depois de mais de um ano de lutas pela libertação dos dois jovens e de denúncia do absurdo que era a acusação por homicídio doloso, triplamente qualificado, o movimento popular pode finalmente comemorar. O esperneio dos monopólios de imprensa e do Ministério Público tentando impor sua sentença de nada servirão, pois a juventude combatente já avisou: “Não tem arrego!”. A luta continuará pela liberdade de Igor Mendes, Rafael Braga, Karlayne Maraes, Elisa Quadros e pelo fim de todos os processos políticos.

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