Passados dez anos, a relevância das Jornadas de Junho de 2013 é fato indiscutível. Pode-se condenar ou defender as manifestações, mas todos concordam que o Brasil não foi o mesmo desde então, num dos raros consensos em uma sociedade tomada de antagonismos como a nossa. Por isso, Junho Febril se apresentava como um livro que precisava ser escrito, no esforço de unir o que comumente ocorre em separado: a participação em um grande evento e a sua interpretação. Pelas vozes de Navalha, um jovem morador do Jacarezinho, espécie de revolta personificada; Flávia, ou Ventania, uma artista que ganha a vida cantando em vagões e praças, à espera da oportunidade para alçar voos maiores; Apê, um estudante de Direito, filho de advogados, que acredita, como os seus pais, que o Brasil está enfim progredindo, mergulhamos em um diário que abrange de 31 de maio a 30 de junho de 2013, e retrata os principais acontecimentos daquelas semanas febris em que o extraordinário fez-se cotidiano. Neste período, as três personagens terão suas convicções, esperanças e frustrações postas à prova, assim como o pequeno universo de astros menores que orbitam ao seu redor, que se amplia à medida que o movimento nas ruas cresce. Assim, é como se arrancássemos de Junho de 2013, no calor das horas, uma confissão de si mesmo. O próprio encontro, fortuito, lá pelas tantas, de Navalha, Flávia e Apê (bastante improvável em qualquer outro contexto) funciona como um dínamo que dispara novas tensões e reflete luminosidade sobre áreas antes cinzentas de cada um deles – e sobre os velhos dilemas brasileiros. Se o leitor partilhar, ao menos, algum daqueles conflitos, ou alegrias, já o trabalho não terá sido em vão.
“Igor Mendes dá vida a personagens complexos que, com dúvidas e certezas, transcendem as suas singularidades. Assim, o que nos é oferecido neste denso romance é uma brilhante reflexão acerca do nosso presente – e uma contribuição para pensarmos sobre o nosso futuro.” – Luiz Ruffato
Sobre o autor
Igor Mendes é professor e escritor. “Junho Febril” é seu terceiro livro. Antes, publicou “A pequena prisão” (n-1, 2017) e “Esta indescritível liberdade” (Faria e Silva, 2020, finalista do Prêmio Jabuti).
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