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segunda-feira, 9 de maio de 2022

1 ANO DA CHACINA NO JACAREZINHO: Mães e familiares de vítimas do Jacarezinho reúnem forças diante do luto e realizam um ato de luta e homenagem aos seus filhos e familiares

 


Mães do Jacarezinho

Foto: Rafael Daguerre

Na data em que completa um ano da segunda maior chacina da história do Rio de Janeiro, as mães e familiares de vítimas do Jacarezinho reúnem forças diante do luto e realizam um ato de luta e homenagem aos seus 27 filhos e familiares, brutalmente assassinados pelo Estado. Ao mesmo tempo, em uma ação de puro escárnio diante do sofrimento dessas famílias, o Ministério Público (MP) decide pelo arquivamento de dez das treze investigações que foram abertas pelo órgão para apurar as mortes cometidas nessa operação. Cabe destacar que as investigações não contemplavam a totalidade das execuções cometidas pelas forças policiais, abrangendo apenas 24 das mortes que ocorreram no dia da operação.

Como resultado dessas “investigações”, o MP alega que os policiais agiram em legítima defesa, mesmo afirmando que a perícia foi prejudicada pela remoção dos corpos por parte de policiais, e também por não terem sido realizados exames para constatar a presença de pólvoras nas mãos dos mortos. Afinal, foi essa mesma imperícia que o órgão considerou para o arquivamento.

Perante a ineficácia e alta letalidade de operações e incursões como essa, as forças policiais e autoridades se limitam a dizer que os moradores mortos tinham antecedentes criminais, como forma de justificar suas mortes. Assim como o vice-presidente Hamilton Mourão, que declarou “Tudo bandido”, ao referir-se às vítimas, o governador Cláudio Castro e a polícia civil qualificaram a dita operação como “trabalho de inteligência”, desconsiderando completamente as inúmeras evidências de execuções extrajudiciais.

Denúncias de moradores, de entidades de Direitos Humanos e da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, relatam inúmeras violações de direitos, invasões de residências, extrema violência armada e o desfazimento das cenas de crimes por parte dos agentes policiais para impedir o trabalho da perícia. Muitos são os relatos de testemunhas que presenciaram pessoas que morreram tentando se entregar para a polícia, bem como, policiais invadindo residências para buscar e executar a facadas, na presença de mulheres e crianças, pessoas feridas que buscavam abrigo. Testemunhas falam sobre policiais impedindo qualquer prestação de socorro e removendo corpos de pessoas mortas com evidente intuito de impossibilitar a perícia. Além disso, os agentes também estavam encapuzados e não usavam qualquer identificação. 

Um ano após essa barbárie, mães e familiares de vítimas de terrorismo de Estado do Rio de Janeiro, enfrentando a dor mais profunda, reuniram-se nesse dia 06 de maio no Centro Cultural do Jacarezinho, organizando-se com muito esforço para acolher e abraçar umas às outras, aos familiares e crianças da comunidade e aos apoiadores que estiveram presentes.

Nesse ato foi possível testemunhar a enorme solidariedade e clareza que o povo tem acerca do caráter genocida e fascista das ações do Estado policial militarizado, que atua por meio de seus órgãos para legitimar a letalidade e a impunidade das ações policiais, justificando as mortes do povo nas favelas e periferias. Como disseram várias mães na ocasião: “A polícia aperta o gatilho, mas o Ministério Público e o Judiciário continuam matando nossos filhos com a caneta.”

Nos solidarizamos com os moradores da favela do Jacarezinho e de todas as favelas, que mesmo sob o terror imposto pelas forças policiais continuam se organizando e indo às ruas para protestar contra a covardia a que estão submetidos. Ao transformar seu luto em luta, as mães e familiares lutam por todos os filhos, de todas as favelas, denunciando o terrorismo desse Estado que trata o povo como inimigo interno, legitimando suas mortes. Apoiamos todas as iniciativas que surjam para denunciar os crimes contra a população das favelas do Rio de Janeiro e defendemos o direito do povo se organizar e produzir com a sua luta formas de garantir seus direitos, especialmente o mais elementar que é o direito à vida.

Convocamos todas as entidades democráticas e progressistas a se manifestarem contra esse crime de estado e contra a impunidade, exigindo a reabertura das investigações e a punição aos mandantes e executores desta barbárie cometida contra o povo trabalhador.

Não serão esquecidos os 27 moradores mortos:

Omar Pereira da Silva, 22 anos; Caio da Silva Figueiredo, 17 anos; Rômulo de Oliveira Lúcio, 30 anos; Matheus Gomes dos Santos, 21 anos; Francisco Fabio Dias Araújo Chaves, 25 anos; Cleyton da Silva Freitas de Lima, 26 anos; Diogo Barbosa Gomes, 28 anos; Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos; Evandro da Silva Santos, 49 anos; Bruno Brasil, 39 anos; Tony da Conceição, 30 anos;  Isaac Pinheiro de Oliveira, 23 anos; Wagner Luis de Magalhães Fagundes, 38 anos; Natan Oliveira de Almeida, 21 anos; Rodrigo Paula de Barros, 31 anos; Maurício Ferreira da Silva, 28 anos;  Marlon Santana de Araújo, 23 anos; Jonas do Carmo Santos, 32 anos; Márcio da Silva Bezerra, 43 anos; Jonathan Araújo da Silva, 18 anos; John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos; Carlos Ivan Avelino da Costa Junior, 32 anos; Raí Barreiros de Araújo, 19 anos; Guilherme de Aquino Simões; Pablo Araújo de Melo, 21 anos; Pedro Donato Santa’ana; Luiz Augusto Oliveira de Farias, 40 anos.

Foto: Rafael Daguerre

Abaixo o terrorismo de Estado!

Pelo fim imediato das operações, ocupações e da farsa do programa Cidade Integrada nas favelas do Rio de Janeiro!

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